sexta-feira, 24 de julho de 2015

É a Economia, estúpido

O título é uma referência à campanha de Bill Clinton em 1992, que buscava mostrar que os problemas dos EUA no geral começavam com o mau momento econômico do país. No Brasil em 2014, excetuando aqueles que dizem não ver a crise e que vão achar tudo isso sem sentido, os problemas políticos não podem ser dissociados do difícil momento econômico que o país atravessa. Incompetência administrativa, gastos públicos excessivos e a corrupção aparecem como os principais vilões, mas há questões além dessas.
As dificuldades começaram a aparecer no meio do governo Dilma, um grande marco para entender como o desempenho econômico de um país é visto no estrangeiro são as referências a este na The Economist. Em meados daquele ano, uma capa da revista foi a do Cristo Redentor desgovernado no céu do Rio de Janeiro. Quatro anos antes, quando as medidas do governo viviam seu auge e como Lula disse, a crise financeira mundial havia atingido o Brasil apenas como uma “marolinha”, a capa da mesma revista era a mesma estátua, decolando. O interessante é que as mesmas apostas que salvaram o Brasil do momento delicado em 2008 nos colocaram neste.
Externamente o PT aplicou uma ousada aproximação com a China e um consequente distanciamento dos EUA, tradicional parceiro. A isso, somou-se a união entre os vizinhos que faziam parte do MERCOSUL, e que assim como o Brasil, possuíam uma estratégia de distância dos ianques. A estratégia deu certo durante o auge do crescimento chinês, salvou a Argentina da enorme crise de 2001, levou grande desenvolvimento social a Venezuela e Brasil e ajudou Paraguai e Uruguai. Vender principalmente commodities à China para sustentar sua invejável infraestrutura se mostrou um grande negócio. O problema é que os governos de imenso apelo populista não reinvestiram dinheiro em infraestrutura por aqui, deixando seus países altamente dependentes de vender matéria prima aos chineses.
Por outro lado no continente, Peru, Colômbia e Chile não deixaram de exportar para a China, ainda assim, sem o que ficou conhecido como “amarras do MERCOSUL”, estes países buscaram ampliar seu comércio, principalmente para o promissor mercado do Pacífico. Só para se ter uma ideia, o país que mais deve crescer este ano é Papua Nova-Guiné, com os assustadores 15%, sendo um bom representante do que investir nas economias pouco desenvolvidas dessa região do mundo pode render. Colômbia e Peru lideram com sobras o crescimento na América do Sul, com médias entorno de 4% de aumento no PIB nos últimos anos, enquanto vale lembrar que Brasil, Argentina e Venezuela beiram a recessão.
O ciclo de crescimento absurdo chinês começou a dar mostrar de estar saturado. Com a adesão da paupérrima Bolívia recentemente, o que restou no MERCOSUL para o Brasil foi uma Venezuela absolutamente arrasada pela baixa do petróleo, uma Argentina em grave crise, um Paraguai que sequer conta com saída para o mar. A melhor condição fica com o Uruguai, um país com uma população equivalente a da Grande Salvador e que não pode ser considerado um grande parceiro para sustentar a sétima economia do mundo.
Internamente, apostar em crédito fácil e concessões como a redução do IPI, resolveu em um primeiro momento. O Brasil não sofreu com o desemprego, as indústrias seguiram em um bom nível e o país não foi fortemente afetado. O problema é que não dá para apostar para sempre que a população seguirá comprando carros e os chamados eletrodomésticos da linha branca todos os anos, o que acarreta que em um momento de desconfiança como este, as compras começam a cair, o resultado é crise no setor e o enorme número de demissões a que assistimos diariamente.
Altas da taxa de juros e do dólar são dois dos principais remédios para o problema. Apesar de poder atrapalhar planos em curto prazo, é graças à desvalorização do real que não temos nem chances de virar uma Grécia. O fato da moeda grega não poder ficar mais barata, e, portanto as exportações ficarem mais competitivas, sem aprovação da Zona do Euro talvez tenha sido o grande vilão do atual momento grego. Os juros ajudam a atrair investimento estrangeiro, e usando o parâmetro dos principais veículos internacionais do assunto, o Financial Times e a The Economist, parece que o Brasil vai retomando a confiança. No começo do ano, o FT chegou a inclusive a publicar um artigo que listava dez motivos pelos quais Dilma não terminaria o mandato. Os elogios a Joaquim Levy, chamado de “Chicago Boy” por conta de sua formação acadêmica também são frequentes nas publicações.
A medida é difícil de aceitar, mas tem de ser a austeridade. Voltando ao começo do texto, realmente há enormes gastos no governo e só o corte de muitos podem colocar o país na reta do crescimento e trazer de volta a confiança internacional. O problema são os desdobramentos políticos disso e o que ainda não veio à tona. Assunto para logo.

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