Magreb
em árabe é o nome da última das cinco orações diárias que todo muçulmano deve
fazer, portanto a do pôr do sol. E é também a denominação dada ao noroeste da
África, região que contempla Marrocos, Argélia, Saara Ocidental, Tunísia, Líbia
e a Mauritânia. O nome deriva exatamente da ideia de que ali seria o último
lugar onde o sol se poria dentro do Império Árabe que possuía vastas extensões
desde sua origem na Península Arábica até a Península Ibérica.
A
história que vou contar aqui se refere exatamente ao último país citado, a Mauritânia,
mas há práticas nesse lugar que remontam aos tempos do califado. Última nação a
abolir a escravidão no mundo, apenas em 1981, a prática só se tornou crime no
ano de 2007. Ainda assim, como não faltam exemplos, inclusive nosso próprio
país, o simples fato de proibir não indica necessariamente que mais ninguém
será escravizado no local. Além disso, as fraturas sociais criadas entre
aqueles que mantinham seres humanos como posse e seus subordinados são
dificílimas de serem rompidas, o que também é verificado em diversos lugares.
Sendo
assim, 40% da população da Mauritânia, composta por negros, tem uma importante
parcela deste grupo ainda servindo como escravos, evidentemente de uma pequena
parte, da maioria árabe-berbere, como de maneira simplificada são chamados os
brancos naquela região. Estimativas indicam que dos 3,5 milhões de habitantes
que a Mauritânia possui, de 10 a 20% deles trabalham em regime de escravidão,
mesmo que não comprovada por organizações internacionais nas quais esse número é de
4%, de longe o maior no mundo.
Pouquíssimos
negros ocupam cargos de comando e as prisões por conta do crime de escravidão são poucas e
sequer costumam cumprir a pena mínima de 10 anos estabelecida. Na prática
filhos de escravas seguem sendo escravos e o Partido Abolicionista (sim, no
século XXI) tem seu líder perseguido e frequentemente preso. O país não é tão
pobre em relação às condições de outros no Oeste da África, mas a segregação
cria grandes bolsões de pobreza principalmente para os negros.
O sol há
de se pôr na Mauritânia e essa prática por pressões internas e externas deve
pelo menos ser muito reduzida na próxima década. Mas o que vem disso? Jovens pobres
e frustrados em um país com poucas opções, cenário perfeito para a ascensão de
grupos radicais que seguem uma versão distorcida do Islã. O vizinho Mali com
sua Al Qaeda do Magreb Islâmico e o Boko Haram são grandes exemplos de um
futuro que pode aguardar a Mauritânia se nada for feito.
Árabes
de uma elite subjugando negros em um regime ditatorial? É o que
simplificadamente também explica a terrível guerra civil que o Sudão vem enfrentando
há anos, e se nessa década o assunto ficou fora das manchetes, não é porque a
situação ficou melhor. É preciso muita ajuda da comunidade internacional para
resolver essa delicada situação. Mas enquanto houver escravidão nesse lugar, o
mundo nunca pode achar que o sol de fato se pôs no Magreb.