Enfim a
paz chegou ao Oriente Médio? Não. Foi um erro histórico que tornou o mundo um
lugar mais inseguro? Provavelmente não. Mas o acordo nuclear do G5+1 (Conselho
de Segurança da ONU mais a Alemanha) com o Irã foi um dos maiores
acontecimentos desde o fim da Guerra Fria.
Primeiro
pelas opções sugeridas ao invés dele: mais sanções ao Irã ou uma intervenção
militar. A segunda provavelmente iria causar a maior guerra do mundo desde as duas grandes,
tornaria o Oriente Médio um completo caos, atacando
um país riquíssimo com quase 80 milhões de habitantes. A humanidade já deu
grandes lições de sua estupidez , mas essa ainda assim
surpreenderia. A outra dificilmente impediria a fabricação de armamento nuclear
pelo Irã e apenas dificultaria ainda mais a vida de sua população, além de não aumentar a oferta de petróleo. Cada um escolhe o que acha pior.
Quem não
gostou do acordo, que torna o mundo um lugar mais seguro por pelo menos dez anos, foram os países árabes sunitas, liderados pela Arábia Saudita, além de Israel. A
resolução era o principal tema da campanha do primeiro ministro israelense, Benjamin
Netanyahu, que usou o medo da sua população de um vizinho que sequer
reconhece Israel como país desenvolver armas nucleares. Apesar das
estratégias propostas por ele serem absurdas, como a intervenção militar no Irã, somadas a uma postura israelense hipócrita, já que o país desenvolveu secretamente armas
nucleares, Netanyahu usou bem eleitoralmente o temor de sua população
e conseguiu se reeleger. E fez isso mesmo com uma das piores avaliações externas de um primeiro
ministro israelense na história. Sem dúvidas ele e seu Likud não gostaram do acordo.
O outro
lado é mais complicado e pode sim ser o principal ponto de discussão sobre o quanto
o acerto é positivo. O mundo ficou mais seguro, já o Oriente Médio em futuro
próximo talvez não, mesmo que o Irã não tenha condições de fabricar os
armamentos. O regime iraniano dos aiatolás já influencia pelo menos cinco
países com populações xiitas. Líbano e Bahrein possuem uma estabilidade maior,
fato que não ocorre nas disputas entre sunitas e xiitas pelo poder na Síria,
Iêmen e Iraque. É difícil dizer se governos financiados pelo regime ditatorial
saudita e seus aliados do golfo são melhores que os que agora terão mais
dinheiro iraniano envolvido, com a retirada das sanções sobre o petróleo do
país. O fato é que olhando para um espaço de tempo breve, estabilidade na
região não deve ser um legado do acordo. Ainda assim, não ter um governo hostil
por tanto tempo com armamento nuclear naquela região não pode ser visto como um
retrocesso de paz.
Os dois
grandes interessados no acordo foram o governo Obama e os próprios iranianos.
Uma metáfora que ficou comum nos Estados Unidos comparava o acerto com o Irã à
baleia Moby Dick. Obama sabia que apostar todas as suas fichas naquele acordo
poderia afundar de vez o seu governo, criticado pela ineficiência. Vale lembrar
que duas promessas de campanha, a retirada total de tropas do Afeganistão e o
fechamento de Guantánamo ficaram bem longe de serem cumpridas.
Aparecia
ali a grande oportunidade para salvar o legado de um presidente que chegou
prometendo bastante, levou até um Nobel da Paz por isso, mas ficou bem aquém.
As negociações começaram em 2013, quando os democratas ainda tinham maioria na
Câmara e no Senado, e na medida em que a situação política começava a virar,
inclusive com a perda das duas casas no ano passado, Obama passou a ter pressa.
Se houver uma votação contrária ao acordo, ainda caberá o veto presidencial,
que por conta do tipo de negociação feita, só pode ser retirado por dois terços
do senado. Praticamente impossível. Se um republicano vencer
no próximo ano, algo no mínimo difícil, este poderá até tentar invalidar o
acordo, mas ainda seria uma tarefa muito complicada.
A pressa
de Obama só ajudou o grande beneficiado com o acordo, o próprio Irã. Logo
quando o presidente Rouhani fez o anúncio, já ressaltou que o poder de
negociação dos iranianos foi formidável. A primeira proposta paralisaria os
avanços nucleares do Irã nesta área por 25 anos e obrigaria o
reconhecimento do Estado de Israel pelo regime. O final foi um acordo complicado, que diverge entre oito e dez anos de paralisações, mas nada em
relação aos israelenses.
Nas ruas de Teerã o anúncio foi comemorado como um
título de futebol. A popularidade do governo que agora terá um grande
incremento financeiro está muito alta. Vale lembrar que diferente de boa parte
dos países árabes que têm boas relações com os EUA, mas suas populações odeiam
os americanos, o governo do Irã vê americanos como inimigos, no entanto
principalmente entre os jovens, os ianques são vistos com bons olhos.
É difícil
prever se a aproximação se dará também em áreas como o combate ao ISIS, inimigo
comum, mas é provável que após a guinada liberal no governo de Rouhani, o
Irã melhore suas relações com o Ocidente.
E nós com
isso? Bom, pela lei básica da oferta e da procura mais petróleo no mercado
faria o preço da gasolina cair. Por outro lado estamos tratando de Oriente
Médio e fazer previsões é mais difícil que desenvolver bombas nucleares. É
possível que sauditas e aliados cortem a produção para aumentar o preço do
combustível e terem ainda mais dinheiro para financiarem milícias na luta
contra as xiitas? Sim. Mas vamos esquecer a gasolina dessa vez. Finalmente estamos
mais seguros.
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