O título
é uma referência à campanha de Bill Clinton em 1992, que buscava mostrar que os
problemas dos EUA no geral começavam com o mau momento econômico do país. No
Brasil em 2014, excetuando aqueles que dizem não ver a crise e que vão achar
tudo isso sem sentido, os problemas políticos não podem ser dissociados do
difícil momento econômico que o país atravessa. Incompetência administrativa,
gastos públicos excessivos e a corrupção aparecem como os principais vilões,
mas há questões além dessas.
As dificuldades
começaram a aparecer no meio do governo Dilma, um grande marco para entender
como o desempenho econômico de um país é visto no estrangeiro são as
referências a este na The Economist. Em
meados daquele ano, uma capa da revista foi a do Cristo Redentor desgovernado
no céu do Rio de Janeiro. Quatro anos antes, quando as medidas do governo
viviam seu auge e como Lula disse, a crise financeira mundial havia atingido o
Brasil apenas como uma “marolinha”, a capa da mesma revista era a mesma estátua,
decolando. O interessante é que as mesmas apostas que salvaram o Brasil do
momento delicado em 2008 nos colocaram neste.
Externamente
o PT aplicou uma ousada aproximação com a China e um consequente distanciamento
dos EUA, tradicional parceiro. A isso, somou-se a união entre os vizinhos que
faziam parte do MERCOSUL, e que assim como o Brasil, possuíam uma estratégia de
distância dos ianques. A estratégia deu certo durante o auge do crescimento
chinês, salvou a Argentina da enorme crise de 2001, levou grande desenvolvimento
social a Venezuela e Brasil e ajudou Paraguai e Uruguai. Vender principalmente commodities à China para sustentar sua
invejável infraestrutura se mostrou um grande negócio. O problema é que os
governos de imenso apelo populista não reinvestiram dinheiro em infraestrutura
por aqui, deixando seus países altamente dependentes de vender matéria prima aos chineses.
Por
outro lado no continente, Peru, Colômbia e Chile não deixaram de exportar para
a China, ainda assim, sem o que ficou conhecido como “amarras do MERCOSUL”,
estes países buscaram ampliar seu comércio, principalmente para o promissor
mercado do Pacífico. Só para se ter uma ideia, o país que mais deve crescer
este ano é Papua Nova-Guiné, com os assustadores 15%, sendo um bom
representante do que investir nas economias pouco desenvolvidas dessa região do
mundo pode render. Colômbia e Peru lideram com sobras o crescimento na América
do Sul, com médias entorno de 4% de aumento no PIB nos últimos anos, enquanto
vale lembrar que Brasil, Argentina e Venezuela beiram a recessão.
O ciclo
de crescimento absurdo chinês começou a dar mostrar de estar saturado. Com a
adesão da paupérrima Bolívia recentemente, o que restou no MERCOSUL para o
Brasil foi uma Venezuela absolutamente arrasada pela baixa do petróleo, uma
Argentina em grave crise, um Paraguai que sequer conta com saída para o mar. A
melhor condição fica com o Uruguai, um país com uma população equivalente a da
Grande Salvador e que não pode ser considerado um grande parceiro para
sustentar a sétima economia do mundo.
Internamente,
apostar em crédito fácil e concessões como a redução do IPI, resolveu em um
primeiro momento. O Brasil não sofreu com o desemprego, as indústrias seguiram
em um bom nível e o país não foi fortemente afetado. O problema é que não dá
para apostar para sempre que a população seguirá comprando carros e os chamados
eletrodomésticos da linha branca todos os anos, o que acarreta que em um
momento de desconfiança como este, as compras começam a cair, o resultado é crise
no setor e o enorme número de demissões a que assistimos diariamente.
Altas da
taxa de juros e do dólar são dois dos principais remédios para o problema.
Apesar de poder atrapalhar planos em curto prazo, é graças à desvalorização do
real que não temos nem chances de virar uma Grécia. O fato da moeda grega não
poder ficar mais barata, e, portanto as exportações ficarem mais competitivas,
sem aprovação da Zona do Euro talvez tenha sido o grande vilão do atual momento
grego. Os juros ajudam a atrair investimento estrangeiro, e usando o parâmetro
dos principais veículos internacionais do assunto, o Financial Times e a The
Economist, parece que o Brasil vai retomando a confiança. No começo do ano,
o FT chegou a inclusive a publicar um artigo que listava dez motivos pelos
quais Dilma não terminaria o mandato. Os elogios a Joaquim Levy, chamado de “Chicago
Boy” por conta de sua formação acadêmica também são frequentes nas publicações.
A medida
é difícil de aceitar, mas tem de ser a austeridade. Voltando ao começo do
texto, realmente há enormes gastos no governo e só o corte de muitos podem
colocar o país na reta do crescimento e trazer de volta a confiança
internacional. O problema são os desdobramentos políticos disso e o que ainda
não veio à tona. Assunto para logo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário