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quinta-feira, 7 de julho de 2016

Preconceito com o Nacionalismo

Quem se interessa pelo menos um pouco pelo que acontece no mundo provavelmente já teve acesso à descrição dos fenômenos populistas que se espalham em especial nos EUA e na Europa. Exemplos não faltam, como o recente Brexit e a real possibilidade de Trump ser o novo presidente norte-americano, tudo dentro daquilo chamado de demagogia, simplismo, xenofobia e nacionalismo. O último termo é o assunto aqui.

As nações são até hoje a melhor construção humana no sentido de agrupar seus semelhantes. Um ser de natureza tribal constituiu um complexo sistema de divisão, que ordena praticamente tudo no mundo hoje em dia. Mas não faltam exemplos do quanto as fronteiras são relativas, a se observar o projeto europeu que com seu Tratado de Schegen visava justamente abolir as restrições de livre circulação, ou casos menos sofisticados como a porosa fronteira de Afeganistão-Paquistão, por onde circulam pessoas e produtos de diversas origens e intenções. Por outro lado, existem casos em que os limites são rigorosamente respeitados, com a fronteira entre as Coreias ilustrando perfeitamente isso.

O nacionalismo não é bom nem ruim. Como no caso dos fenômenos populistas, ele é evocado junto a outros atributos negativos, tornando-se ruim. Mas é a mesma ideia que na década de 90 impediu massacres ainda piores no continente africano. A união de tutsis e hutus, com o pretexto de que acima de tudo todos eram ruandeses, foi fundamental para pôr fim à barbárie que matou cerca de 800 mil pessoas em 100 dias em um dos mais trágicos episódios da história humana, conhecido como Genocídio de Ruanda. No mesmo ano, 1994, chegava ao fim o regime do apartheid na África do Sul, com um grande sentimento de revanchismo dos negros contra os brancos que haviam lhes oprimido durante anos, um cenário semelhante ao que levou hutus a se vingarem dos tutsis, atrelados a elite local, e terminou com a tragédia final. No entanto, liderados por Nelson Mandela, os sul-africanos conseguiram desenvolver a sensação de pertencerem apesar da cor da pele ao mesmo país, e além de evitar um massacre, conseguiram prosperar bastante quando comparados aos outros países do continente. A história tem uma parte bem contada no filme Invictus, sobre a equipe de rugby da África do Sul.

E é o esporte que costuma trazer algumas das histórias mais interessantes relativas ao nacionalismo. O caso da Islândia, um pequeno país com cerca de 330 mil pessoas, população semelhante à de Montes Claros – MG, que encantou o mundo com sua grande campanha na Eurocopa, é um destes. Os islandeses chegaram até as quartas de final, passando pela fase de grupos sem perder, e eliminando a embora superestimada, ainda assim campeã do mundo Inglaterra. A própria Eurocopa, que é um evento espetacular, não existiria em um mundo sem nações, mesma situação da perda que seria ainda maior, caso a Copa do Mundo não fosse realidade.

O sentimento de ver seus semelhantes alcançando a glória esportiva é ainda mais valoroso no caso de populações que vivem em situação adversa. As disputas na Ásia são uma boa mostra disso, frequentemente trazendo histórias como a do Iraque em 2007, campeão continental, e esfacelado pela guerra, que teve pausas por conta da conquista. As eliminatórias contam com a participação de palestinos, e há partidas interessantes como o Síria x Afeganistão na última edição, que teve de ser jogado no Irã. Os sírios são bons, venceram por 6x0 e estão na próxima fase da competição, com possibilidades reais de jogar a Copa da Rússia, representando um país que pode nem existir até lá. Seria um grande alento na vida dos milhões de refugiados espalhados pelo mundo e que poderiam ver sua seleção local no maior torneio do planeta.

Um dos adversários da Síria foi o Japão, o caso de sentimento nacional que tenho a maior admiração. O território japonês tinha praticamente todos os elementos para que a nação construída ali fosse um fracasso. Pequeno, isolado, em meio a uma região instável tectônica, que faz com que os japoneses tenham de lidar com terremotos e tsunamis frequentemente, e com um relevo que dificulta muito a agricultura, havia ali um potencial país eternamente fadado ao fracasso. Mas o sentimento de construção coletiva, que possui exemplos como o dos kamikazes dispostos a entregarem suas vidas pela pátria, aliado a valores extremante cultivados por lá, em especial uma honradez invejável, fez com que os japoneses prosperassem, sendo uma das nações mais imponentes da terra, com sua população gozando de ótima qualidade de vida, e tudo isso poderia ser ainda melhor caso não tivessem feito escolhas erradas que levaram à morte desses kamikazes. Enfim, ninguém é perfeito.

