Era o
momento que todos aguardavam. O começo de 2011 trazia o fim da corrupção, da
repressão, e da falta de liberdade que atormentaram o Egito pelas quase três décadas de Hosni Mubarak no comando. Era mais um reflexo da
Primavera Árabe, que tirou o poder de Ben Ali na Tunísia e representava a
esperança para o Oriente Médio.
Os meses
que seguiram a saída de Mubarak, claramente não foram fáceis, como nunca é fácil reerguer um país depois que uma figura política tão importante sai do poder. A junta
militar que assumiu o Egito foi acusada de reprimir diversas manifestações
que tomavam conta do Cairo e se concentravam principalmente na tradicional Praça Tahrir.
Os
analistas não viam o cenário político como ideal para a realização das
primeiras eleições da história do Egito, já que os anos de repressão não haviam
possibilitado a ascensão de nenhum grupo político forte, restando assim apenas
a Irmandade Muçulmana como real expressão política do país. O grupo, que já
entrou na ilegalidade algumas vezes desde a sua fundação em 1928, é baseado no
Islã Político, e era visto como uma ameaça às liberdades religiosas
principalmente dos quase 20% de cristãos que vivem no Egito.
A força
da Irmandade Muçulmana, um dos principais partidos islâmicos do mundo, aliada a
ansiedade pelo primeiro pleito eleitoral da história egípcia, levou a população ás urnas no
ano de 2012 mesmo com os diversos avisos de que o país não estava pronto. O resultado das apressadas eleições foi o de uma abstenção próxima de 50%, e o candidato
Ahmed Shaqif, que fazia parte do governo deposto de Hosni Mubarak, perdendo as
eleições por uma margem muito pequena para o candidato da Irmandade Muçulmana,
Mohamed Mursi, demonstrando assim a enorme falta de representação dos egípcios com o pleito.
Aqueles
que apoiavam o partido islâmico, apoio pelo qual muitos foram inclusive presos nos anos de Mubarak, viam na vitória eleitoral o começo de um novo
Egito. Do outro lado se
encontrava aqueles que acreditavam em um país secular, e que temiam o que o governo de Mursi poderia trazer.
Pouco
tempo depois, e os opositores da Irmandade Muçulmana se mostraram certos. O fato
de o governo de Mursi ir contra tradicionais aliados egípcios, em especial os EUA, por
conta seguir um caminho iraniano: fortalecendo relações com grupos considerados terroristas pelo Ocidente, como o Hamas e o Hezbollah, complicou a situação do país. O Egito se deteriorou economicamente e perdeu apoio
internacional.
A
situação complicada do país veio acompanhada de uma enorme centralização do
poder por Mursi, para muitos maior que a dos tempos de Mubarak, o que lhe
rendeu a alcunha de faraó. O governo religioso tirou diversos direitos dos
cristãos e reprimiu violentamente aqueles que se manifestaram contra.
O
cenário foi se deteriorando até que em 2013, seculares muçulmanos, cristãos,
membros da Irmandade Muçulmana que não concordavam com o governo, e boa parte
das outras camadas da sociedade egípcia, se juntaram para manifestar contra o
Mursi. Os protestos se arrastaram e as estimativas dão conta que o ápice destes
mobilizou cerca de 25 milhões de pessoas (alguns dados apontam até 40 milhões)
nas ruas do Egito, o que é considerado a maior manifestação da história e
surpreende ainda mais ao se levar em conta que se trata de um país com 90
milhões de habitantes.
A
pressão tirou Mohamed Mursi do poder, mas não resolveu os problemas do Egito. O
que se seguiu foi a chegada ao poder do militar Al-Sisi, que enfrenta avanços do
Estado Islâmico na Península do Sinai e tem uma deterioração de suas relações
com os EUA, por conta das negociações do programa nuclear iraniano. Assuntos do
nosso próximo post.
Obs: The Square, ótimo documentário do Netflix falando sobre os protestos na Praça Tahrir
Obs: The Square, ótimo documentário do Netflix falando sobre os protestos na Praça Tahrir
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