Falo das
reais possibilidades de um atentado nas Olímpiadas do Rio de Janeiro há tempos.
A nova onda terrorista que faz vítimas na Europa chocando o mundo, e mata
centenas no Oriente Médio sem tanto alarde, é parte da estratégia do Grupo
Estado Islâmico ou Daesh para reverter suas derrotas militares nos territórios
da Síria e do Iraque, que segundo estimativas chegaram a 40% no último ano, o
que já não é mais novidade. Mas enfim, a hora da verdade está por vir.
O Brasil
acertou na seriedade que deu na prisão dos mais de dez suspeitos de planejarem
atentados terroristas nas Olímpiadas. Os indícios são de que sim, se tratavam
de amadores, sem ligação direta com o Grupo Estado Islâmico, nem treinamento
militar, diferente de terroristas que atacaram, por exemplo, na Europa e que
anteriormente haviam se radicalizado e treinado em áreas sob domínio
terrorista. Mas na atual onda de ataques dos chamados lobos solitários, isso é
o de menos.
Um dos
presos tentou comprar pela internet um fuzil AK-47, o que simplesmente pode
anular qualquer falta de experiência, desde que o terrorista ensandecido tenha
a sua frente uma aglomeração de pessoas. O automatic Kalashnikov 47 é a arma
que mais mata no mundo, o que se deve em grande parte ao seu fácil manuseio. O
impacto nos usuários é tão grande, que o livro Gomorra narra que jovens
italianos que acabavam de entrar na máfia tinham como um de seus prêmios conhecerem
o senhor Kalashnikov, o criador da recém-descoberta por eles “maravilha”. Kalashnikov
morreu em 2013, mas deixou uma legião de adoradores do seu grande feito. Um dos
legados da arma que o jihadista “amador” brasileiro poderia ter em suas mãos é
a bandeira de Moçambique, que ostenta uma AK-47. Não se trata de qualquer
objeto este verdadeiro fetiche de terroristas ao redor do mundo.
Mas nem
só de complexos artefatos de destruição vive o terror hoje. Em uma semana a
Europa assistiu a um caminhão e um machado sendo utilizados com propósitos
terroristas por dois ensandecidos de ligações suspeitas com qualquer entidade
terrorista. Outro lugar do mundo que vive o perigo de que lobos solitários
possam a qualquer momento se tornar uma ameaça é Israel, onde muitos
terroristas não utilizam de armas de fogo, e sim de facas e até mesmo de
carros, que na maioria dos casos são atirados contra pontos de ônibus por conta
da maior aglomeração.
Sendo
tão ampla a gama de possibilidades que o terrorismo possui hoje, é
compreensível a cautela adotada pela justiça brasileira ao ter em seu domínio
os dados de 500 mil suspeitos de ligações terroristas. O número é de fato
elevado, comparativamente, o número de estrangeiros esperados no Rio para as
Olímpiadas é de 350 mil pessoas, 150 mil a menos que o de pessoas monitoradas
pela justiça. O orçamento de toda a operação é o maior em segurança da história
do país, tendo passado dos 1 bilhão de reais, para 1,5 bilhão, após a seriedade
da ameaça ter sido melhor vislumbrada.
Mas no
fim das contas, o Brasil de fato não tem experiência para lidar com esse tipo
de ação, um dos critérios mais importantes para o sucesso, e vem daí o grande
acerto da operação brasileira. A Abin se ligou aos melhores serviços de
inteligência do mundo para uma cooperação de informações, o que é de interesse
mútuo, já que israelenses, franceses, americanos e tantos outros são potenciais
vítimas mesmo estando no Brasil.
O Mossad,
o serviço de inteligência de Israel, provavelmente o melhor do mundo no quesito
de terrorismo, tem interesse especial na segurança do evento. Os israelenses
passaram até agora ilesos pelas ameaças do Grupo Estado Islâmico em seu território,
mas uma ação em solo estrangeiro poderia colocar tudo a perder, caso a maior
delegação israelense da história fosse atingida. O país é um alvo potencial de
diversos grupos terroristas, e vale lembrar que o maior atentado em uma
Olímpiada foi justamente contra os israelenses em Munique 72.
Apesar
de tudo isso, é impossível saber se de fato todas as opções foram esgotadas. A
França vivia estado de emergência após os atentados de novembro de 2015, o que
não impediu que um bárbaro com um caminhão furasse todo o esquema de segurança
e matasse 84 pessoas. A pluralidade de motivações e perfis dos propagadores de
atentados ao redor do mundo coloca a todos uma série de dúvidas, sendo as
teorias tradicionais incapazes de lidar com pessoas que variam desde radicalistas
religiosos até indivíduos relativamente bem sucedidos. O papel das forças de
segurança é de sempre ter seriedade e cautela, no sentido de tentar evitar os
piores cenários, levando em conta que as liberdades individuais devem ser
respeitadas ao máximo, e que ataca-las é muitas das vezes a intenção dos
terroristas.
Acontecerá um atentado no Rio? Ninguém pode responder, mas os indícios levam a crer que alguma tentativa é provável. Tenho que ter medo, ou não ir ao Rio? De jeito nenhum! Recentemente a possibilidade de se morrer em um atentado terrorista foi colocada frente à de se perder a vida escorregando na banheira, com a segunda sendo maior. O perigo de se morrer na estrada para o Rio de Janeiro, em um país com mais de 40 mil mortes anuais no trânsito é bem superior à chance de morrer pelas mãos de um ensandecido. Além disso, cercear a liberdade é justamente o que boa parte destas pessoas ambiciona, sendo ter medo e deixar de frequentar algum lugar duas vitórias para estas pessoas. O terrorismo é um dos grandes males globais do século XXI, e será muito difícil combate-lo, mas isso terá de ser feito com muita seriedade e capacidade, levando em conta que, por exemplo, matar jihadistas não acaba com jihadistas. O fato de que resumidamente o Grupo Estado Islâmico é um fruto da Al Qaeda, surgida do Talibã demonstra isso. O Brasil indica que fez tudo ao seu alcance para que esta praga não ocorra durante os jogos. Agora é esperar e torcer pelo melhor evento possível, sendo favorável ou não.
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