quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

O fim da Guerra Fria?

As duas Grandes Guerras arrasaram a Europa. As dividas da primeira são discutidas até hoje. Os reflexos da segunda são sentidos em praticamente todas as áreas, desde a política até a economia. Isso todos já sabemos. Mas e o que a guerra teoricamente fria que se arrastou pelo século XX causou?
Essa sim foi a mais mundial de todas as guerras travadas pela humanidade até hoje. Todas as regiões do globo sofreram com as invasões, financiamentos, envio direto de armas e tudo o que sabemos que os Estados Unidos e a URSS fizeram durante o período. O reflexo foram as ditaduras militares na América do Sul, as guerras civis na central, os sanguinários regimes como o de Pol Pot no sudeste da Ásia, dentre outras muitas guerras e regimes totalitários.
Enquanto isso, até 1962 Estados Unidos e URSS se preocupavam mais em assustar uns aos outros do que com guerras e fome em seu próprio território. Até uma crise dos misseis fazer com que os dois financiadores de um conflito global realmente sentissem os efeitos do que eles vinham criando.
Mas passada a crise, outro problema começou assolar americanos e soviéticos. As invasões tanto no Afeganistão quanto no Vietnã começaram a não matar apenas afegãos e “vietcongues” já que compatriotas voltavam em caixões destas guerras que boa parte da nação não entendia o porquê de serem travadas.
Nos Estados Unidos isso levou a uma série de apelos populares pelo fim da invasão no Vietnã. Na URSS que não era tão adepta de apelos populares, o fim das invasões foi por conta do colapso do regime. O desfecho disso já é conhecido: 1989 cai o Muro de Berlim, 1991 tem fim a União Soviética. Mas o que muita gente não sabe é que, por exemplo, em Angola a desastrosa guerra civil iniciada no período, durou até 2004.
E no Afeganistão, um dos países mais promissores da Ásia na década de 70? Os financiados pelos EUA para lutar contra a URSS deram inicio a um dos governos mais radicais do final do século XX, além da Al Qaeda, o 11 de setembro, a invasão do país que dura até hoje e que começou com a intenção de tirar do poder aqueles que foram armados durante a Guerra Fria. Este é só talvez o exemplo mais caótico e irônico dos reflexos do período. Camboja, Vietnã, Nicarágua dentre outros países não se recuperaram das guerras causadas pela disputa entre as duas potências até hoje.
Apesar dos problemas, a tendência é de esperança. Hoje teve sim um ponto final em um desastroso legado da Guerra Fria: o fim do embargo dos EUA a Cuba. Como ficou bem claro, ainda é muito pouco pra declarar o fim do conflito, mas é algo importante. Outros avanços são os da nossa Comissão Nacional da Verdade com o objetivo de expor os horrores do período. Vamos pouco a pouco derrubando os Muros de Berlim que as duas potências deixaram.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

O amor na hora errada

Lembro bem, afinal de contas não faz tanto tempo assim, daqueles semideuses que vêm se despedindo dos gramados há alguns anos, ainda em ação. Zidane, Del Piero, Seedorf, Gattuso, Nedved, Davids, Makelélé, Giggs, e tantos outros que faziam aqueles dias regados a play 1 e Danoninho ainda mais especiais.  Dias que só não chegavam a serem tão encantadores quanto os dias de Champions League na TV. A oportunidade de realmente assistir ao Roberto Carlos do ataque, enfrentando o Del Piero mestre das faltas era algo especial. Mas não é de nenhum destes gênios que vou falar neste texto, e sim de outro amor, que aparecia no plano de fundo.
Quem me conhece sabe da minha relação de amor com a Heineken. Alguns amigos já me disseram que não é verdadeira, que ela só está interessada no dinheiro. Bobagem. Alguém nutrir paixão por uma cerveja é belo e justo, o problema é quando essa relação vem de tempos quando alguém não deveria ter grandes contatos com bebidas alcóolicas, cigarros e outros produtos que não são permitidos á menores de idade por razões também justas.
Uma criança pode querer um tênis ou uma bola simplesmente por seus jogadores preferidos fazerem propaganda destes. Quem dirá os tempos do começo do texto, quando os produtos “total 90” eram tão disputados quanto as figurinhas em época de Copa. Eu nunca tive os produtos da Nike, mas lembro do tormento que alguns dos meus amigos causavam até as mães comprarem a tal bola que normalmente era isolada depois de duas semanas. Acho que sou menos susceptível aos apelos comerciais, talvez pelo meu ódio prematuro ao imperialismo, mas não totalmente livre, tanto que resolvi escrever este meu humilde relato.
Quando me perguntam: “Kibe, você realmente gosta do gosto da cerveja?”, minha resposta normalmente é: “Sim, bastante.”. Acredito que pela família que tenho, e principalmente por gostar bastante de cerveja, eu viria a ser um grande consumidor de qualquer maneira. O ponto é: quando eu escolhi pela primeira vez tomar uma Heineken, e senti um gosto bem mais amargo do que já havia experimentado nas outras, era só uma opção de bebida, ou tinha toda a vinculação de uma marca global associada aos meus heróis de infância?
Infelizmente eu acho que a segunda resposta tem uma influência muito maior do que deveria. O impacto que vários jogos, intervalos comerciais e outros meios, nos quais a Heineken era vinculada aos meus jogadores preferidos, teve uma atuação em um amor que poderia até acontecer naturalmente, mas foi iniciado em anos que apesar de concepções, equilíbrio familiar, no fim das contas pra uma criança ainda são seus heróis, e do lado deles uma cerveja.
O meu foco na Heineken é por motivo absolutamente pessoal, claro. Tudo comigo aconteceu exatamente desse jeito, mas óbvio que Ambev, Marlboro, Budweiser (que veio na Copa com o comercial mais legal que já vi), e todas outras empresas que vinculam publicidade em meios de apelo infantil, também são representadas. Não acho que o que a Heineken faz é tão errado, afinal de contas não há legislação especifica sobre isso, e o espaço poderia ter sido comprado por grupos com interesses piores. O amor continua, só guardo magoas pelo Twitter da Heineken Brasil não me seguir.
Acho que discutir apenas a publicidade especifica pra crianças é um equivoco, já que o público infantil não vê apenas aquilo que é feito pra eles. No meu caso, o efeito foi criado, e hoje vivo uma relação de amor que não sei se começou na idade certa. O mesmo poderia ter acontecido com a Feiticeira, meu amor platônico dos seis anos de idade. Infelizmente não aconteceu, então termino com um lado positivo, o agradecimento dos meus pulmões á Rogério Ceni por nunca ter feito propaganda de cigarros.


quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Um Conto de Fadas

Pra felicidade dos meus pais, nunca fui um grande fã dos filmes com princesas. Acredito que nunca simpatizar muito com aquelas verdadeiras mulheres de vida fácil, me motivou a pesquisar algumas coisas e resolver compartilha-las. Só pra contextualizar, Isabel dos Santos, a “Princesa da África”, filha do presidente de Angola e mulher mais rica do continente, fez uma oferta para comprar ações, e consequentemente tomar conta, da Portugal Telecom (a oferta é de cerca de 3,8 bilhões de reais, e o negócio uma coisa bem complicada que envolve até a brasileira Oi).
Até ai tudo normal, afinal de contas empresárias adquirem empresas todos os dias. A questão começa a se complicar quando uma lista simples de líderes há mais tempo no poder é verificada. Depois da morte de Kadafi em 2011, o pai da nossa princesinha adquiriu o posto com folgas e completa em 2014, 35 anos no poder. Normal, ou não para os fãs da democracia, que parece não ser algo muito valorizado por uma série de líderes no continente.
Esse tempo no poder, quer dizer que o presidente que recebeu treinamento militar ainda na URSS, enfrentou a queda do regime soviético, e uma consequente debandada de seu país para o capitalismo. José Eduardo Santos, em uma posição ideológica que no Brasil se assemelha bastante a do PMDB, abraçou de uma maneira convincente o regime econômico, e fez a transição sem grandes problemas, principalmente para sua família.
A questão é que Angola não assumiu muito bem a transição, o país entrou em uma guerra civil que durou até 2004, e apesar de aproveitar o alto ritmo de crescimento econômico do continente, ainda tem cerca de 70% da população vivendo com menos de US$2 por dia. Liberdade de expressão é outro ponto alto do regime de Santos, e o jornalista Rafael Marques, que escreveu o livro Filhinha de Papai: Como uma ‘Princesa Africana’ Acumulou $3 Bilhões em um País que Vive com $2 por Dia” foi preso em 1999 por críticas ao regime.
Até agora Isabela poderia ser um exemplo de sucesso em meio a um país devastado, e como tão ressaltado por ela, sucesso sem grandes influências de seu pai. A questão foi a abertura pro capitalismo que eu me referi. Pegando como exemplo a Rússia, as demandas da população foram passadas a uma série de “camaradas” do governo, e a exploração de recursos naturais, telefonia, e tudo o que o novo país precisa foi distribuído, e levou Moscou a ser a cidade no mundo com o maior número de bilionários.
Segundo os jornalistas que ainda estão soltos no país, e analistas de fortunas, o império de Isabela foi construído a partir das influências que ela tem para empresas estrangeiras abrirem licitações em Angola. Ou por meio de concessões do próprio pai, para esta ser acionária das empresas abertas. Grande exemplo foi a Endiama, criada pelo presidente para a exploração de diamantes no país, e de 25% de posse de Isabela. Depois dos olhos do mundo voltados para a pedra, após o filme “Diamante de Sangue”, a mãe da princesa recebeu estas belas ações de presente.
O que parece é que sem meus gostos quanto a princesas ter grande influência, Isabela continuará como a mulher mais rica da África. Vai comprar a Portugal Telecom. Quem tentar provar algo contra ela tem grandes chances de acabar preso. Mas como eu queria que desta vez a princesa não tivesse final feliz.

domingo, 26 de outubro de 2014

Ele Merece

Vou fazer algo, que infelizmente estou muito pouco acostumado: um elogio. Digo infelizmente, pois ainda mais em nossos tempos, o número de pessoas dignas de receberem uma homenagem como esta é bastante limitado. Exemplo disso é que o personagem do meu logo foi comparado com o talvez último merecedor de um, e com semelhanças bem questionáveis, José Mujica  foi chamado de “Nelson Mandela da América do Sul”.
Tentei votar no uruguaio, que terá seu sucessor definido hoje, mas as opções continuaram sendo Dilma e Aécio. Não deve ter jeito, e parece que vamos ter que pagar salários ao nosso futuro presidente por mais quatro anos. Além de abrir mão do seu ordenado, Mujica fez questão de ir votar com seu tradicional, e nem tão conservado, Fusca azul. A austeridade quase franciscana do presidente, em meio a um continente no qual há praticamente uma disputa entre países para ver quem tem o melhor avião para seu comandante, chega a comover. No entanto, no mundo em que vivemos, analistas pouco entusiasmados sugerem que os ganhos da economia são poucos, e que colocam enorme pressão em futuros políticos para que não recebam um direito legítimo, seus salários.
Particularmente o momento no poder de Mujica que mais me envolveu foi em uma declaração sobre a Síria. O que parecia um discurso leviano, no qual haveria apenas uma contrariedade à violência, sem nenhuma proposta concreta, tornou-se um apelo emocionante pelos órfãos. O uruguaio ofereceu seu país como destino pras milhares de crianças indefesas e inocentes, e foi praticamente ignorado pela ONU, que provou mais uma vez que a burocracia supera de longe fatores humanitários na instituição. Não acompanhei muitas análises sobre a postura do uruguaio, mas espero que ninguém tenha feito como a ONU e colocado política e burocracia acima de órfãos.
A fama do Uruguai, que chegou a ser eleito em importantes publicações como o país do ano, em 2013, evidentemente se deve a maconha. Em um ato de extrema coragem, Mujica se posicionou em um continente absolutamente conservador, contra o tráfico. Dificilmente os avanços em legislações para questões fundamentais e urgentes, como o uso medicinal da maconha, serão dissociados do uruguaio, que sem sombras de dúvidas, já entrou para a história.
Claramente, o conservadorismo está contra Mujica. Friamente analisada, a regulamentação da maconha no Uruguai tem uma série de equívocos, e não deve permanecer da maneira que está no próximo governo. Os anos de mandato do homem do Fusca azul tiveram vários pontos passíveis de crítica, como por exemplo, a tão prezada educação, que ficou bem longe das melhoras prometidas. A questão é que as vezes não precisamos de apenas análises frias, e Mujica provou isso ao dizer que a FIFA era comandada por "velhos e filhos da puta", em uma das falas de personalidades mais interessastes dos últimos tempos.
Óbvio que a declaração foi amplamente criticada, e o presidente foi questionado inclusive se serviria de exemplo para as crianças. Eu acho que serve, e inclusive serve para mim. E deveria servir para todos os chatos e burocratas. Obrigado Pepe.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Meu primeiro “ismo”