A grande derrotada nessa história, a Alemanha, é um grande caso envolvendo esporte e nacionalismo. O país, fragmentado após a Segunda Guerra em Alemanha Ocidental e Oriental, viu a primeira se sagrar tricampeã do mundo, enquanto no outro lado do muro de Berlim, sobravam as mazelas impostas pela URSS. A reunificação foi coroada em 2014, com um título mundial para todos os alemães, em um momento especial para os antigos orientais, que contam hoje com a chanceler do país, frau Merkel, nascida do lado socialista do muro.

A seleção nacional alemã é um motivo de orgulho impar no país, sendo um dos grandes símbolos da identidade deste povo.  O problema de o nacionalismo não ser bom nem ruim é que dentro de uma história interessante de unidade como esta, ronda grandes perigos de como o nacionalismo pode ser evocado. O grupo Pegida, ligado a todas as atribuições do fenômeno populista do começo do texto, e com ligações até mesmo com neonazistas, fez duras ofensas aos jogadores Boateng e Gundogan, de origem ganesa e turca respectivamente. Segundo estes, os dois não representariam a Alemanha, em um caso nem um pouco velado de xenofobia racista. Gundogan, ótimo volante, ficou de fora da Eurocopa. Boateng está junto de seus companheiros nas semifinais, e enfrentará a França, em um embate que por tudo que representa, é um grande presente do nacionalismo. Em uma Eurocopa que tivemos Áustria x Hungria, e o País de Gales jogando separadamente do Reino Unido fazendo ótima campanha, que o projeto europeu fique somente ligado à política.


 A grande história construída pela Islândia. O lado bom da eliminação é o fim das manchetes sobre sobre resultados com trocadilhos com gelo. Thibault Camus / AP

sexta-feira, 10 de junho de 2016

Futebol, a Democracia dos esportes

Esporte é futebol, o resto é gincana. Mais certo do que isso, só o fato de que churrasco é bom. Somando esta certeza à frase de Winston Churchil: “a democracia é a pior das formas de governo, salvo todas as demais tentadas de tempos em tempos”, temos a dimensão destas duas, que juntas da cerveja, são as três grandes obras da humanidade.

A questão é que o fato da cerveja ser esplêndida não exclui, por exemplo, o valor de uma boa dose de whisky, que nas palavras de Hemingway, é “um dos maiores prazeres do mundo”. Agora, aplicar outra forma de governo necessariamente implica que a democracia não será utilizada, assim como realizar outra atividade física que não o futebol exclui a realização do amado esporte bretão. Este é o ponto, as gincanas que vemos tomarem os noticiários nas proximidades das Olimpíadas, fariam sentido de serem praticadas, mas no hipotético mundo em que não houvesse sido encontrada a perfeição dos onze contra onze que proporcionam espetáculos como a Libertadores. Assim como é compreensível a existência de regimes absolutistas, teocráticos, oligárquicos, mas no âmbito pré-Iluminismo, no qual os valores democráticos dos quais nos orgulhamos ainda não haviam sido testados.

Pegue de exemplo uma das melhores gincanas, o basquete. Tem bola, contato físico e é coletivo. O seu esplendor, a NBA, ainda assim seria como uma ditadura, já que a mais rústica das atividades futebolísticas, na analogia democrática, supera e muito o jogo dos homens altos. É tão certo quanto churrasco ser bom que Funorte x Formiga pelo Módulo II do Campeonato Mineiro sub-17 é absolutamente mais interessante do que qualquer um destes playoffs da liga americana de basquete que vêm me atormentando nas últimas semanas.

Mas assim como, lamentavelmente, existem pessoas que não compreendem os benefícios democráticos, e afirmam preferir uma ditadura em troca de vantagens como a estabilidade econômica, é até compreensível que alguns não enxerguem o quão maravilhoso é o esporte de Odvan, Lugano e tantos outros. No entanto, existem expressões tão bizarras quanto seria hoje a proposta de um regime absolutista, como o tênis. O jogo das raquetes e o absolutismo são coisas para um ou outro, nas quais não há a participação de mais de quatro pessoas, e conseguem ser piores do que escanteio curto. E eu creio que viver em um feudo durante a Idade Média sem nenhum acontecimento durante a vida deveria ser menos enfadonho do que uma partida de tênis, a conferir.

