Terceira Guerra?
Claro
que causa alvoroço o assassinato do embaixador de uma das maiores potências do
mundo, mas boa parte das preocupações com a execução do representante russo foi
exagerada. Rússia e Turquia estiveram em grande tensão no fim do ano passado, quando
os turcos abateram um avião russo, o que desencadeou sanções e diversas
acusações entre os dois países. Mas em 2016 as duas nações restabeleceram relações
diplomáticas, o que é de bastante interesse mútuo.
Junto ao
Irã, nesta mesma semana Turquia e Rússia criaram um pacto conjunto de
cooperação, em especial para lidar com o terrorismo. Irã e Rússia apoiam o
ditador Bashar Al-Assad na Síria, e os turcos sempre foram um dos maiores
opositores do regime, inclusive financiando terroristas. As conjunturas deram vitórias a Assad, o que deve reduzir a influência turca no país, mais
restrita na contenção dos curdos ao norte. A morte do embaixador russo em
termos geopolíticos enfraquece a Turquia, já que desestimula o turismo, fonte
vital de renda do país, e que já vinha debilitada desde os últimos ataques terroristas.
Provavelmente
Erdogan, que vem aproveitando a tentativa de golpe de estado em julho deste ano
para destroçar toda a oposição, deve vincular o atentado a seu grande rival, o
clérigo Fetullah Gulen, ou aos curdos do PKK. A Rússia já ofereceu ajuda para esclarecer o atentado, o que prontamente foi aceito pela Turquia. Os dois países vão cooperar, condenar o terrorismo e priorizar outros aspectos da relação. Nada de terceira guerra. Acho que decepciona alguns.
Terror na Alemanha
A
despeito do que as acusações populistas e a agência do Grupo Estado Islâmico,
ou Daesh, possam fazer parecer, o ataque com o caminhão em Berlim demanda muita
cautela. Um paquistanês foi preso e logo depois liberado por falta de provas,
enquanto islamofóbicos e xenófobos se deleitavam em acusações nas redes sociais.
O Daesh se apressou em reclamar a autoria do atentado por meio de seu meio de
comunicação, a agência Amaq, o que faz total sentido. Os terroristas não tem
nada a perder vinculando uma informação como esta, e se apresentam como importantes,
enquanto o grupo não para de sofrer derrotas militares em seus locais de
origem. A mídia informando a suposta autoria como “breaking news”, ou seja, de suma
importância, é tudo o que o grupo quer.
Merkel
enfrentará grande pressão até as eleições do ano que vem, quando tentará mais
um mandato. Um deputado do AfD, o partido de extrema-direita alemão, indicou
logo depois do atentado que a chanceler teria “sangue em suas mãos”, por conta
da sua política de recepção aos refugiados. Até o momento Merkel é favorita
para vencer as eleições, mas existem muitas possibilidades nestes próximos nove
meses, como 2016 nos provou. Cautela e pragmatismo serão extremamente
necessários para a estadista que como apontada em 2015 pela revista Time, é a “chanceler do mundo livre”.
Mais do que nunca.
Enquanto isso...
Na
República Democrática do Congo, que não é o Congo (os dois países são banhados
pelo rio, pasmem, Congo), a situação é extremamente delicada. O presidente
Kabila deveria ter deixado o cargo, que ocupa desde 2001, na última
segunda-feira, o que não aconteceu. Kabila deveria ter organizado novas
eleições, o que protelou e quer fazer em meados de 2018, e, claro, se mantendo no cargo até lá. O presidente chegou ao poder depois que seu pai foi
assassinado em 2001, e venceu eleições em 2006 e 2011. A constituição impede
mais um mandato, o que Kabila tenta burlar de todas as formas.
A
população foi às ruas protestar pela saída do presidente, e foi duramente
reprimida. As redes sociais foram cerceadas, e os relatos de prisões arbitrárias
se espalharam pela República. A comunidade internacional pressiona Kabila pela
saída, mas não tem planos de ação até aqui para fazê-lo na prática. A R.D.C
enfrentou uma violenta guerra civil durante a década de 90, e é um país tido
por muitos como ingovernável desde sua independência em 1960. Os conflitos
desde então deixaram, segundo estimativas, ao menos três milhões de mortos. A
ONU confirma 260 mil mortes na Guerra da Síria. Não dá para ignorar.
"World in 1 minute" do mestre Ian Bremmer, presidente da Eurasia:
https://twitter.com/ianbremmer/status/811329245179969536
Sei que não cheguei nem perto, mas como dizem, primeiro passo é tentar...