A frase
de Marx: “Eu tenho meus princípios. Se você não gosta dele, bem, eu tenho
outros” foi usada de maneira brilhante no editorial do New York Times no dia 24 de novembro, para referir-se às posturas
de Trump desde sua eleição. A máxima é uma das melhores proferidas por Groucho
Marx, humorista norte-americano dotado de uma das visões irônicas de mundo
mais interessantes do século XX. Não à toa, Marx é o maior ídolo de Pernalonga,
outra grande figura do período. Já Trump não tem graça. Usa a volatilidade de
um adolescente tentando se enquadrar em diferentes grupos para comandar a maior
potência do planeta.
A
segunda-feira dessa semana começou com bons indícios para o meio-ambiente.
Trump se encontrou com Al Gore, que já foi vice-presidente dos EUA, e que saiu
derrotado nas eleições de 2000 no colégio eleitoral, apesar de ter tido mais
votos no país, assim como Hillary Clinton. Desde então Al Gore é uma das mais
proeminentes figuras na defesa do clima, conseguindo grande destaque para a
questão depois de seu filme “Uma Verdade Inconveniente”, um marco no tratamento
sobre as mudanças climáticas. Ambos declararam saírem satisfeitos da reunião, o
que animou os ambientalistas. Depois de eleito, Trump, em entrevista ao New York Times indicou que acredita que
o homem possa ter impacto nas mudanças climáticas. Já durante a campanha, o
magnata chegou a propor que o aquecimento global era uma invenção chinesa.
Na
prática, o bilionário nomeou no dia seguinte Scott Pruitt para a Agência de
Proteção ao Meio-Ambiente, E.P.A. na sigla em inglês. Pruitt é o promotor geral
de Oklahoma, estado com a maior utilização intensiva de hidrocarbonetos nos
EUA. O promotor chegou a entrar com ações contra a própria E.P.A., e segundo
indícios, cartas que o mesmo enviou ao processo teriam sido redigidas por
agentes da indústria do petróleo. Pruitt foi um ardoroso opositor das
regulamentações ambientais de Obama, que possibilitaram, por exemplo, o Acordo
de Paris. Por fim, o novo homem forte da E.P.A. diz não acreditar no homem como
transformador do clima.
Trump
foi eleito com um discurso voltado aos trabalhadores, que estariam sendo
derrotados com a globalização. Como secretário de Emprego, o presidente eleito
dos EUA nomeou Andrew Puzder. O novo secretário é responsável por uma cadeia de
fast-foods, ramo conhecido nos EUA pelas condições de trabalho ruins. Puzder é
contra o aumento do salário mínimo no país, atualmente em U$$ 7,25 a hora, o que
é insuficiente para muitos trabalhadores manterem ao menos suas casas. Além
disso, a rede comandada por Puzder foi condenada em 60% dos casos trabalhistas
pelos quais a processaram, a maioria por não pagamento do mínimo e falta de
remuneração por horas extras.
Goldman Sachs
e Wall Street foram acusados ferozmente durante a campanha de Trump de serem
responsáveis por grande parte dos problemas norte-americanos. Eis que o nomeado
para o cargo de secretário do Tesouro é Steve Mnuchin. O escolhido por Trump para
cuidar do dinheiro no país trabalhou por 17 anos no Goldman Sachs. Outra figura
importante de Wall Street que vai compor o novo governo é Wilbur Ross,
investidor de ativos em crise, os apelidados “tubarões”, e que chefiará a pasta
do Comércio.
Após um
mês eleito, Trump já criou um desgaste diplomático com a China ao atender um
telefonema da presidente de Taiwan. Recebeu elogios de Duterte, presidente das
Filipinas que chamou Barack Obama de “filho da p...” e é responsável por uma
política de execuções extraoficiais que já matou milhares. Nomeou o editor de
um site supremacista branco para ser conselheiro da Casa Branca e um
islamófobico para o Conselho de Segurança. Mas nada disso surpreende, já que
seguindo outra máxima de Marx: “Acho que a televisão é muito educativa. Todas as
vezes que alguém liga o aparelho, vou para a outra sala e leio um livro” Trump,
que fez carreira com seu reality show na televisão, não dá mostras de ter
recebido tal educação.
Al Gore comenta encontro. Esperança durou pouco
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