Temos ainda o específico caso do futsal, que é uma espécie de semidemocracia. Conta com quase todos os elementos do futebol, mas falta o apelo do esporte bretão. Não deixa de ter seu valor, e na falta da plena democracia, é algo que tem que ser louvado. Em exemplos práticos, seria como Myanmar, que realiza eleições e tem um regime político com uma série de restrições, mas antes enfrentava uma ditadura militar. Esse ano tem Copa do Mundo de futsal, na ausência de um bom jogo, fica a dica de programa. São melhores do que nada.

Escrevo estas linhas assistindo à Eurocopa, uma partida da França que como diria Luis Roberto, conta com seus “negros maravilhosos”. Como joga bola esse Pogba. Portanto, boa oportunidade para ver o quão fantástico é o futebol. A França que é o berço da democracia, de vez em quando dá mostras de também ser boa dentro de campo, infelizmente, em contrapartida Marine Le Pen lidera as pesquisas, em um escorregão da democracia. Nada que o país que se recuperou do vexame na Copa de 2010 não supere. Mas no fim das contas, a grande vantagem da democracia é justamente essa, cada um pratica o que quiser. Pensar que ainda existem países nos quais pessoas são presas e recriminadas por praticarem atividades físicas é uma barbaridade. Viva às Olimpíadas e as gincanas que só vejo nessa época, claro, pedindo pênalti em qualquer disputa perto da área.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Obrigado? É pouco

Duas vezes já fui enquadrado naquelas discussões que não levam a lugar nenhum, só fortalecem a amizade, mas são ruins de perder igual a uma partida no FIFA com um gol aos 90 minutos. Nas duas o tema era minha idolatria por Rogério Ceni (M1TO), e foram bem parecidas:

-Kibe, o que você vê tanto nesse cara?
-É o maior ídolo do São Paulo, ganhou vários títulos, dedicou a vida ao time.
-Mas Raí, vários outros ganharam até mais títulos, só saíram porque não eram goleiros, ganharam as Copas do Mundo que você valoriza tanto...
-Mas ele é o maior goleiro artilheiro da história, fez algo inédito na posição, revolucionou o modo de defender.
-Ok, mas e se um meia batesse os pênaltis e as faltas? Não dava no mesmo? Por que o goleiro? Só pra ser diferente?
-Mas não é só isso, ele foi totalmente diferente, tem personalidade, motiva o time, é chato quando tem que ser, coloca ACDC no vestiário...
-Eu sou chato, tenho personalidade, motivo as pessoas, e ouço ACDC onde eu estiver.
-Bom (esse é o momento que se o tema fosse política, economia, culinária, moda, ou qualquer outro assunto que dois amigos sem nada pra fazer estiverem a fim de discutir, poderia representar um nocaute). Eu até concordo com alguns pontos, mas...
-Mas o que? Eu quero saber.
-Futebol não é exato, não pode ser só fatos. Você sente e pronto, se eu pensasse tanto antes de torcer eu xingaria o juiz mesmo sabendo que foi falta contra o meu time, e que ele é um profissional absolutamente mal preparado pelas milionárias e corruptas federações que dão salários enormes aos seus membros, mas não dão condição da arbitragem se dedicar exclusivamente ao dever dela? Chamaria alguém que sempre passou dificuldades de mercenário só por aceitar uma proposta ótima do exterior?
-É Kibe, acho que entendi...
-Acha que...
-Não, tá certo, deixa seu ídolo. Mais uma Brahma?

Deixando os porquês a parte, só tenho a agradecer. Agradecer aquele que me inspirou a bater uma falta quando eu achava futebol chato, já que minha habilidade mal me permitia ficar no gol pra completar time. Agradecer por aquela bola, que eu fechei os olhos e chutei de bico, ter entrado e eu sentir pela primeira vez o que era fazer um gol. Agradecer por depois daquilo, ter me tornado um oportunista nato dentro da pequena área, apaixonado por fazer gols e com o futebol como melhor passatempo (oportunista nem tão nato, mas não com menos amor). Agradecer por ter tido alguns dos melhores momentos da minha vida, assim como os grandes amigos, graças ao esporte bretão.