Rei Leão, Era do Gelo, episódio de despedida do Pikachu. Esses e outros momentos me marcaram como uma criança normal nascida nos anos 90. A questão que todos que me conhecem sabem, e quem não, basta ler um pouco do que escrevo, é que nunca fui lá o que se pode chamar de normal. Com oito anos de idade tive um trauma diferente, que me motivou a escrever aqui.
O ano era 2004, eleições americanas. A vitória era dada como certa por muitos a Al Gore, ao lado de Oliver Tsubasa, um dos meus grandes ídolos no momento. A questão é que o resultado não foi o especulado, e como todos sabem, Bush assumiu. Chorei bastante. Depois dos quatro anos do governo de Bush, cheguei a conclusão de que tinha chorado até pouco. Entrei na onda de que as eleições haviam sido manipuladas, tentei entender o sistema eleitoral norte-americano (tento até hoje), mas o fato é que minha tão louvável luta contra o aquecimento global sofria ali um grande baque.
Claro que não desisti. Militei ainda por alguns anos contra o desperdício, a favor dos três R’s( reduzir, reciclar e reutilizar) e por muito tempo acreditei que ao lado do Madin Boo, o aquecimento global era o maior mal existente. Os anos passaram, chegaram outros “ismos”, Karl Marx, declarações de que os problemas ambientais não eram tão problemáticos assim, e o Greenpeace acabou perdendo um grande membro.
A questão é que o “ismo” de defender o meio ambiente no final das contas estava apenas adormecido. Nestas eleições, nas quais não tenho intenções de convencer ninguém a votar em nenhum candidato, já que apesar de algumas concordâncias, não consigo ver em nenhum dos três com reais chances de ganhar, uma verdadeira esperança para o país, surgiu uma simpática figura.
Não ter que ganhar as eleições obviamente influenciou na espontaneidade de Eduardo Jorge, ainda assim as brilhantes participações nos debates, dotadas de um bom humor que só me recordo de ver com Plínio em 2010, fizeram com que eu olhasse de uma maneira diferente para o candidato do PV.
O que começou pelo bom humor acabou revelando-se uma semelhança de ideias impressionante. Com algumas discordâncias normais, o fato de no pouco espaço de tempo Eduardo Jorge ter colocado em pauta a situação da maconha e os malefícios dos discursos extremistas de “direita” e “esquerda” me surpreenderam por retratar ali dois temas que acho imprescindíveis.
Fui bastante cobrado ao longo desses meses uma posição quanto às eleições. Agora tenho uma. Podem dizer que vou votar no Eduardo Jorge pela “zoeira”. Não estarão errados. Pela paz e o amor propostos? Também é válido. Em tempos de uma universidade federal, em curso de humanas, fazer uma divagação freudiana sobre um trauma de infância? Justo. Mas vou resumir todos estes motivos naquele rapaz de oito anos de idade, cheio de esperança de mudar o mundo. A chance de ele acabar com o aquecimento global talvez até fosse maior do que a do Eduardo Jorge de vencer as eleições. Mas não vou trair meu primeiro “ismo”. Vou finalizar com a outra possibilidade de título, não escolhida pelo fato de ser muito clichê, amigos: "Salve Jorge".

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

“Oil save the queen”

A referência não tem como fugir ao hino, mas o foco é na música dos Sex Pistols. O contexto do movimento punk tem inúmeras relações com o que vimos na Escócia nas últimas semanas. A principal, e motivadora das outras, é uma crença da população, especialmente jovem, de que eles não são representados pelo governo.
Principalmente nos últimos 30 anos, a crença é extremamente embasada. O conservadorismo, em baixa na Escócia, tem o poder em Londres, ainda que dentre os 59 deputados originados do país do bom whisky, apenas um tenha uma postura conservadora. Postura essa do atual primeiro ministro, James Cameron, e da mais importante política do Reino Unido no período, Margaret Thatcher.
A insatisfação é absolutamente embasada, especialmente na Europa, aonde recentemente o descontentamento chegou até na Suécia e levou uma preocupante extrema direita a ter representação no poder. O ponto chave, é que assim como muitos no movimento punk, o sentimento de mudanças assumia grandes riscos caso estas acontecessem, e foi o que a expressiva votação do “sim” mostrou.
O risco que uma independência escocesa representava foi extremamente abordado, ainda assim a intenção de mudar mesmo que com um “tiro no escuro”, teve enorme apoio. Em meio a uma Europa em grave crise econômica, pareceu razoável para muitos fundar toda uma estrutura econômica, sem sequer uma moeda definida, e nem saber se teria uma entrada garantida na União Europeia.
O nacionalismo escocês não tem grande apelo, e inclusive ficou bem de fora das discussões no referendo, que focaram, sobretudo em questões políticas e econômicas. Não há grandes semelhanças no movimento escocês com o basco, por exemplo, já que gaitas de fole a parte, a identidade britânica é marcante no país.
Preocupa a ideia de que qualquer mudança é bem vinda em meio a situações adversas, e sem precisar citar as atrocidades do século passado, temos como exemplo as últimas eleições do parlamento europeu nas quais houve uma enorme adesão tanto de extrema esquerda quanto de direita, que coloca ainda mais em risco a estabilidade do bloco. Deixando claro que a autonomia escocesa poderia ser uma grande brecha para extremismos, ainda menos presentes no Reino Unido que em vizinhos como a França.
Uma das grandes apostas dos apoiadores de uma separação é uma teórica autossuficiência petrolífera da Escócia. Reforço “apostas”, já que não havia dados concretos de até quando o combustível duraria, e poderia a Escócia cair no grave exemplo grego em que reservas foram supervalorizadas e a real condição acabou contribuindo para a grave crise no país.
A incerteza quanto a essas reservas foi um dos grandes argumentos dos que eram contra a independência e ilustra bem o quanto era arriscado o plano dos escoceses. No fim das contas o “oil” acabou contribuindo para o lado racional, já que com um plano econômico definido, a Escócia aguarda concessões de Londres para tentar ao menos representar mais os escoceses. Em um Reino Unido com tantos problemas em relação a “God”, especialmente na Irlanda do Norte, vou terminar dizendo que o “oil” salvou a Escócia, o Reino Unido, e a Europa.

