domingo, 31 de maio de 2015

O Caos Faraônico no Egito (Part. II)

Seguindo o contexto do Egito pós-Primavera Árabe, chegamos à tomada do poder pelo militar Al-Sisi. Com eleições questionáveis, no entanto pouco contestadas no Ocidente, o atual presidente obteve quase 100% dos votos, e o Egito passou a ter um governo que prometia linha dura contra as ameaças terroristas, resgate das tradicionais alianças e o retorno de um estado laico.
As duas primeiras coisas foram mais fáceis. Retomando a aliança principalmente com os EUA, o Egito voltou a receber a tradicional mesada paga por Washington com o pretexto de combater o terrorismo na região. As críticas na mídia Ocidental ficaram mais escassas, e a situação financeira do país melhorou um pouco. Então faltava a terceira parte.
Al-Sisi decidiu colocar o maior partido do país, que havia vencido todas as eleições legislativas e executivas da história egípcia até então, na ilegalidade. Os membros da Irmandade Muçulmana passaram a sofrer perseguição e a serem presos aos montes. As acusações variavam das justas, como pelos abusos cometidos durante o regime anterior, de Mohamed Mursi, até absurdos como terrorismo e espionagem a favor do Irã, por parte de componentes pouco graduados do governo.
As sentenças vinham em bando e a revolta começou a se espalhar pelo Egito quando tribunais sujeitos ás intenções do governo passaram a condenar diversos membros da Irmandade á morte. Os protestos, organizados ou não pelo partido, eram duramente reprimidos pela junta militar o que gerava mais radicalismo por parte dos partidários mais extremos. Atos como a invasão de delegacias para libertar os condenados passaram a ser comuns e foram usados como justificativa para ainda mais condenações. Para conseguir apoio, as acusações eram acrescidas de que a motivação para a invasão das prisões era a de libertar membros do Hamas e do Hezbollah, grupos considerados terroristas pelo Ocidente, o que aumentou o apoio dos aliados internacionais aos atos do governo.
Enquanto Al-Sisi buscava condenar ainda mais a Irmandade Muçulmana, como em entrevista recente ao jornal espanhol El Mundo, na qual o presidente afirmou que o partido mais tradicional do islamismo era tão perigoso quanto a Al Qaeda e o ISIS, o Estado Islâmico ganhava mais força no país, principalmente na Península do Sinai. O local, famoso pelas disputas com Israel até a década de 80, passou a contar com células do grupo que lutam contra as poucas forças militares egípcias deslocadas até a região e impõe seu terror principalmente aos cristãos cooptas, maior comunidade cristã do Egito, com sequestros e execuções.
A situação do governo parecia estável, com a repressão continuando e uma relativa aceitação na comunidade internacional. As criticas não apareciam com frequência e o país foi ficando de fora das manchetes, apesar dos absurdos cometidos, afinal de contas como Al-Sisi disse na mesma entrevista, compare as cifras de mortos do Egito com a Síria e o Iraque. A declaração, que tem o mesmo valor de: “Claro que alguém não pode ser esfaqueado no Rio de Janeiro, mas olha quantas pessoas foram esfaqueadas em Maceió e Fortaleza nesse ano” foi superada em relação ao surrealismo quando Mohamed Mursi, primeiro presidente eleito da história do Egito foi condenado à morte em primeira instância.  O resultado, que pode ser alterado no dia 2 de junho, derivou de acusações como a relação do ex-presidente com os ataques ás prisões e teor terrorista destes atos, além de crimes durante seu mandato.
A mídia estrangeira passou a questionar o fato de um presidente democraticamente eleito ser condenado á morte menos de três anos depois do pleito, em pleno século XXI. A repercussão no Egito não foi das mais positivas, com apoiadores e opositores da Irmandade Muçulmana se juntando para protestar contra a decisão. A instabilidade se dá no momento mais critico das relações de Al-Sisi com o Ocidente, já que o governo egípcio se posicionou claramente contra o acordo nuclear com o Irã, encabeçado pelos EUA.
O acordo é prioridade no governo Obama e deve definir a política dos EUA para o Oriente Médio em um futuro próximo. Do lado do Egito, estão Israel e Arábia Saudita, que se opõe ao acordo temendo que o fim das sanções ao Irã aumente o poder do país na região, e o que acontecerá após o fim dos 10 anos de congelamento do desenvolvimento nuclear iraniano. Sabendo da dependência que seu regime tem em relação ao Ocidente, Al-Sisi foi mais tímido na oposição que sauditas e israelenses. Netanyahu, primeiro ministro de Israel, por exemplo, fez um discurso no congresso norte-americano criticando o acordo. O resultado foi uma deterioração entre Israel e EUA como poucas vezes foi visto na história.
O clima de instabilidade obviamente afetou e muito o turismo no país das famosas pirâmides, que com uma economia pouco desenvolvida, depende muito da atividade. Outro fator que ficou ainda mais escancarado com a crise no país é a violência contra as mulheres, sendo raríssimos os relatos de alguma que andou pelas ruas do Egito e não sofreu assédio. Estudos indicam que 83% das mulheres egípcias disseram já ter sofrido algum tipo de agressão. A sensação de frustração dos jovens e as vertentes tradicionais que minimizam o papel feminino na sociedade são os principais culpados pelo fato de o mesmo estudo dizer que 63% dos homens assumiram já ter cometido assédio e isso não ser visto como um absurdo pela maioria.
A maior nação árabe, berço do Islamismo moderno e dona de uma história milenar ser guiada por interesses de fora, muitas vezes pouco voltados ás reais ambições dos locais, e a disputas internas em que políticos democraticamente eleitos podem ser condenados á morte no próximo governo, ajuda a explicar a situação de deterioração do mundo árabe.  
E esse é o Egito depois da Primavera Árabe. Saber o que deve acontecer no país em um futuro próximo é tão complicado quanto descobrir o passado da terra dos faraós.