E não sei se agradecer é forte o suficiente para falar da alegria que sinto de torcer pelo gigantesco São Paulo Futebol Clube, graças ao senhor. Os vários momentos felizes que esse clube maravilhoso me proporcionou vão ficar para sempre na minha memória, estando mais ou menos afastado do futebol, que graças ao senhor, M1TO, aprendi a amar.

Não tenho esperança de ver a Libertadores torcendo e me emocionando do mesmo jeito que quando o senhor jogava. Não só por isso, a paixão esfriou e os oito jogos na televisão por semana deram lugar a um máximo de três, acompanhados de leitura sobre o financiamento suspeito de times. Pelo menos vê-lo no gol e lembrar-se das defesas fantásticas ou da minha primeira alegria no futebol não vai dar espaço à indignação com empresários corruptos.

Espero que o senhor saiba, que as palavras de agradecimento que faltam neste momento, podem simplesmente dar espaço a xingamentos assim que o senhor voltar ao São Paulo em outra função. Mas acho que não preciso me preocupar, já que o chato pra caralho, goleiro comum embaixo das traves, velho e acabado sempre deu a volta por cima e para como o maior atleta que eu vi atuar. Obrigado M1TO. Até breve. 


segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Como seriam os países mais ricos do mundo no Brasileirão?


É óbvio que o que vou tentar fazer aqui é impossível de ser algo exato e levado como uma verdade incontestável, por um motivo muito simples: futebol não é geopolítica, muito menos economia e os times brasileiros são bons exemplos disso. Ainda assim, acredito que esse tipo de comparação tende a ser válida para tornar termos complexos mais palpáveis ao cotidiano. O que estará em questão aqui é a avaliação dos mercados para as 20 maiores economias do mundo nos últimos anos, sem necessariamente levar em conta o tamanho do PIB ou a importância do país.

O Brasil seria como o Fluminense, fez algumas escolhas controversas, com aviso prévio de boa parte da mídia. Essas acabaram criando conflitos internos, culminando em resultados ruins que só acirraram os ânimos de todos e geraram ainda mais desconfiança. Seria um time de meio de tabela caso não fosse a apresentação de um relatório deficitário nas contas públicas, e como muitos sonham no futebol, o mercado acabou agindo como um fair play financeiro, tirando boa parte da confiança no Brasil e colocando o país próximo da zona de rebaixamento. Os dois tem um problema claro de estrutura, já que o Fluminense não tem uma defesa confiável desde quando Thiago Silva era do clube, e o Brasil, apesar do crescimento, nunca fez os investimentos necessários em infraestrutura, o que nesses tempos de crise se mostrou um grande equívoco. A situação é muito ruim, mas vale lembrar que ainda se trata da elite econômica global e que já superamos adversidades maiores, não vamos sequer precisar de viradas de mesa. E claro, assim como no Brasileirão que tem o Vasco, há gente pior.

Um líder falastrão autoritário, que gosta de se meter onde não tem mais como apitar tem muitos anos. Putin ou Eurico, o fato é que a semelhança entre as duas figuras ajudou a colocar tanto a Rússia como o Vasco no fundo do poço. Soma-se a isso a extrema dependência de peças que há alguns anos renderiam bastante, mas que não estão bem hoje em dia, como Dagoberto, Guiñazu, petróleo e gás natural.

Com constância no topo e ótimos resultados nos últimos anos, a China seria o Corinthians. O fato dos dois serem tão importantes e estarem bem faz com que qualquer crise, seja uma queda na bolsa ou um resultado ruim fora de casa, tenha enorme repercussão e já coloque em cheque todo o êxito dos últimos anos. Ainda assim segue no topo, mesmo com os alardes na imprensa.

O Flamengo seria a Índia. Enorme, mas normalmente com uma administração confusa, às vezes se acerta e consegue grandes resultados que animam a todos, especialmente a mídia. Os resultados econômicos indianos já viraram rotina em publicações como a The Economist e a figura do atual primeiro ministro, Narendra Modi, já é tão comum nestes espaços como a de Paolo Guerrero nos tabloides cariocas. O topo do mundo ou o hepta sempre são logo ali, mas às vezes tem problemas no caminho.

Inter e México fizeram grandes investimentos, apareceram muito bem na imprensa, no entanto velhos problemas acabaram complicando o seguimento dos dois. Em um caso, o fato de deixar o Brasileirão de lado, que já não ganha desde 1979, e o excesso de medalhões rendendo pouco. No outro, corrupção e narcotráfico, problemas tipicamente latinos.