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Teoria da relatividade

Tudo é relativo. O sucesso de alguns é determinado muitas vezes pelo quanto a pessoa consegue assimilar este fato. Parece que Obama conseguirá salvar sua imagem em relação à política externa por ter entendido bem a relatividade no mundo. Seu antecessor, Bush filho, deve grande parte do seu insucesso a uma ideia medieval de classificar o mundo entre bem e mal.
E não bastou para Bush classificar mentalmente. Criou o “eixo do mal” e enfraqueceu bastante as relações com aqueles que não se enquadravam nos ideais do republicano. O resultado foi o fracasso no Iraque, que reflete na atual crise, o relativo insucesso no Afeganistão, e uma das piores avaliações de um presidente norte-americano na história.
Os erros causados pela infantilidade de Bush em classificar o mundo em bem e mal, refletiram diretamente nas opressões xiitas do governo iraquiano, e como consequência no sentimento de revolta sunita que levou a criação do ISIS. O grupo surgiu em meio a um Iraque em colapso, no qual a região em melhores condições era o Curdistão, que deteve enorme autonomia do governo de Bagdá.
A revolta ignorada gerou uma das maiores barbaridades do século XXI, não suficientemente retratada por conta das dificuldades envolvendo coberturas jornalísticas, que costumam acabar em sequestros e cenas lamentáveis. Cristãos, curdos e xiitas são também vítimas de atrocidades da mesma intensidade dos jornalistas, ainda que pouco noticiadas.
Sem intervenção nada disso acaba, e quem sabe quais serão os estágios atingidos pelo grupo, que se auto intitulou Estado Islâmico justamente pelas limitações que a sigla ISIS, referência à Síria e Iraque causam. Uma expansão para o Afeganistão é cogitada e segundo alguns, já foi concluída. A questão, e ai que entra a grande diferença de Obama, é que os EUA nunca conseguiram atingir seus objetivos no Oriente Médio sem uma coalizão, a única que vez que o fizeram, foi com o pai de George Bush, na Guerra do Golfo.
Provavelmente a investida na Síria para tirar Assad do poder teria sido mais um desses fracassos, e com a irônica consequência de que o grupo mais cotado para assumir seria justamente o ISIS. Assad é péssimo, atenta contra os direitos humanos, usou armas químicas, mas consegue ser mais estável e confiável do que o ISIS. Obama usou a relatividade, ou o bom senso, e usará Assad enquanto for conveniente, e o Goleiro Bruno Sírio faz justamente o que lhe convém, se mantém no poder a todo custo.
Um dos principais aliados de Obama será o regime xiita do Irã. Neste momento a relatividade do democrata se faz ainda mais presente. Os EUA, ainda que com imensa cautela quanto ao anúncio oficial, irão se unir contra um inimigo comum com um integrante do “eixo do mal” de Bush. O que muitos podem ver como ironia, para mim é mero bom senso.
“O Estado Islâmico não é um estado” e “O Estado Islâmico não é islâmico”, gostei do discurso de Obama. Evidentemente, gostei da coalizão. A grande questão é o que se dará a seguir no imprevisível Oriente Médio, já que há um ano, me faltava capacidade de relativizar, e, portanto eu não via opções muito piores do que Assad. A questão é que mais uma vez tenho de criticar o extremismo, por conta de ouvir frases como: “A Al Qaeda perto do EI é um grupo de escoteiros” ai, ainda mais em um  “11 de setembro”, fica bem complicado de relativizar. 

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Um bom motivo


Acho que enfim eu consegui um bom motivo para gostar tanto de política internacional. Ainda não é definitivo para explicar como alguém consegue se interessar pelas eleições no Afeganistão, mas é um começo. É possível enxergar a geopolítica como um universo infantil extremamente interessante, vou explicar nas próximas linhas.
Começando pela última instância de qualquer problema internacional, a guerra. A guerra não é nada mais do que a “Lei do Mais Forte” que todos nós vivenciamos quando somos menores, na qual qualquer problema é resolvido com força. Logo nos primeiros anos de vida isso se resume a algumas dentadas. Algumas pessoas parecem não entender que dentadas em quem se tem problemas se resume a estes momentos, mas enfim, não vamos perder o foco.
Eu como sempre tive um biótipo que rendia apelidos com “chassi de grilo” e “frango da Sadia”, costumava buscar soluções mais estratégicas do que a briga. Levando isso para o contexto internacional, seria como o México, que nunca teve grande força militar, mas compensou isso com alianças com o valentão Estados Unidos.
O outro extremo é daquele que têm os músculos. Evidentemente ele vai querer usar sua força para resolver seus problemas, e a manifestação mais clara disso é a Rússia atual. No caso do país de Putin, centímetros a mais e um pouco de força física são substituídos pelo segundo maior arsenal bélico do mundo, detalhe. O ponto é que a crise na Ucrânia deixou claro que os argumentos da Rússia são bem semelhantes aos do nosso valentão, que na maioria das vezes não era um cara muito esperto.
Outra analogia que eu acho interessante é a do bem que movimenta todas as relações. No caso da política internacional é o petróleo. Já na infância ele varia, e fica bastante evidente nas figurinhas da Copa (que devem ser derivadas do ouro negro). Para consegui-los vale tudo, e atire a primeira pedra quem nunca trapaceou no bafinho, surrupiou uma figurinha faltante ou invadiu o Iraque em busca dos seus objetivos.
Rivalidades tolas muitas vezes ditam as regras na infância e não é diferente quando adultos estão se relacionando internacionalmente. Perón tinha problemas com o Brasil e não fazia nenhuma questão de negar isso, o que afetou as relações diplomáticas de Argentina e Brasil por muito tempo. Inclusive a ausência da Argentina na Copa de 50 foi por conta do país ter tentado sediar a competição e perdido para seu rival. Muitos devem o veto do Brasil ao Conselho de Segurança da ONU á oposição Argentina, que claramente seria motivada pelo interesse de estar lá ao invés do povo tupiniquim.
Alguns mais exaltados quanto às teses imperialistas podem dizer que o neoliberalismo não é nada mais do que os mais fortes indo até os mais fracos para tomar o dinheiro do lanche. Acho que este argumento se expresso sem grande extremismo tem valor, mas não vou me ater a ele.

E evidentemente posso estar completamente enganado em tudo isso que escrevi. Mas eu queria terminar ressaltando duas coisas: tem muito cara de melão falando de geopolítica. E que bom seria se palestinos, costa marfinenses e tantos outros pudessem simplesmente chegar a suas casas e saber que a mãe ONU vai resolver seus problemas. 

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Um País de Anões?

