sexta-feira, 19 de setembro de 2014

“Oil save the queen”

A referência não tem como fugir ao hino, mas o foco é na música dos Sex Pistols. O contexto do movimento punk tem inúmeras relações com o que vimos na Escócia nas últimas semanas. A principal, e motivadora das outras, é uma crença da população, especialmente jovem, de que eles não são representados pelo governo.
Principalmente nos últimos 30 anos, a crença é extremamente embasada. O conservadorismo, em baixa na Escócia, tem o poder em Londres, ainda que dentre os 59 deputados originados do país do bom whisky, apenas um tenha uma postura conservadora. Postura essa do atual primeiro ministro, James Cameron, e da mais importante política do Reino Unido no período, Margaret Thatcher.
A insatisfação é absolutamente embasada, especialmente na Europa, aonde recentemente o descontentamento chegou até na Suécia e levou uma preocupante extrema direita a ter representação no poder. O ponto chave, é que assim como muitos no movimento punk, o sentimento de mudanças assumia grandes riscos caso estas acontecessem, e foi o que a expressiva votação do “sim” mostrou.
O risco que uma independência escocesa representava foi extremamente abordado, ainda assim a intenção de mudar mesmo que com um “tiro no escuro”, teve enorme apoio. Em meio a uma Europa em grave crise econômica, pareceu razoável para muitos fundar toda uma estrutura econômica, sem sequer uma moeda definida, e nem saber se teria uma entrada garantida na União Europeia.
O nacionalismo escocês não tem grande apelo, e inclusive ficou bem de fora das discussões no referendo, que focaram, sobretudo em questões políticas e econômicas. Não há grandes semelhanças no movimento escocês com o basco, por exemplo, já que gaitas de fole a parte, a identidade britânica é marcante no país.
Preocupa a ideia de que qualquer mudança é bem vinda em meio a situações adversas, e sem precisar citar as atrocidades do século passado, temos como exemplo as últimas eleições do parlamento europeu nas quais houve uma enorme adesão tanto de extrema esquerda quanto de direita, que coloca ainda mais em risco a estabilidade do bloco. Deixando claro que a autonomia escocesa poderia ser uma grande brecha para extremismos, ainda menos presentes no Reino Unido que em vizinhos como a França.
Uma das grandes apostas dos apoiadores de uma separação é uma teórica autossuficiência petrolífera da Escócia. Reforço “apostas”, já que não havia dados concretos de até quando o combustível duraria, e poderia a Escócia cair no grave exemplo grego em que reservas foram supervalorizadas e a real condição acabou contribuindo para a grave crise no país.
A incerteza quanto a essas reservas foi um dos grandes argumentos dos que eram contra a independência e ilustra bem o quanto era arriscado o plano dos escoceses. No fim das contas o “oil” acabou contribuindo para o lado racional, já que com um plano econômico definido, a Escócia aguarda concessões de Londres para tentar ao menos representar mais os escoceses. Em um Reino Unido com tantos problemas em relação a “God”, especialmente na Irlanda do Norte, vou terminar dizendo que o “oil” salvou a Escócia, o Reino Unido, e a Europa.

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