sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

O marxismo de Trump

A frase de Marx: “Eu tenho meus princípios. Se você não gosta dele, bem, eu tenho outros” foi usada de maneira brilhante no editorial do New York Times no dia 24 de novembro, para referir-se às posturas de Trump desde sua eleição. A máxima é uma das melhores proferidas por Groucho Marx, humorista norte-americano dotado de uma das visões irônicas de mundo mais interessantes do século XX. Não à toa, Marx é o maior ídolo de Pernalonga, outra grande figura do período. Já Trump não tem graça. Usa a volatilidade de um adolescente tentando se enquadrar em diferentes grupos para comandar a maior potência do planeta.

A segunda-feira dessa semana começou com bons indícios para o meio-ambiente. Trump se encontrou com Al Gore, que já foi vice-presidente dos EUA, e que saiu derrotado nas eleições de 2000 no colégio eleitoral, apesar de ter tido mais votos no país, assim como Hillary Clinton. Desde então Al Gore é uma das mais proeminentes figuras na defesa do clima, conseguindo grande destaque para a questão depois de seu filme “Uma Verdade Inconveniente”, um marco no tratamento sobre as mudanças climáticas. Ambos declararam saírem satisfeitos da reunião, o que animou os ambientalistas. Depois de eleito, Trump, em entrevista ao New York Times indicou que acredita que o homem possa ter impacto nas mudanças climáticas. Já durante a campanha, o magnata chegou a propor que o aquecimento global era uma invenção chinesa.

Na prática, o bilionário nomeou no dia seguinte Scott Pruitt para a Agência de Proteção ao Meio-Ambiente, E.P.A. na sigla em inglês. Pruitt é o promotor geral de Oklahoma, estado com a maior utilização intensiva de hidrocarbonetos nos EUA. O promotor chegou a entrar com ações contra a própria E.P.A., e segundo indícios, cartas que o mesmo enviou ao processo teriam sido redigidas por agentes da indústria do petróleo. Pruitt foi um ardoroso opositor das regulamentações ambientais de Obama, que possibilitaram, por exemplo, o Acordo de Paris. Por fim, o novo homem forte da E.P.A. diz não acreditar no homem como transformador do clima.

Trump foi eleito com um discurso voltado aos trabalhadores, que estariam sendo derrotados com a globalização. Como secretário de Emprego, o presidente eleito dos EUA nomeou Andrew Puzder. O novo secretário é responsável por uma cadeia de fast-foods, ramo conhecido nos EUA pelas condições de trabalho ruins. Puzder é contra o aumento do salário mínimo no país, atualmente em U$$ 7,25 a hora, o que é insuficiente para muitos trabalhadores manterem ao menos suas casas. Além disso, a rede comandada por Puzder foi condenada em 60% dos casos trabalhistas pelos quais a processaram, a maioria por não pagamento do mínimo e falta de remuneração por horas extras.

Goldman Sachs e Wall Street foram acusados ferozmente durante a campanha de Trump de serem responsáveis por grande parte dos problemas norte-americanos. Eis que o nomeado para o cargo de secretário do Tesouro é Steve Mnuchin. O escolhido por Trump para cuidar do dinheiro no país trabalhou por 17 anos no Goldman Sachs. Outra figura importante de Wall Street que vai compor o novo governo é Wilbur Ross, investidor de ativos em crise, os apelidados “tubarões”, e que chefiará a pasta do Comércio.

Após um mês eleito, Trump já criou um desgaste diplomático com a China ao atender um telefonema da presidente de Taiwan. Recebeu elogios de Duterte, presidente das Filipinas que chamou Barack Obama de “filho da p...” e é responsável por uma política de execuções extraoficiais que já matou milhares. Nomeou o editor de um site supremacista branco para ser conselheiro da Casa Branca e um islamófobico para o Conselho de Segurança. Mas nada disso surpreende, já que seguindo outra máxima de Marx: “Acho que a televisão é muito educativa. Todas as vezes que alguém liga o aparelho, vou para a outra sala e leio um livro” Trump, que fez carreira com seu reality show na televisão, não dá mostras de ter recebido tal educação.

Al Gore comenta encontro. Esperança durou pouco

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