Não quis escrever sobre Israel e Hamas nos últimos dias pelo simples fato de que praticamente tudo o que é escrito ou dito sobre o conflito é leviano. Quando há alguma posição concreta normalmente é de um caráter antissionista nem um pouco velado. O que me motivou foi o posicionamento do governo brasileiro, que não tem outra atribuição a não ser: pífio.
Segundo as declarações brasileiras, a impressão é a de que o conflito é um mero massacre gratuito de palestinos em Gaza. O repúdio ao fato de crianças estarem morrendo é justo, e espero que seja a sensação de todos os brasileiros. No entanto a visão unilateral do conflito não ajuda em nada para que tenhamos enfim o sonhado cessar fogo.
O conflito ocorrendo em Gaza não é entre Palestina e Israel. O conflito é entre o Hamas e Israel. A Autoridade Palestina é neutra na situação e a favor de um cessar fogo imediato. Os EUA, tradicionais aliados de Israel são a favor de um cessar fogo. A ONU, a UE e qualquer outra entidade com um mínimo de bom senso é a favor de um cessar fogo imediato.
A questão não é se a pessoa acredita no Priorado de Sião, se é a favor da criação do Estado da Palestina, se acredita que judeus merecem o território após o Holocausto, nem nada disso. É o simples bom senso de parar uma ofensiva militar que vai matando cada vez mais inocentes, e algo que parece ser muito difícil para o governo brasileiro: se opor a um grupo terrorista que recusa um acordo de paz.
A declaração de que o Brasil é um “anão diplomático” foi absolutamente lamentável. O Burundi não deve ser considerado um país sem representação diplomática. A questão é que a manifestação brasileira não contribui em nada com o fim do conflito, e apenas embasa os argumentos terroristas de rejeitar um cessar fogo por conta da ofensiva de Israel.
Se há um lado positivo é que embasando a causa do Hamas, o Brasil se opõe aos interesses de Assad, que após uma traição do grupo terrorista, passou a ser um dos maiores inimigos destes. Quanto ao resto do conflito, acredito que os noticiários são suficientes para mostrar que qualquer posição além de um cessar fogo é um absurdo.
Na manifestação do governo brasileiro há uma posição de acabar com o conflito, a questão criticada por Israel é que o Hamas foi absolutamente ignorado, assim como qualquer outro grupo terrorista. O que reflete que sim, a política brasileira foi anã. Não sei se por desconhecimento ou por interesse, mas o erro ocorreu. Tomara que em contrapartida a decisão “anã” na seleção brasileira tenha sido um acerto.

  

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Pelo Menos (na bola)

Falar qualquer coisa depois de uma derrota dessas é muito mais fácil. Vou falar de uma, que em meio ao meu otimismo, me preocupava bastante. Pensei em falar antes do jogo contra a Alemanha, mas não deu e agora fica pra cada um acreditar se eu pensava assim, ou não.
Eu não acho que brasileiro gosta tanto de futebol bonito. Pra mim, na seleção, brasileiro gosta é de história. Essa paixão pelo futebol bonito pra mim fica clara que não é tão importante nos clubes em que três títulos brasileiros consecutivos jogando feio valem tanto quanto três encantando o mundo. Mas talvez pela necessidade de vencer seu vizinho de porta, uma história não é tão importante. Vale lembrar que o título de 2009 do Flamengo em que houve a recuperação de um imperador e de uma múmia(eu disse isso antes dele começar a jogar tanto), daria um baita roteiro e foi pouco explorado.
Mas na seleção é diferente, e vamos então para as cinco glórias da canarinho pra exemplificar isso:
1958: depois de perder tragicamente no Maracanã o título de campeão do mundo, um menino de nove anos de idade prometeu a seu pai que traria aquela taça para terras brasileiras. Oito anos depois, aquele menino, então com 17 anos, conquista o mundo, e várias suecas, jogando um futebol fora do normal, a taça do mundo era nossa. E com um roteiro melhor que muito filme patrocinado pela ANCINE.
1962: o título era nosso, a seleção tinha Pelé e o anjo das pernas tortas que nunca perderam jogando juntos. Não tinha como não levar o bi, até que Pelé se machuca. Acabou, não dá pra ganhar sem o melhor do mundo. E então entra em campo com a pressão de substituir Pelé, o pouco badalado Amarildo. Ele vira o "possesso", e com Garrincha (que destruiu o futebol científico em dois minutos*) nos guiam até o título com uma história mais dramática que filme iraniano.
1970:  melhor time da história, com completos ídolos em seus clubes e enfrentavam os malvados ingleses. Com um roteiro bem hollywoodiano vencemos aqueles arrogantes que ousaram recusar a água do hospitaleiro povo mexicano, com o México em festa e um futebol espetacular, o tri é nosso.
1982: não é 94, não mesmo. Confira, eu disse glórias, não títulos. Em uma visão completamente diferente da minha de futebol, eu garanto que os brasileiros como um todo trocariam sua quarta estrela por um simples 82 acima do escudo da seleção. Um time que como em 70 reunia craques de grandes clubes brasileiros, mas com uma diferença: esses heróis lutavam contra a ditadura. Sócrates, craque do time, participava de comícios e chegou a fazer parte da "Democracia" nos tempos do condor. Amamos esse time como uma adolescente ama "Harry Potter".
2002: Diziam que 98 havia sido vendido. Uma convulsão sem registros na história do futebol tirou nosso craque da final. E ele pouco tempo depois sofre uma lesão no joelho que segundo muitos iria acabar com sua carreira. Apesar de não gostar de futebol na época, acho que 2002 é bem resumido no dia em que andando com meus país no meio da rua parei para ver a propaganda com Ronaldo e a música "Tente outra vez".
E 2014? Com todo respeito ao gênio Neymar, e a outros bons jogadores da seleção, qual era a história? Um rapaz que nunca teve grandes problemas e era milionário com 14 anos(PELO AMOR DE DEUS, EU NÃO VEJO DEMÉRITO NENHUM NISSO), e outros desconhecidos dos clubes brasileiros, erguendo a taça em casa?
Agora amigos, a história é outra. Nosso craque sofreu uma entrada desleal que o tirou da conquista de seu maior sonho. Fomos completamente humilhados de uma maneira que nenhuma seleção grande nunca havia sido, em casa. A história pro hexa tem tudo pra ser um dos maiores filmes de todos os tempos. Dessa vez eu poderei enfim ser campeão tranquilo.
*Se você gosta de futebol e nunca assistiu aos tais 2 minutos, faça-o o mais rápido possível.