A maior potência no cenário internacional não vive grandes momentos desde 2008, alternando fases ruins e estabilidade, mas sem ser o protagonista de outrora. A economia dos EUA se recupera a passos lentos, enquanto o São Paulo faz bons jogos no campeonato brasileiro. Os dois tem um problema que parece latente e nunca se saem bem, no caso dos americanos, o complexo Oriente Médio, já para os são paulinos a Copa do Brasil, que as últimas eliminações: Bragantino, Coritiba e Avaí, fazem parecer a competição mais complicada que conflitos sectários.

Tanto o Palmeiras quanto a União Europeia já foram bem mais imponentes no passado, no entanto de uns tempos para cá, decisões equivocadas acabaram atrapalhando ambos e enormes crises se instalaram. A medida encontrada foi a austeridade, que por momentos criou graves problemas, como no quase rebaixamento do Verdão no ano passado, ou o caos que se instaurou em economias mais frágeis, o que é evidente no caso grego. Ainda assim, parece que as coisas se estabilizaram, a Europa voltou a crescer a passos curtos, e o Palmeiras faz boa campanha no Brasileirão brigando pelo G4. E um aviso aos europeus, a extrema-esquerda contra a austeridade do Syriza e do Podemos não são nenhum Gabriel Jesus, ou seja, um achado raro que vai ajudar as coisas a se resolverem mais rápido.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Obrigado contravenção

"Se hoje temos o maior espetáculo audiovisual do planeta, agradeça à contravenção." É isso que declarou em entrevista o campeão do carnaval, Neguinho da Beija-Flor. Todo mundo sabe que o título pra mim tem a mesma importância de um estudo que define se ratos são destros ou canhotos, mas a polêmica desse ano não pode ser ignorada.
Futebol e carnaval queiram ou não, são as grandes expressões culturais do Brasil no mundo. A festa ganhou o destaque de sempre, mas desta vez com um agravante: foi financiada pela ditadura que é a mais corrupta do planeta, segundo relatórios da CIA.
O presidente da Guiné Equatorial é aquele ditador clássico africano: com uma fortuna inimaginável declarada na Forbes, e uma maior ainda sem ser investigada. Acusado de lavagem de dinheiro, repressão, tortura, assassinato de opositores, procurado no mundo inteiro e outros desvios. E mais, financiador do carnaval no Brasil.
Vi alguns dizendo: qual é a importância de um resultado do desfile das escolas de samba, que há anos é sabidamente palco de lavagem de dinheiro para bicheiros, construtores mal intencionas, e todos os outros tipos de bandidos, em meio ao maior escândalo de corrupção da nossa história? Pra mim a relação é clara.
Vamos falar da outra expressão cultural: o futebol brasileiro é administrando por uma das confederações mais corruptas do mundo, com indícios de venda de jogos de maneira ilegal, venda de votos de maneira ilegal, venda de licenças trabalhistas de maneira, pasme ilegal, e de tudo mais que o futebol pode render dinheiro de maneira ilícita.
A soma das dividas dos clubes brasileiros ultrapassa o PIB de mais de 30 países e não há indícios de que ela será quitada da maneira devida tão cedo. Até agora só falei o que é sabido de qualquer um, e temos questões como o “Campeonato Brasileiro de 2005” que se um dia vier à tona, provavelmente aquele clichê de que ficaríamos enojados, seria a única reação.
O maior escândalo da nossa história é mais relevante do que problemas nos nossos dois “circos”? Claro. A questão é que um povo precisa de sua cultura. E quando suas duas maiores manifestações são absolutamente corrompidas e indignas de confiança, acreditar na capacidade de mobilização fica cada vez mais complicado.
Enquanto com o objetivo de ser campeão do carnaval for normal aceitar dinheiro de milicianos, ditadores e seja lá de quem mais for, como não será normal aceitar os lobbys das empreiteiras para se fazer política? Na medida em que se endividar com os cofres públicos, sem perspectivas de pagamento para montar times campeões for aceitável, como reclamar de trocas de cargo entre os governantes para alcançarem seus objetivos?
A ideia de que “vale tudo” está dentro das mais importantes bases da nossa sociedade. E dificilmente vai ser um diretor de empresa ou um político que passou a vida toda aceitando qualquer meio para vencer que vai mudar isso. O importante não é questionar o título de quem quer que seja. O vital para o futuro do Brasil é mostrar para nos mesmos e para o mundo que Petrobrás e carnaval a parte, Charles de Gaulle estava errado e que somos sim um país muito sério. E se reconhecer os problemas no carnaval for o meio para começar isso, muito obrigado contravenção.


