O fenômeno
político recente, que divide a Palestina, deixou este conflito tão complexo
ainda mais complicado e com uma resolução parecendo cada vez mais longe. Desde
a escalada de violência no começo dos anos 2000 e a morte de Yasser Arafat,
líder da Autoridade Nacional Palestina, em 2004, palestinos passaram a se
dividir na disputa pelo poder.
O
resultado de diversos conflitos internos foi um grupo considerado pelo Ocidente
como terrorista, o Hamas, assumindo o controle na Faixa de Gaza, enquanto a
chefia da Cisjordânia ficou com a ANP sob o comando de Mahmoud Abbas. A
instituição é reconhecida internacionalmente como a representante dos
interesses palestinos, cabendo a Abbas a máxima responsabilidade pelas
negociações de paz com os israelenses. Já o Hamas é visto como um grupo
terrorista por Israel e desde que assumiu o poder na Faixa de Gaza, em 2006, se
envolveu em duas guerras com o país, a última no meio do ano passado.
O grupo
tem uma ideologia islâmica, e desde a sua fundação é adepto do tudo ou nada
para os palestinos, ou seja, uma luta até o fim de Israel e a retomada completa do lugar
pelos árabes. A ANP negocia uma solução de dois estados, na qual Israel e
Palestina coexistiriam dividindo Jerusalém como capital. Obviamente o
crescimento do Hamas como representante dos palestinos deixou Israel mais longe
das negociações para ceder seu território, o que pode mudar com o surgimento de adeptos do Estado Islâmico em Gaza.
Uma
parte importante dos muçulmanos apoia a ideologia do Hamas, que é respaldada na
Irmandade Muçulmana, maior e mais tradicional partido árabe, fundado em 1928 no
Egito. Além disso, diversos governos têm boas relações com o Hamas, como Irã e
Catar. No entanto a situação na Faixa de Gaza é caótica, com uma das maiores
densidades demográficas do mundo e a maior taxa de desemprego do globo. Há uma
grande parcela de jovens que se questionam o que o governo fez por eles, sendo
ainda mais suscetíveis a ideias radicais do que iraquianos e sírios que
gozavam, por incrível que pareça de condições melhores quando aderiram ao ISIS.
O ISIS
não entrou oficialmente na Palestina, ainda assim diversas brigadas vem
cometendo atentados ou contra oficiais do Hamas e da Jihad Islâmica, outro
grupo importante, ou contra o Sul de Israel, e dizendo que fazem estes em nome
da ideologia do Estado Islâmico, repreendida por praticamente todo muçulmano. O
fato dos ataques terem origem em Gaza faz com que Israel culpe o Hamas por
todos, já que o grupo tem responsabilidade pelo território.
O lado
bom disso é que na tentativa de conter os radicais que atacam inclusive o próprio
Hamas, o governo pode se tornar menos extremo, sendo mais tolerante inclusive a
uma ajuda israelense. Do outro lado, Israel pode ver que o governo islâmico que
sempre foi visto como a pior opção na Palestina, conta ainda com variações mais
perigosas, já que a tendência de extremistas surgirem é enorme em condições difíceis
como a vivida em Gaza. Desta maneira, quem sabe o ISIS não contribua para que,
sendo um inimigo comum, dois adversários se aproximem.
Claro
que há um risco. Se o ISIS realmente crescer na Palestina, Israel não medirá
esforços para conter o ataque, o que seria péssimo para todos. Além disso, vale
lembrar que o governo do Hamas tem graves problemas, como as dificuldades
impostas a vida dos cristãos. Mas a alternativa, como verificamos em outras
partes do Oriente Médio com a crucificação de seguidores do cristianismo, prova
que pior do que está, fica sim.
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