segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Como seriam os países mais ricos do mundo no Brasileirão?


É óbvio que o que vou tentar fazer aqui é impossível de ser algo exato e levado como uma verdade incontestável, por um motivo muito simples: futebol não é geopolítica, muito menos economia e os times brasileiros são bons exemplos disso. Ainda assim, acredito que esse tipo de comparação tende a ser válida para tornar termos complexos mais palpáveis ao cotidiano. O que estará em questão aqui é a avaliação dos mercados para as 20 maiores economias do mundo nos últimos anos, sem necessariamente levar em conta o tamanho do PIB ou a importância do país.

O Brasil seria como o Fluminense, fez algumas escolhas controversas, com aviso prévio de boa parte da mídia. Essas acabaram criando conflitos internos, culminando em resultados ruins que só acirraram os ânimos de todos e geraram ainda mais desconfiança. Seria um time de meio de tabela caso não fosse a apresentação de um relatório deficitário nas contas públicas, e como muitos sonham no futebol, o mercado acabou agindo como um fair play financeiro, tirando boa parte da confiança no Brasil e colocando o país próximo da zona de rebaixamento. Os dois tem um problema claro de estrutura, já que o Fluminense não tem uma defesa confiável desde quando Thiago Silva era do clube, e o Brasil, apesar do crescimento, nunca fez os investimentos necessários em infraestrutura, o que nesses tempos de crise se mostrou um grande equívoco. A situação é muito ruim, mas vale lembrar que ainda se trata da elite econômica global e que já superamos adversidades maiores, não vamos sequer precisar de viradas de mesa. E claro, assim como no Brasileirão que tem o Vasco, há gente pior.

Um líder falastrão autoritário, que gosta de se meter onde não tem mais como apitar tem muitos anos. Putin ou Eurico, o fato é que a semelhança entre as duas figuras ajudou a colocar tanto a Rússia como o Vasco no fundo do poço. Soma-se a isso a extrema dependência de peças que há alguns anos renderiam bastante, mas que não estão bem hoje em dia, como Dagoberto, Guiñazu, petróleo e gás natural.

Com constância no topo e ótimos resultados nos últimos anos, a China seria o Corinthians. O fato dos dois serem tão importantes e estarem bem faz com que qualquer crise, seja uma queda na bolsa ou um resultado ruim fora de casa, tenha enorme repercussão e já coloque em cheque todo o êxito dos últimos anos. Ainda assim segue no topo, mesmo com os alardes na imprensa.

O Flamengo seria a Índia. Enorme, mas normalmente com uma administração confusa, às vezes se acerta e consegue grandes resultados que animam a todos, especialmente a mídia. Os resultados econômicos indianos já viraram rotina em publicações como a The Economist e a figura do atual primeiro ministro, Narendra Modi, já é tão comum nestes espaços como a de Paolo Guerrero nos tabloides cariocas. O topo do mundo ou o hepta sempre são logo ali, mas às vezes tem problemas no caminho.

Inter e México fizeram grandes investimentos, apareceram muito bem na imprensa, no entanto velhos problemas acabaram complicando o seguimento dos dois. Em um caso, o fato de deixar o Brasileirão de lado, que já não ganha desde 1979, e o excesso de medalhões rendendo pouco. No outro, corrupção e narcotráfico, problemas tipicamente latinos.

A maior potência no cenário internacional não vive grandes momentos desde 2008, alternando fases ruins e estabilidade, mas sem ser o protagonista de outrora. A economia dos EUA se recupera a passos lentos, enquanto o São Paulo faz bons jogos no campeonato brasileiro. Os dois tem um problema que parece latente e nunca se saem bem, no caso dos americanos, o complexo Oriente Médio, já para os são paulinos a Copa do Brasil, que as últimas eliminações: Bragantino, Coritiba e Avaí, fazem parecer a competição mais complicada que conflitos sectários.

Tanto o Palmeiras quanto a União Europeia já foram bem mais imponentes no passado, no entanto de uns tempos para cá, decisões equivocadas acabaram atrapalhando ambos e enormes crises se instalaram. A medida encontrada foi a austeridade, que por momentos criou graves problemas, como no quase rebaixamento do Verdão no ano passado, ou o caos que se instaurou em economias mais frágeis, o que é evidente no caso grego. Ainda assim, parece que as coisas se estabilizaram, a Europa voltou a crescer a passos curtos, e o Palmeiras faz boa campanha no Brasileirão brigando pelo G4. E um aviso aos europeus, a extrema-esquerda contra a austeridade do Syriza e do Podemos não são nenhum Gabriel Jesus, ou seja, um achado raro que vai ajudar as coisas a se resolverem mais rápido.