Pelo Menos

De uns tempos para cá eu refleti e tomei para mim duas coisas, bem expressas nessa minha frase "se foder é inerente ao ser humano. Saber rir disso e tirar o lado bom é o que faz a diferença". Fiquei arrasado no 8 de julho, como eu disse, chorei mais que preparador físico do Adriano. Depois disso comecei a rir de algumas ótimas piadas e eu tenho a convicção que quanto a rir de si próprio, só nós e os ingleses temos tamanhas capacidades. Mais um orgulho dos donos do futebol.
Faltava o outro lado, o tal "pelo menos". Pensei bastante, até algumas piadas, reflexões futebolísticas que posso ou não tornar públicas depois, mas o mais importante saiu depois de ouvir um comentário do Paulo Calçade, comentarista da ESPN. Ouvi muito pouco, mas sintetizando, Paulo dizia que no futebol alemão não tinha esquemas, não tinha dinheiro que não se sabia de onde vinha, e daí podemos imaginar o resto.
Um dos pilares de um homem para mim é a convicção. Uma das minhas é que para escrever neste blog, eu iria usar meu mero conhecimento, então lhes privarei de uma informação mais precisa, mas de cabeça é disso que eu lembro: há uns dois meses atrás, o presidente do Bayern de Munique( o novo exemplo de futebol para nossa imprensa), foi afastado de seu cargo por envolvimento com um dinheiro bastante errado. Mas isso não importa, afinal eles ganharam de 7x1 e tudo é perfeito.
Nos programas de esporte eu consigo ouvir na hora que eu quiser que o Felipão errou e cometeu suicídio ao jogar aberto contra a Alemanha. Um canalha desatualizado que fez uma péssima Copa e que deveria saber disso ao enfrentar os alemães. Você também pode ouvir, é só ligar sua televisão. Mas poucos, e eu sou um desses, que conseguem imaginar os mesmos comentaristas, em caso de uma derrota apertada de um Brasil retrancado dizendo: Felipão é um covarde, treinador da seleção brasileira e se comportou como se tivesse treinando seu time de Passo Fundo, era melhor ter aberto o time e levar de sete, dez, mas jogar como o Brasil, manter a dignidade.
Consigo ouvir a mesma situação em relação ao clima criado pelo caso Neymar, que hoje é execrado, já que os jogadores deram foco demais a ausência do gênio ao invés de focar no jogo. Em caso de vitória brasileira( isso sim eu tenho dificuldades de imaginar), a união do grupo para superar as dificuldades seria um exemplo a ser seguido por todos os brasileiros.
Entenderam, né? Se não, me dê qualquer uma dessas listas dos erros do Brasil na Copa e eu te digo como tudo aquilo teria uma outra conotação em caso de outro cenário fora dos 7x1. A Alemanha é perfeita, enquanto a outra finalista da Copa tem problemas graves de gestão, e na minha opinião problemas bem mais graves em relação as torcidas organizadas e a sua federação do que a nossa.
Chegamos na hora do pelo menos. E ele é bom só pra mim, desculpa ter feito você ler até aqui se estivesse querendo um consolo. Eu cheguei na faculdade de Jornalismo absolutamente determinado que meu foco seria trabalhar com política internacional, a ausência de futebol neste blog prova isso. Mas como eu previa, eu gosto demais de futebol, e as oportunidades para falar disso eram tentadoras. Entrei para a equipe esportiva da FACOM, e aquilo parecia cada vez mais uma possibilidade real de trabalho para mim, uma escolha óbvia de unir o útil ao agradável.
Até refletir sobre a imprensa de resultado que iria me empregar. Um grupo que fala mal dos treinadores por seu futebol de resultado, mas não teme em trocar suas convicções por alguns pontos no IBOPE. Uma imprensa na qual comentaristas elogiam até criminosos desde que isso comprove suas opiniões para vender jornal. Lembram que eu disse que um dos pilares de um homem para mim é a convicção? Pois é, a minha agora é de continuar com a geopolítica, já que Iraque e Israel não pararam durante a Copa. Para os muitos amigos que seguirão na profissão, desejo todo sucesso do mundo, sério. Durante a Copa ganhei a alcunha de Filósofo da FACOM, e para honrá-la vou terminar o texto citando um professor que tive: "Menos um concorrente."

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Uma pedra no caminho e outros pitacos

A arma de Putin
Em um dos brilhantes episódios de Simpsons, infelizmente não me lembro qual, Homer parecia em uma situação desfavorável, até que solta a seguinte frase: "Você só não contava com uma coisa: a minha indiferença com a vida humana." E é essa uma das principais armas de Putin no "xadrez" da geopolítica mundial. Enquanto europeus temem a falta de gás, Putin simplesmente ignora sanção após sanção, já que os anseios de sua população claramente não são prioridade. Isso ficou claro há cerca de uma década, quando ele resolveu uma situação na Chechênia ordenando a invasão de uma escola primária. O resultado foi de centenas de crianças mortas, e uma placa, que para o homem forte de Moscou bastou para honrar a vida delas.
É a água?
Depois da fixação com o caso Christie, voltamos com um outro prefeito vizinho, igualmente surreal. Toronto vem tendo dias um tanto quanto inesperados para o Canadá. A grande mobilização na cidade é quanto a não deixar que o atual prefeito se candidate para as eleições desse ano. Até o ano passado, quando ele havia sido flagrado fumando crack apenas uma vez, parecia que estava tudo bem. Mas neste ano, a reincidência deixou os canadenses indignados e parece que ficou ruim para o prefeito. Definitivamente, tinha uma pedra no meio do caminho.
Entre Lula e Putin
Eu costumo voltar minhas atenções para algumas figuras. Nos últimos meses, Erdogan foi uma delas. A narrativa de seu AKP e o PT tem semelhanças impressionantes. Até denuncias de corrupção que ajudaram a motivar manifestações populares. O homem forte da Turquia também tem grandes semelhanças com Lula, a diferença é que seu país permite que ele fique mais tempo no poder, e inclusive que concorra à eleições nesse ano. Mas Erdogan esta aqui pelo seu comportamento "putinesco" na última semana.
Um acidente em uma mina de carvão mata centenas de pessoas no seu país. E não foi o primeiro acidente na mesma mina durante sua gestão. E sua resposta é de que acidentes em minas de carvão são normais e aconteciam na Inglaterra no século XIX.
Criemos então o "Erdoganismo". Segundo ele, a escravidão seria aceitável, já que ela existia em vários países durante o século XIX. Na mesma argumentação, ele disse que os acidentes também aconteciam nos desenvolvidos EUA do século XX. Então vamos negar tudo o que foi conquistado em relação a direitos civis, já que negros deviam ceder lugar aos brancos em ônibus nos mesmos EUA do século XX.
E pra fechar, Erdogan mandou enterrar todos os mortos em uma cerimônia comum. Eu duvido que Homer Simpson ficaria indiferente dessa vez. E se tudo isso não bastou, vale lembrar que ele fechou o Twitter na Turquia.

