Tudo
é relativo. O sucesso de alguns é determinado muitas vezes pelo quanto a pessoa
consegue assimilar este fato. Parece que Obama conseguirá salvar sua imagem em
relação à política externa por ter entendido bem a relatividade no mundo. Seu
antecessor, Bush filho, deve grande parte do seu insucesso a uma ideia medieval
de classificar o mundo entre bem e mal.
E
não bastou para Bush classificar mentalmente. Criou o “eixo do mal” e
enfraqueceu bastante as relações com aqueles que não se enquadravam nos ideais
do republicano. O resultado foi o fracasso no Iraque, que reflete na atual
crise, o relativo insucesso no Afeganistão, e uma das piores avaliações de um
presidente norte-americano na história.
Os
erros causados pela infantilidade de Bush em classificar o mundo em bem e mal,
refletiram diretamente nas opressões xiitas do governo iraquiano, e como
consequência no sentimento de revolta sunita que levou a criação do ISIS. O
grupo surgiu em meio a um Iraque em colapso, no qual a região em melhores
condições era o Curdistão, que deteve enorme autonomia do governo de Bagdá.
A
revolta ignorada gerou uma das maiores barbaridades do século XXI, não
suficientemente retratada por conta das dificuldades envolvendo coberturas
jornalísticas, que costumam acabar em sequestros e cenas lamentáveis. Cristãos,
curdos e xiitas são também vítimas de atrocidades da mesma intensidade dos
jornalistas, ainda que pouco noticiadas.
Sem
intervenção nada disso acaba, e quem sabe quais serão os estágios atingidos
pelo grupo, que se auto intitulou Estado Islâmico justamente pelas limitações
que a sigla ISIS, referência à Síria e Iraque causam. Uma expansão para o
Afeganistão é cogitada e segundo alguns, já foi concluída. A questão, e ai que
entra a grande diferença de Obama, é que os EUA nunca conseguiram atingir seus
objetivos no Oriente Médio sem uma coalizão, a única que vez que o fizeram, foi
com o pai de George Bush, na Guerra do Golfo.
Provavelmente
a investida na Síria para tirar Assad do poder teria sido mais um desses
fracassos, e com a irônica consequência de que o grupo mais cotado para assumir
seria justamente o ISIS. Assad é péssimo, atenta contra os direitos humanos,
usou armas químicas, mas consegue ser mais estável e confiável do que o ISIS.
Obama usou a relatividade, ou o bom senso, e usará Assad enquanto for conveniente,
e o Goleiro Bruno Sírio faz justamente o que lhe convém, se mantém no poder a
todo custo.
Um
dos principais aliados de Obama será o regime xiita do Irã. Neste momento a
relatividade do democrata se faz ainda mais presente. Os EUA, ainda que com
imensa cautela quanto ao anúncio oficial, irão se unir contra um inimigo comum
com um integrante do “eixo do mal” de Bush. O que muitos podem ver como ironia,
para mim é mero bom senso.
“O
Estado Islâmico não é um estado” e “O Estado Islâmico não é islâmico”, gostei do
discurso de Obama. Evidentemente, gostei da coalizão. A grande questão é o que
se dará a seguir no imprevisível Oriente Médio, já que há um ano, me faltava capacidade
de relativizar, e, portanto eu não via opções muito piores do que Assad. A
questão é que mais uma vez tenho de criticar o extremismo, por conta de ouvir frases
como: “A Al Qaeda perto do EI é um grupo de escoteiros” ai, ainda mais em um “11 de setembro”, fica bem complicado de
relativizar.
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