É bem
complicado falar sobre a política de um país em que o resultado de uma
investigação tem mais impacto do que as próprias peças do cenário. Soma-se a
isso a clara divisão criada no país desde as eleições do ano passado em que
comentários um pouco mais críticos ao governo podem levar a uma sentença de
golpismo e em contrapartida um elogio já é quase uma nota fiscal para
demonstrar que você foi comprado pela situação. Se alguém ainda não percebeu
isso, faça o seguinte exercício: abra uma notícia sobre política de um jornal
estrangeiro e leia os comentários. Há discussões e argumentos e poucas vezes vi
Angela Merkel ser chamada de vaca ou Isaac Herzog ser acusado de golpista.
Claro
que o cenário de crise política deriva em grande parte dos fracassos econômicos
recentes do Brasil e que enquanto inflação e desemprego estavam controlados, os
nomes do vice, do presidente da câmara e do ministro da Fazenda sequer eram de
fato conhecidos pela maioria. A partir do momento que uma eleição termina com a
oposição fortalecida e o mais alto escalão do governo sob suspeita em uma
investigação, o cenário se faz perfeito para a disputa pelo poder.
O PMDB
soube explorar isso muito bem, exemplo foi a articulação política ter ficado
com Michel Temer com menos de seis meses de novo governo. Uma movimentação que deixou claro que desta vez o partido seria protagonista. A presidência da
câmara foi a grande vitória do PMDB que se aliou a oposição e se impôs sobre um governo enfraquecido e que tinha cada vez menos apoio. Medidas de
grande apelo popular, junto a uma enorme quantidade de votações que dão a
impressão de que a câmara está de fato trabalhando, levaram a Eduardo Cunha uma
popularidade alcançada poucas vezes por alguém em seu cargo na história do
Brasil. Junto a isso, a alcunha de primeiro-ministro, que se fez cada vez mais
verdadeira com a apatia da presidente, o que levou a até comparações desta com a Rainha da Inglaterra.
Tudo
indicava que Cunha só esperava o momento certo para romper de vez com o
governo, e com sua enorme base de apoio, de fato se consolidar como a principal
força política do país, dominando a câmara enquanto a presidente ficava com uma
aprovação abaixo dos 10%. Eis que uma delação colocou o político em uma
situação complicada, com indícios de que teria recebido 5 milhões de dólares nos
esquemas que assolam o país. Cunha agiu rápido e rompendo sua ligação com o
governo, conseguiu uma manchete que ofuscou a acusação. Ainda assim a perda de
capital político foi enorme e boa parte dos quadros que o apoiavam
incondicionalmente não vão querer ter seus nomes ligados a um caso de
corrupção. É cedo para decretar seu fim político, ainda assim o
primeiro-ministro de sucesso meteórico vai ter que segurar suas aspirações por
um tempo.
Com o PT
se desgastando cada vez mais, a alternativa para muitos políticos com medo de
arranhar sua imagem foi atacar o partido, óbvio, criticando a corrupção e
ganhando apoio popular. Marta Suplicy encabeçou o movimento e inclusive rompeu
com o PT. Lula, visto como o Dom Sebastião brasileiro, na lenda o rei português
que retornaria depois de anos para salvar o país, cada vez mais se distância do
governo e já dá mostras de que pode se inspirar em José Mujica e criar uma
Frente Ampla de esquerda. Tudo isso, claro, contando que os resultados das
investigações permitam a carreira do Dom Sebastião tupiniquim, assim como seu
estado de saúde.
O
esgotamento do PT fragmentou o principal partido da oposição (a maior oposição
é interna, sem dúvidas), o PSDB vê 2018 como momento ideal para vencer as
eleições e evidentemente o quadro paulista liderado por Alckmin e Serra não
está satisfeito com o candidato natural do partido, Aécio Neves para as
eleições. A disputa interna pode dificultar a campanha do partido, assim como a
participação de um candidato do PMDB, que é praticamente garantida.
30%. Segundo a agência de classificação de risco Eurasia, uma referência no
mundo, essa é a chance de Dilma Rousseff não terminar o mandato. O número é muito alto
principalmente levando em conta que ainda faltam mais de três anos para a presidente.
A agência demorou muito para aumentar de 20% para 30% a possibilidade e há
grandes indícios políticos de que a oposição, apesar de resistência interna, se
movimente para um impeachment, e não,
isso não tem nada com golpe. Todo este cenário depende do prosseguimento das
investigações da Lava Jato e que CPI’s como a do BNDES não sejam abertas, já
que estas podem tornar tudo ainda mais complicado para o governo.
Há
chances para Dilma e o PT? Acredito que sim, apesar de vencer 2018 sem Lula ser
praticamente impossível, uma recuperação econômica pode colocar o partido a ser
de novo uma força importante, ainda que não para cargos majoritários. O
rompimento de Eduardo Cunha junto às denúncias ao deputado pode ter sido a
primeira boa notícia para os governistas em muito tempo. O fato é que 2018 está
muito longe e quando o juiz Sérgio Moro passa a ser uma figura mais ativa
politicamente que Dilma Rousseff e suas mandiocas, alguma coisa não está certa.
A justiça tem seu preço.
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