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Assad, o Bruno sírio

Eu tenho uma frase, não é genial nem nada, mas cabe bem aqui. Costumo dizer que não sei se o mundo tem uma mão, mas se tiver, com certeza o Bruno anda na contramão. Estamos falando da fera que em liberdade, chegou na imprensa e perguntou, da mesma forma que alguém pergunta quem nunca comeu Danoninho, quem nunca havia batido na mulher. É tão absurdo que paro por aqui.
Agora que já o apresentei, vamos falar do que realmente deixou o goleiro famoso. Acreditando que poderia perder parte do seu império(algumas granjas no interior de Minas), Bruno resolveu acabar com a vida de Elisa Samudio. Depois, seus capatazes se livraram do cadáver da moça, e o ex-jogador seguiu negando no processo que tivesse qualquer participação no crime.
E agora falando de quem interessa, temos Bashar Al-Assad. Assad também queria proteger seu império, este estava sob ameaça após o estouro da Primavera Árabe, que vinha com a promessa de livrar o Norte da África e o Oriente Médio de seus ditadores. A diferença de Assad para Bruno é que o patrimônio do sírio não é de algumas granjas, e sim de uma das maiores potências da região.
Para mantê-lo, Assad não poupou esforços. Buscou ajuda russa e chinesa para armar seus Macarrões, e mantém por três anos uma guerra civil que já matou entorno de 150 mil pessoas. Milhões de sírios já fugiram para países vizinhos, e inclusive a Turquia já começou a construção de um muro para conter o debandada.
Bruno quando foi preso, disse que iria rir disso tudo e que jogaria a Copa de 2014 no Brasil. E Assad concorre ás "eleições" no próximo mês. Segundo a mídia local, quando indagado sobre o que achava de uma candidatura em meio a guerra civil, teria dito "Que guerra?"
Lembrando sempre que a equipe aguardou a convocação de Felipão, e vale ressaltar que até o momento Bruno não esta nos 23 jogadores que defenderão o Brasil na Copa. Já Assad é o favorito a vencer o pleito local. Teria falhado no que o goleiro?

quinta-feira, 24 de abril de 2014

O SPC russo

Na coluna de hoje, nossa graduada equipe resolveu compactuar com o recente reconhecimento de Valesca Popozuda como expoente da cultura popular, e ficou resolvido que homenagearíamos  o espetacular e genial filósofo moderno Alexandre Pires, que acima de tudo é mineiro. Tentamos relacionar um pouco de sua grande obra com o atual momento crítico entre Rússia e Ucrânia.
Primeiramente, vale ressaltar a ação de Putin na Crimeia, território conquistado sem qualquer intervenção militar significativa, apenas inflamando um teórico espírito russo, em uma região diariamente bombardeada com acusações ao governo provisório, que iam desde supostos posicionamentos nazistas, até ao comunismo. O resultado como sabemos, foi uma eleição com 95% de apoio a adesão à Rússia, em meio a uma população de 15% de tártaros que haviam indicado que votariam contra a anexação. Em outra situação intervencionista, seria algo completamente fácil a contestação das eleições por parte da comunidade internacional, já com nosso Putin "come quieto", valeu tudo isso, e o maior país do mundo cresceu ainda mais.
A estratégia é semelhante a adotada em Donetsk, e pelo que especialistas indicam, Putin quer "botar pra quebrar" até chegar em Odessa. Caso o russo mais mineiro de todos consiga tal feito, praticamente anula todos os esforços da população ucraniana que tentou aderir a União Europeia. Lembrando sempre que a anexação dos tais territórios que buscam se separar é surreal, e não deve acontecer por muitos e muitos anos. Ainda assim, manter praticamente metade do país dos Shevchenkos em sua influência, é uma conquista difícil, e apesar de posicionamentos favoráveis ou contrários, tem de ser reconhecida.
Tudo isso em meio ao governo de Obama, que chega a ser apontado como o mais omisso da história. O chefe de um país que apenas 1/6 de sua população conseguiu localizar a Ucrânia no mapa mundo, e cerca de 80%, segundo algumas pesquisas, são contrários a qualquer intervenção militar no Leste Europeu. Parece que os americanos enfim se cansaram de seus soldados morrendo tão longe por países que eles sequer sabem onde ficam.
Do homem que chegou a aparecer na mídia por conta de uma relação com um leopardo, de fato "não tem como duvidar", e não sabemos até onde o expansionismo saudosista pode chegar. O problema é que tártaros, e todos os outros ucranianos que brigaram tanto para conseguir enfim se afastar da Rússia, e se aproximar da UE, tem muitos motivos pra não achar nada disso "tão maneiro uaí" e muito menos "bom demais".
Queria deixar claro que minha intenção era falar sobre Assad, que indicou que vai participar das próximas eleições da Síria em junho. Mas não tive o sangue frio suficiente para falar do Goleiro Bruno do Síria. Pode ter ficado para a próxima, ou não.

sábado, 22 de março de 2014

1994: o ano que não terminou

A posição da Rússia em relação as outras ex-repúblicas soviéticas preocupa o mundo. O imperialismo do governo, envolto a um saudosismo da recentemente extinta URSS se contrapõe ao resto do Ocidente e quem sofre é a população das agora nações independentes. Enquanto isso um país não ocidental assiste a uma matança indiscriminada, que é levada adiante em grande parte pelo descaso das principais potências.
Este foi 1994. Mas poderia ser 2014, a diferença esta nas proporções, e felizmente não há nenhum Milosevic praticando genocídio ou ruandenses matando 1 milhão de compatriotas em 100 dias. Lembrando disso Sebastopol parece um playground.
Mas nem tudo melhorou tanto. O fato de a China ter sido grande financiadora na tragédia em Ruanda, e ser uma das grandes apoiadoras do atual regime sírio preocupa, e muito, como a 20 anos. A diferença esta na OTAN, que ficou cada vez mais enfraquecida, assistindo a Rússia e aos chineses ficarem cada vez mais poderosos. As atuais crises na Ucrânia e na Síria, com o Ocidente sendo omisso de uma forma poucas vezes demonstrada antes, só prova isso.
O que não mudou, e eu sinceramente quero saber se estarei vivo para ver alguma alteração, é na valorização da vida pelas nações do Ocidente. A matança que em pouco mais de três meses matou tantos quanto 20 anos de homicídios no Brasil, teve a péssima ideia de ocorrer paralelamente a uma crise na Europa. Entretanto, na Síria a guerra já vinha ocorrendo, e matando centenas de milhares, a alguns anos. E enquanto isso, a nem tão longe assim Crimeia teve sua situação aparentemente resolvida, sem nenhuma morte por facão, serra elétrica ou gás sarin. Enfim, Yanukovich saiu, a Crimeia votou em um mês; Assad usou armas químicas e continua a três anos.
Vale lembrar que em 94, na última Copa do Mundo na América quem se deu bem foi o Brasil. Se isso for como há 20 anos atrás, eu não reclamarei. Já quanto ao inchado orçamento que parece ter crescido em proporção a diminuição do número de mortes anteriormente citadas, tem tudo pra ser assunto até 2034.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Foco Desviado