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

A humanidade em uma lente

Na medida em que você ouve e lê relatos sobre as atrocidades da humanidade, esses parecem cada vez mais perderem a capacidade de comover e nos fazer lembrar de que aquilo se trata de outros seres humanos. Uma frase creditada a Stálin diz que “Uma única morte é uma tragédia, um milhão de mortes é uma estatística”, e ilustra bem isso. Recentemente li um dos livros que considero entre os mais difíceis da minha vida, “Gostaríamos de informa-lhe de que amanhã seremos mortos com nossas famílias” trata do genocídio de Ruanda e relata como vizinhos de uma hora para outra passaram a matar famílias inteiras com facões simplesmente por uma suposta diferença entre etnias. Não consegui ler dois capítulos seguidos sem uma longa pausa para lamentar.

Outra obra que tive acesso há pouco, “A Civilização do Espetáculo”, do Nobel Mario Vargas Llosa, trata exatamente da diferença que as imagens têm de nos mobilizar em comparação aos outros meios. Nestes últimos tempos eu já havia ouvido e lido sobre as maiores barbaridades cometidas pelos três lados da Guerra da Síria, ficado chocado com o número estimado de mortos no ano passado, mais de 70 mil, no entanto a foto do menino morto na praia, tentando fugir dos horrores que lutamos para entender, teve um impacto sem precedentes.

Não sei se a comoção pelo caso se dá pelo fato de praticamente todos nós conhecermos, e termos enorme carinho, com alguma criança de idade parecida, ou meramente pelo tão perturbante e surreal que é aquela imagem. A questão é que o drama dos refugiados e o desastre na Síria tomaram outra esfera de mobilização depois do caso. O problema disso, que é o endossado na obra de Llosa, é que a mesma capacidade que uma foto tem de comover, ela pode ter para alienar sobre o seu real significado.

O que ocorreu naquela praia turca foi um reflexo de um drama vivido por milhares de pessoas em um país devastado por uma guerra, que cabe a nós refletirmos, interessa a quem? A outra parte da história são as péssimas condições que os refugiados enfrentam para tentarem parar de lutar pela sobrevivência e passarem a ter uma vida. O impacto que uma imagem como essa tem em nossos instintos é perigoso, já que vale lembrar que a revolta gerada pelos vídeos do 11 de setembro acabaram dando embasamento para a invasão do Iraque, uma operação desastrosa que tem inclusive como consequência a atual Guerra na Síria que vitimou o pobre menino. A falta de racionalidade em uma situação como esta, pode acabar levando a adoção de medidas equivocadas, em um momento que apesar das enormes dificuldades, Irã, EUA e Rússia parecem estar concordando em uma estratégia comum, o que seria um grande passo para o fim da catástrofe.

Enquanto isso na Europa, não podemos nos esquecer da quantidade enorme de movimentos xenófobos, que inclusive vêm se refletindo na política. A Suécia, famosa pelo bom trato aqueles que precisam de ajuda, elegeu recentemente para cargos legislativos políticos de ideologia próximas ao neonazismo. Na França, o berço dos atuais princípios democráticos, quem lidera as pesquisas para as eleições do próximo ano é Marine Le Pen, da Frente Nacional, famosa pelas tentativas de combate aos imigrantes. Seu pai, Jean-Merie Le Pen, fundador do partido, chegou a declarar que o “Sr. Ebola” seria a solução para os problemas relativos à migração, em uma frase indigna de ser comentada.

A reação frente a uma imagem como aquela, tende a não ser das mais fáceis. O El País decidiu sequer publicar a imagem, enquanto outros veículos de igual prestígio quiseram demonstrar o drama que a foto representa. Chorar, se indignar, ou qualquer outra coisa nesse sentido é absolutamente comum. Mas não devemos nos esquecer de tentar buscar as soluções para que nunca mais tenhamos de nos deparar com uma imagem como esta e lembrar que lágrimas não servem apenas para lubrificar os olhos.


Descanse em paz Aylan Kurdi.