terça-feira, 26 de maio de 2015

O Caos Faraônico no Egito

Era o momento que todos aguardavam. O começo de 2011 trazia o fim da corrupção, da repressão, e da falta de liberdade que atormentaram o Egito pelas quase três décadas de Hosni Mubarak no comando. Era mais um reflexo da Primavera Árabe, que tirou o poder de Ben Ali na Tunísia e representava a esperança para o Oriente Médio.
Os meses que seguiram a saída de Mubarak, claramente não foram fáceis, como nunca é fácil reerguer um país depois que uma figura política tão importante sai do poder. A junta militar que assumiu o Egito foi acusada de reprimir diversas manifestações que tomavam conta do Cairo e se concentravam principalmente na tradicional Praça Tahrir.
Os analistas não viam o cenário político como ideal para a realização das primeiras eleições da história do Egito, já que os anos de repressão não haviam possibilitado a ascensão de nenhum grupo político forte, restando assim apenas a Irmandade Muçulmana como real expressão política do país. O grupo, que já entrou na ilegalidade algumas vezes desde a sua fundação em 1928, é baseado no Islã Político, e era visto como uma ameaça às liberdades religiosas principalmente dos quase 20% de cristãos que vivem no Egito.
A força da Irmandade Muçulmana, um dos principais partidos islâmicos do mundo, aliada a ansiedade pelo primeiro pleito eleitoral da história egípcia, levou a população ás urnas no ano de 2012 mesmo com os diversos avisos de que o país não estava pronto. O resultado das apressadas eleições foi o de uma abstenção próxima de 50%, e o candidato Ahmed Shaqif, que fazia parte do governo deposto de Hosni Mubarak, perdendo as eleições por uma margem muito pequena para o candidato da Irmandade Muçulmana, Mohamed Mursi, demonstrando assim a enorme falta de representação dos egípcios com o pleito.
Aqueles que apoiavam o partido islâmico, apoio pelo qual muitos foram inclusive presos nos anos de Mubarak, viam na vitória eleitoral o começo de um novo Egito. Do outro lado se encontrava aqueles que acreditavam em um país secular, e que temiam o que o governo de Mursi poderia trazer.
Pouco tempo depois, e os opositores da Irmandade Muçulmana se mostraram certos. O fato de o governo de Mursi ir contra tradicionais aliados egípcios, em especial os EUA, por conta seguir um caminho iraniano: fortalecendo relações com grupos considerados terroristas pelo Ocidente, como o Hamas e o Hezbollah, complicou a situação do país. O Egito se deteriorou economicamente e perdeu apoio internacional.
A situação complicada do país veio acompanhada de uma enorme centralização do poder por Mursi, para muitos maior que a dos tempos de Mubarak, o que lhe rendeu a alcunha de faraó. O governo religioso tirou diversos direitos dos cristãos e reprimiu violentamente aqueles que se manifestaram contra.
O cenário foi se deteriorando até que em 2013, seculares muçulmanos, cristãos, membros da Irmandade Muçulmana que não concordavam com o governo, e boa parte das outras camadas da sociedade egípcia, se juntaram para manifestar contra o Mursi. Os protestos se arrastaram e as estimativas dão conta que o ápice destes mobilizou cerca de 25 milhões de pessoas (alguns dados apontam até 40 milhões) nas ruas do Egito, o que é considerado a maior manifestação da história e surpreende ainda mais ao se levar em conta que se trata de um país com 90 milhões de habitantes.
A pressão tirou Mohamed Mursi do poder, mas não resolveu os problemas do Egito. O que se seguiu foi a chegada ao poder do militar Al-Sisi, que enfrenta avanços do Estado Islâmico na Península do Sinai e tem uma deterioração de suas relações com os EUA, por conta das negociações do programa nuclear iraniano. Assuntos do nosso próximo post.
Obs: The Square, ótimo documentário do Netflix falando sobre os protestos na Praça Tahrir