Passei por mais uma situação absurda pra não dizer surreal no Estádio Municipal. Desta vez nenhum massagista resolveu invadir o campo e evitar um gol, mas pra mim seguiu nessa linha. Entrei no estádio, e como sempre na revista policial me pediram para levantar a camisa. Quem me conhece sabe que não ostento grandes números na cintura, e inevitavelmente uma parte pequena da minha cueca apareceu, longe de ser por modismo ou estilo, pura magreza. E neste momento o senhor policial disse para mim: "Levanta essa bermuda ai!" Fingi que não entendi e perguntei o que ele tinha falado, e então ele respondeu: "Levanta isso ai, tá cheio de mulher lá dentro."
Na hora não dei muita atenção e fui ver a vitória do Tupi por 2 a 0 contra o Atlético (tinha que citar isso, não acontece sempre), mas depois pensei no policial. Enquanto a cidade tem taxas de violência que vem fazendo frente a qualquer cidade nordestina, a preocupação daquele que tem que garantir a segurança da população era o quanto a minha cueca estava aparecendo? Caso este texto chegue ao senhor, sugiro que repense na sua carreira, o mercado para consultores de moda parece estar em alta, e suas preocupações estão mais perto disso do que com a segurança da população.
E enquanto isso outras bizarrices envolvendo a segurança da cidade eram evidentes, como o fato do ônibus do Atlético ser completamente escoltado na permanência do time na cidade, enquanto no mesmo sábado o Largo do Riachuelo seguia sem nenhuma proteção e um paraíso para delinquentes. Vou parar de citar por aqui pois quem mora em Juiz de Fora não precisa ouvir mais relatos sobre a violência na cidade. Precisamos de ações, e neste momento a minha será endireitar a minha bermuda para sair na rua antes de ser abordado pela polícia.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Dois Trapalhões e outros pitacos

Caso Christie
Quem me conhece sabe o quanto eu fiquei perplexo com a mulher que recentemente levou uma "porco-espinhada" na cabeça. Eu me imaginei andando na rua e de uma hora para a outra tem mais de 150 espinhos no meu corpo. Mas o ser humano consegue se superar e quem acompanhou o noticiário nas últimas semanas viu o que o cidadão Chris Christie conseguiu fazer: governador de Nova Jersey e membro do partido republicano Christie queria apoio democrata nas últimas eleições. Quando teve o apoio negado pelo prefeito de Fort Lee o governador simplesmente resolveu bloquear o tráfego na principal via de acesso da cidade, uma ponte que segundo especialistas é a mais movimentada do mundo. Por puro "chilique" como uma criança muito mimada, uma das principais figuras dos republicanos para as eleições de 2016 ficará sem o cargo de presidente. Já que apenas uma trapalhada do Tea Party pode tirar o partido do poder. Além disso responde por processo de 6 pessoas que sofreram danos com o fechamento da ponte, e há até mesmo o risco de perder o cargo como governador. Nada se compara com o Padre do Balão que perdeu a vida daquela maneira, mas o suicídio político de Christie entra no mesmo ramo.
Sochi
Não sei o que foi pior escolhido para essas Olimpíadas de Inverno, se foi o momento ou o lugar. Os dois são péssimos diga-se de passagem, e as recentes promessas de ataques terroristas só reforçam o fato. Com possibilidade de boicote, Putin, eleito o homem mais poderoso do mundo no ano passado, não vai deixar que as ameaças separatistas ditem as regras no evento. E Putin já mostrou que não negocia quando ordenou o ataque que matou centenas de crianças na Chechênia há alguns anos. A repressão durante o evento será imensa o que pode enfraquecer a política russa no cenário internacional e levar a reações nas complicadas Síria e Ucrânia. E caso as promessas sejam cumpridas poderemos ter uma nova Munique em 72, no entanto com aviso prévio.
Primavera Árabe 
Completamos nesse mês três anos do inicio do movimento. No Egito o saldo é de duas deposições e dezenas de milhares de mortos. Na Síria centenas de milhares na mesma situação, milhões de refugiados e Assad candidato à reeleição. Mas vamos olhar para o copo meio cheio. E o melhor ficou com os EUA, que parece que Vietnãs e Iraques depois entendeu que não precisa de mandar soldados para a morte em outros países. O petróleo vai continuar chegando do mesmo jeito, aliados aos sauditas ou até mesmo ao Irã. Mas é mais interessante manter os americanos consumindo os bens produzidos do que matando civis inocentes a milhares de quilômetros de distância. Obama foi omisso na Síria, mas acertou e muito mantendo os americanos na América.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Escolha Certa

Era um garoto que era eu. Não amava os Beatles e nem os Rolling Stones. Na verdade gostava de funk, sabia as letras do Bonde do Tigrão e de quem mais fazia sucesso na época. Andava com um cordão "de surfista", sem camisa e abanando os braços e se achava o cara mais malandro do Paineiras e adjacências.
E então aconteceu o fato que gera este texto. Fui na casa dos meus avós em um bairro afastado do Centro. Joguei bola com uns colegas e depois disso uns rapazes mais velhos resolveram me interrogar: "Playboy, sabe o que é CV?" e respondi "Sei, é Comando Vermelho, uai!" "E ADA?" "Amigo dos Amigos, não é?"
Eu tinha acertado, logo parecia que tinha me enturmado, até que chegou uma das perguntas mais difíceis da minha vida: "E você é de qual?" a resposta era mais complicada do que parecia. Dependendo do que eu falasse as coisas poderiam ser diferentes. A situação era semelhante a quando te perguntam se você é de "direita ou de esquerda", "democrata ou republicano". Aquela resposta valia muito.
Então comecei a analisar: com qual dos dois eu me identifico mais? Quais eram os métodos dos dois? E nisso ouvi um: "Responde playboy, qual dos dois?" Foi quando eu lembrei que já tinha escutado naquela região um funk parecido com: "Comando tú passa mal, porque Comando é vermelho(...)" Foi ai que ignorei as diretrizes dos dois lados e respondi: "Sou CV!"
Eu tinha acertado. Era um deles. Não sei por quais motivos eles escolheram o Comando Vermelho, mas a partir de agora eu era CV. No entanto a alegria durou pouco. Algumas semanas depois levei minhas figurinhas do Campeonato Espanhol 2004/05 para a casa dos meus avós. Mostrei para meus colegas, e quando voltei para casa e fiz a recontagem, faltavam várias. Fui tirar satisfações com meu companheiro de CV e ele começou a me encarar. Aconselhado por meus amigos recuei para a casa de meus avós.
Nunca mais vi meus companheiros de CV. Isso não é um bom sinal pela vizinhança. Não sei que destino tiveram, se viraram de esquerda e depois a abandonaram  como eu, ou se viraram ADA. Se foram presos ou ficaram ricos. Mas eu até hoje quero saber o que defende o CV.