Fim de
ano é uma boa época para se distanciar do cotidiano com suas picuinhas e focar no
que realmente importa. Aqui, como no ano passado, vai mais uma vez o assunto
que independente de serem sírios, alemães, palestinos, bengaleses ou
brasileiros, é o principal na vida de todos: o clima. E dessa vez as coisas
animam.
Olhando de
qualquer jeito, não dá para ficar muito otimista com as notícias desse ano: boa
parte da população e dos candidatos do país mais importante do mundo não
acredita no homem como agente que muda o clima; o fato de a economia do maior
poluidor do mundo desacelerar levar a um colapso global; Kátia Abreu no
Ministério da Agricultura e Pecuária do país com mais florestas no mundo.
Mariana. Lama. E por ai vai.
A
questão é que cientistas, e o que a imprensa repassa, fazem parte de uma intenção que pode ser denominada no consenso popular como maquiavélica, aqui,
sem juízo de valor. Seguindo a ideia depreendida de Nicolau, de que os fins
justificariam os meios, a estratégia para sensibilizar a opinião pública e
consequentemente seus comandantes é a de criar um futuro sombrio e de caos no
imaginário comum. A partir daí, torna-se mais fácil, por exemplo, um acordo
como o de Paris, que vai reduzir o crescimento econômico e será mais facilmente
digerido.
E por
que isso é difícil? Há uma máxima que diz que um populista pensa nas próximas
eleições, e um político nas próximas gerações. A questão é que hoje em dia, se
alguém não pensar nas próximas eleições nunca será um político, já que não terá
sequer o mínimo para financiar sua campanha. E ai, sabemos exatamente que quem
vai dar dinheiro para estas campanhas não será um ambientalista, e sim, por
exemplo, no Brasil, a maior empresa privada em lucros no país, a JBS,
que tem boa parte de seu faturamento relacionada ao agronegócio, e que sabemos,
não é o ideal para o clima. Nos EUA? Petroleiras. E que financiam boa parte dos
republicanos que dizem não acreditar nas mudanças climáticas.
Mas não
é fácil assim. Uma das parcelas mais ricas da população não ia deixar suas
fortunas a mercê de um raciocínio pouco complicado. Então começaram a usar a
tática dos próprios cientistas contra eles.
Os
principais meios de propaganda que afirmam que o homem não causa o aquecimento
global fazem o seguinte: usam previsões de cientistas que não se confirmaram e
as colocam contra eles. Isso, por exemplo, na população média norte-americana,
mais preocupada com sua hipoteca e em pagar a gasolina do seu 4x4, tem um efeito
enorme. Daí, o fato de uma parte dos EUA não acreditarem nas mudanças
climáticas como causadas pelo homem.
Pesquisas do tipo das que afirmam que o Golfo Pérsico estará inabitável em 2100 e que nesta
época países como Tuvalu e as Ilhas Marshall estarão completamente inundados
saem a todo instante. Essa máquina de propaganda pega algumas pesquisas de um
determinado espaço de tempo, como os anos 2000, e desconstroem aquelas que se
confirmaram erradas, desfazendo a credibilidade de uma boa parte da comunidade
cientifica. Mas vale lembrar que meteorologistas erram a previsão do tempo para
o dia seguinte. Acertar o que acontecerá daqui 15 anos é dificílimo, e um
século então?
E para
combater essa contrapropaganda, cientistas soltam dados cada vez mais
alarmistas, criando um grande ciclo. Se eles estão errados? Complicado. Cabe um
grande debate filosófico, mas já aviso, há pessoas usando meios piores para
fins pouco altruístas neste exato momento.
Os fatos
que temos que ter em conta, e que ai não tem contra argumentação: 2014 foi o
ano mais quente já registrado, e tudo indica que 2015 tenha sido ainda mais. De
28 problemas ambientais seriamente analisados em 2014, metade foi constada como
causada pelas mudanças climáticas do homem. O El Niño, fenômeno do aquecimento
das águas do Pacífico, foi mais forte que o normal e afetou o mundo inteiro.
Isso fica a parte de discussões, são fatos científicos que comprovam a
importância de uma ação urgente para o clima.
Enfim, a
boa notícia é que aqueles que decidem nosso futuro vão cada vez mais entendendo
que a questão climática não é um jogo de soma zero, no qual uns ganham e os outros
perdem. Isso vinha por muito tempo tomando conta do cenário, já que países em
desenvolvimento acreditam que podem poluir mais até atingir um nível estável
como o dos desenvolvidos, que poluíram por anos sem restrições. É um argumento
importante, mas que deve ser colocado de lado pelo simples fato de que se
fracassa um na questão do clima, fracassam todos.
E as
soluções na COP21 de Paris foram interessantes. Um acordo firmado por 195
países (Kyoto só tinha 37) indicou que todos devem reduzir suas emissões de tal
maneira que a temperatura no fim do século não suba mais do que 1,5 grau, uma
redução importante já que nas condições normais, esse aumento seria de 4 graus.
E é bom ver que a intenção inicial era de que a meta fosse de 2 graus, mas uma
iniciativa liderada pelas Ilhas Marshall, fortemente afetada, colocou todos em
uma resolução melhor.
A
questão entre desenvolvidos e em desenvolvimento ficou acertada em um fundo
anual de 100 bilhões de dólares financiado pelos mais ricos para ajudar os
menos favorecidos. A divisão é complicada, mas é o menos importante. O outro
dado econômico que leva ao otimismo no ano é a queda no preço do petróleo, a menos de 40 dólares o barril, lembrando que há pouco tempo o produto passava
dos 100 dólares, o que em curto prazo pode aumentar a utilização, no entanto a
longo beneficia investimento nas energias renováveis.
É o
suficiente? De forma alguma. O cenário é tão terrível quanto o que vão plantar?
Nem tanto. Mas que venha 2016, com suas notícias ruins na imprensa e com seus
avanços valendo, nem que seja por de baixo dos panos.
Obs:
Budweiser e Bira, papai faz isso pensando em vocês.
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