quinta-feira, 10 de julho de 2014

Pelo Menos (na bola)

Falar qualquer coisa depois de uma derrota dessas é muito mais fácil. Vou falar de uma, que em meio ao meu otimismo, me preocupava bastante. Pensei em falar antes do jogo contra a Alemanha, mas não deu e agora fica pra cada um acreditar se eu pensava assim, ou não.
Eu não acho que brasileiro gosta tanto de futebol bonito. Pra mim, na seleção, brasileiro gosta é de história. Essa paixão pelo futebol bonito pra mim fica clara que não é tão importante nos clubes em que três títulos brasileiros consecutivos jogando feio valem tanto quanto três encantando o mundo. Mas talvez pela necessidade de vencer seu vizinho de porta, uma história não é tão importante. Vale lembrar que o título de 2009 do Flamengo em que houve a recuperação de um imperador e de uma múmia(eu disse isso antes dele começar a jogar tanto), daria um baita roteiro e foi pouco explorado.
Mas na seleção é diferente, e vamos então para as cinco glórias da canarinho pra exemplificar isso:
1958: depois de perder tragicamente no Maracanã o título de campeão do mundo, um menino de nove anos de idade prometeu a seu pai que traria aquela taça para terras brasileiras. Oito anos depois, aquele menino, então com 17 anos, conquista o mundo, e várias suecas, jogando um futebol fora do normal, a taça do mundo era nossa. E com um roteiro melhor que muito filme patrocinado pela ANCINE.
1962: o título era nosso, a seleção tinha Pelé e o anjo das pernas tortas que nunca perderam jogando juntos. Não tinha como não levar o bi, até que Pelé se machuca. Acabou, não dá pra ganhar sem o melhor do mundo. E então entra em campo com a pressão de substituir Pelé, o pouco badalado Amarildo. Ele vira o "possesso", e com Garrincha (que destruiu o futebol científico em dois minutos*) nos guiam até o título com uma história mais dramática que filme iraniano.
1970:  melhor time da história, com completos ídolos em seus clubes e enfrentavam os malvados ingleses. Com um roteiro bem hollywoodiano vencemos aqueles arrogantes que ousaram recusar a água do hospitaleiro povo mexicano, com o México em festa e um futebol espetacular, o tri é nosso.
1982: não é 94, não mesmo. Confira, eu disse glórias, não títulos. Em uma visão completamente diferente da minha de futebol, eu garanto que os brasileiros como um todo trocariam sua quarta estrela por um simples 82 acima do escudo da seleção. Um time que como em 70 reunia craques de grandes clubes brasileiros, mas com uma diferença: esses heróis lutavam contra a ditadura. Sócrates, craque do time, participava de comícios e chegou a fazer parte da "Democracia" nos tempos do condor. Amamos esse time como uma adolescente ama "Harry Potter".
2002: Diziam que 98 havia sido vendido. Uma convulsão sem registros na história do futebol tirou nosso craque da final. E ele pouco tempo depois sofre uma lesão no joelho que segundo muitos iria acabar com sua carreira. Apesar de não gostar de futebol na época, acho que 2002 é bem resumido no dia em que andando com meus país no meio da rua parei para ver a propaganda com Ronaldo e a música "Tente outra vez".
E 2014? Com todo respeito ao gênio Neymar, e a outros bons jogadores da seleção, qual era a história? Um rapaz que nunca teve grandes problemas e era milionário com 14 anos(PELO AMOR DE DEUS, EU NÃO VEJO DEMÉRITO NENHUM NISSO), e outros desconhecidos dos clubes brasileiros, erguendo a taça em casa?
Agora amigos, a história é outra. Nosso craque sofreu uma entrada desleal que o tirou da conquista de seu maior sonho. Fomos completamente humilhados de uma maneira que nenhuma seleção grande nunca havia sido, em casa. A história pro hexa tem tudo pra ser um dos maiores filmes de todos os tempos. Dessa vez eu poderei enfim ser campeão tranquilo.
*Se você gosta de futebol e nunca assistiu aos tais 2 minutos, faça-o o mais rápido possível.

