Vou
fazer algo, que infelizmente estou muito pouco acostumado: um elogio. Digo
infelizmente, pois ainda mais em nossos tempos, o número de pessoas dignas de
receberem uma homenagem como esta é bastante limitado. Exemplo disso é que o
personagem do meu logo foi comparado com o talvez último merecedor de um, e
com semelhanças bem questionáveis, José Mujica
foi chamado de “Nelson Mandela da América do Sul”.
Tentei
votar no uruguaio, que terá seu sucessor definido hoje, mas as opções continuaram
sendo Dilma e Aécio. Não deve ter jeito, e parece que vamos ter que pagar
salários ao nosso futuro presidente por mais quatro anos. Além de abrir mão do seu
ordenado, Mujica fez questão de ir votar com seu tradicional, e nem tão
conservado, Fusca azul. A austeridade quase franciscana do presidente, em meio
a um continente no qual há praticamente uma disputa entre países para ver quem
tem o melhor avião para seu comandante, chega a comover. No entanto, no mundo
em que vivemos, analistas pouco entusiasmados sugerem que os ganhos da economia são poucos,
e que colocam enorme pressão em futuros políticos para que não recebam um
direito legítimo, seus salários.
Particularmente
o momento no poder de Mujica que mais me envolveu foi em uma declaração sobre a
Síria. O que parecia um discurso leviano, no qual haveria apenas uma
contrariedade à violência, sem nenhuma proposta concreta, tornou-se um apelo
emocionante pelos órfãos. O uruguaio ofereceu seu país como destino pras
milhares de crianças indefesas e inocentes, e foi praticamente ignorado pela
ONU, que provou mais uma vez que a burocracia supera de longe fatores
humanitários na instituição. Não acompanhei muitas análises sobre a postura do
uruguaio, mas espero que ninguém tenha feito como a ONU e colocado política e
burocracia acima de órfãos.
A
fama do Uruguai, que chegou a ser eleito em importantes publicações como o país
do ano, em 2013, evidentemente se deve a maconha. Em um ato de extrema coragem,
Mujica se posicionou em um continente absolutamente conservador, contra o tráfico.
Dificilmente os avanços em legislações para questões fundamentais e urgentes,
como o uso medicinal da maconha, serão dissociados do uruguaio, que sem sombras
de dúvidas, já entrou para a história.
Claramente,
o conservadorismo está contra Mujica. Friamente analisada, a regulamentação da
maconha no Uruguai tem uma série de equívocos, e não deve permanecer da maneira
que está no próximo governo. Os anos de mandato do homem do Fusca azul tiveram
vários pontos passíveis de crítica, como por exemplo, a tão prezada educação,
que ficou bem longe das melhoras prometidas. A questão é que as vezes não precisamos de apenas análises frias, e Mujica provou isso ao dizer que a FIFA era comandada por "velhos e filhos da puta", em uma das falas de personalidades mais interessastes dos últimos tempos.
Óbvio
que a declaração foi amplamente criticada, e o presidente foi questionado
inclusive se serviria de exemplo para as crianças. Eu acho que serve, e
inclusive serve para mim. E deveria servir para todos os chatos e burocratas. Obrigado
Pepe.
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