Pelo Menos

De uns tempos para cá eu refleti e tomei para mim duas coisas, bem expressas nessa minha frase "se foder é inerente ao ser humano. Saber rir disso e tirar o lado bom é o que faz a diferença". Fiquei arrasado no 8 de julho, como eu disse, chorei mais que preparador físico do Adriano. Depois disso comecei a rir de algumas ótimas piadas e eu tenho a convicção que quanto a rir de si próprio, só nós e os ingleses temos tamanhas capacidades. Mais um orgulho dos donos do futebol.
Faltava o outro lado, o tal "pelo menos". Pensei bastante, até algumas piadas, reflexões futebolísticas que posso ou não tornar públicas depois, mas o mais importante saiu depois de ouvir um comentário do Paulo Calçade, comentarista da ESPN. Ouvi muito pouco, mas sintetizando, Paulo dizia que no futebol alemão não tinha esquemas, não tinha dinheiro que não se sabia de onde vinha, e daí podemos imaginar o resto.
Um dos pilares de um homem para mim é a convicção. Uma das minhas é que para escrever neste blog, eu iria usar meu mero conhecimento, então lhes privarei de uma informação mais precisa, mas de cabeça é disso que eu lembro: há uns dois meses atrás, o presidente do Bayern de Munique( o novo exemplo de futebol para nossa imprensa), foi afastado de seu cargo por envolvimento com um dinheiro bastante errado. Mas isso não importa, afinal eles ganharam de 7x1 e tudo é perfeito.
Nos programas de esporte eu consigo ouvir na hora que eu quiser que o Felipão errou e cometeu suicídio ao jogar aberto contra a Alemanha. Um canalha desatualizado que fez uma péssima Copa e que deveria saber disso ao enfrentar os alemães. Você também pode ouvir, é só ligar sua televisão. Mas poucos, e eu sou um desses, que conseguem imaginar os mesmos comentaristas, em caso de uma derrota apertada de um Brasil retrancado dizendo: Felipão é um covarde, treinador da seleção brasileira e se comportou como se tivesse treinando seu time de Passo Fundo, era melhor ter aberto o time e levar de sete, dez, mas jogar como o Brasil, manter a dignidade.
Consigo ouvir a mesma situação em relação ao clima criado pelo caso Neymar, que hoje é execrado, já que os jogadores deram foco demais a ausência do gênio ao invés de focar no jogo. Em caso de vitória brasileira( isso sim eu tenho dificuldades de imaginar), a união do grupo para superar as dificuldades seria um exemplo a ser seguido por todos os brasileiros.
Entenderam, né? Se não, me dê qualquer uma dessas listas dos erros do Brasil na Copa e eu te digo como tudo aquilo teria uma outra conotação em caso de outro cenário fora dos 7x1. A Alemanha é perfeita, enquanto a outra finalista da Copa tem problemas graves de gestão, e na minha opinião problemas bem mais graves em relação as torcidas organizadas e a sua federação do que a nossa.
Chegamos na hora do pelo menos. E ele é bom só pra mim, desculpa ter feito você ler até aqui se estivesse querendo um consolo. Eu cheguei na faculdade de Jornalismo absolutamente determinado que meu foco seria trabalhar com política internacional, a ausência de futebol neste blog prova isso. Mas como eu previa, eu gosto demais de futebol, e as oportunidades para falar disso eram tentadoras. Entrei para a equipe esportiva da FACOM, e aquilo parecia cada vez mais uma possibilidade real de trabalho para mim, uma escolha óbvia de unir o útil ao agradável.
Até refletir sobre a imprensa de resultado que iria me empregar. Um grupo que fala mal dos treinadores por seu futebol de resultado, mas não teme em trocar suas convicções por alguns pontos no IBOPE. Uma imprensa na qual comentaristas elogiam até criminosos desde que isso comprove suas opiniões para vender jornal. Lembram que eu disse que um dos pilares de um homem para mim é a convicção? Pois é, a minha agora é de continuar com a geopolítica, já que Iraque e Israel não pararam durante a Copa. Para os muitos amigos que seguirão na profissão, desejo todo sucesso do mundo, sério. Durante a Copa ganhei a alcunha de Filósofo da FACOM, e para honrá-la vou terminar o texto citando um professor que tive: "Menos um concorrente."