terça-feira, 5 de maio de 2015

Pelo Caminho Mais Longo

Nesse feriado aproveitei para assistir ao ótimo Selma e ao ótimo, para quem gosta do Tarantino, Django Livre. Claro que no meio disso, a atenção realmente ficou nos protestos em Baltimore, que já vinham se arrastando, e no domingo, nos de Tel Aviv.
Apesar da violência impactante de Tarantino e a bela história contada em Selma, ainda assim os protestos me chamaram mais a atenção, por um motivo: o quanto o mundo se tornou complexo.
Em Django, ser a favor dos direitos humanos significava ser contra a escravidão. Em Selma, defender a justiça e a igualdade representava apoiar a luta pelos direitos civis e reconhecer a diferença existente entre negros e brancos. Mas como se posicionar diante da morte de um negro por três policiais negros? E da discriminação de judeus em Israel?
Simplificar os movimentos da última semana em apenas batalhas de negros contra brancos é tão grave quanto direcionar a política atual meramente em disputas de esquerda contra direita. Dizer que Freddie Grady foi morto em Baltimore meramente por ser negro, em uma cidade em que a prefeita é negra, o chefe de polícia é negro, o presidente da câmara dos deputados é negro e dois terços da população são negros, não é meramente simples, é perigoso.
Baltimore sofreu com um processo semelhante ao de Detroit com a fuga das indústrias no século passado, mas ao invés do Robocop comandando as ruas, quem assumiu foi uma polícia extremamente repressiva. A diminuição de postos de emprego fez com que a classe média fosse embora da cidade, junto aos bons negócios. O cenário foi de legítimos bolsões de pobreza, uma taxa de desemprego entre jovens que se aproxima de 50% e a opção a estes de competir por empregos de baixa qualificação ou o tráfico de drogas.
A consequência da sexta maior cidade do país passar a ser a vigésima quinta em um espaço de tempo tão breve, deixando a população tão desamparada, não poderia ser outra que não a explosão da violência. Segundo estudo do Washington Post, Baltimore tem nove bairros com expectativa de vida menor do que na Síria. A taxa de homicídios na cidade beira os 34 por 100 mil habitantes, maior que a brasileira e cerca de três vezes a de São Paulo. Todos sofrem em Baltimore.
Com menos alarde da imprensa, mas com grande importância, tivemos no domingo manifestações de judeus etíopes em Jerusalém, e principalmente em Tel Aviv. Os 2% da população israelense de origem do país africano são, sobretudo descendentes de uma grande onda de imigração no final do século passado, fugindo da miséria que a Etiópia enfrentava.
Os pais e avós desses judeus, seja por conformação, ou por real convicção, não se destacaram por questionar as condições de vida superiores legadas aos brancos em Israel. No entanto a atual geração participou de manifestações que acabaram em violência nos principais centros do país. Os protestos começaram depois do vídeo da agressão de um soldado etíope-israelense por dois agentes do governo.
O vídeo foi a gota d’água para desencadear os questionamentos de uma situação que incomoda esses cidadãos, que alegam serem vistos como inferiores em Israel. A porcentagem de suicídios nessa comunidade é cinco vezes a média do país. Em algumas cadeias, chega ao número de 40% das detenções de jovens serem de etíopes. O desemprego entre eles é o dobro da população geral.
Normalmente associada a um contexto de judeus e árabes em Israel, a discriminação racial se apresenta como absolutamente complexa na região. As desigualdades entre negros e brancos não impedem, por exemplo, que os mesmos etíopes que sofrem com as condições no país apoiem ideias e candidatos que discriminam os árabes. Prova disso é o Likud, partido no poder em Israel, ter um deputado de origem etíope-israelense, eleito com amplo apoio desta comunidade. O partido busca a consolidação do país como lar do povo judeu, o que colocaria os cerca de 20% de árabes-israelenses que vivem ali em uma situação muito delicada.
Recriminar o abuso de policiais contra negros nos EUA é necessário. Denunciar a atual postura do governo israelense de discriminação aos árabes é igualmente vital. Mas dizer que as questões nos EUA se baseiam simplesmente em negros contra brancos, e que em Israel se trata de judeus contra árabes, são atalhos. Seja resumindo em esquerda-direita, brancos-negros, judeus-árabes, estadunidenses-latinos, nós-eles. É sempre o jeito mais fácil.
É impossível distinguir o quanto a cor de pele influência nestes dois contextos. Mas basear-se somente nesse aspecto em detrimento da análise de um âmbito maior, é um absurdo. É tão errado quanto grupos de extrema esquerda e direita que radicalizaram as manifestações em Tel Aviv e além de enfraquecer os justos protestos, fizeram com que vários apoiadores pacíficos ficassem feridos.
Radicalizar é sempre um atalho. Normalmente para o mau caminho. Como mostra Selma, Martin Luther King percorreu, literalmente, o caminho mais longo e conseguiu direitos inéditos para os negros pelos meios mais difíceis, mas que se mostraram os melhores. Não vamos nos esquecer de que o seu sonho ainda vive.

domingo, 22 de março de 2015

Precisamos falar sobre o Iêmen

O Oriente Médio tem todos seus conflitos e complicações em meio aos petrodólares que guiam a região. Agora, imagine conflitos religiosos, governos corruptos, separatismo e grupos terroristas em um dos países mais pobres do mundo. É o Iêmen, um dos lugares mais afetados e o menos favorecido nesta região tão complexa.
Ouvimos falar muito no famoso “valor notícia” e até entendemos bem a importância de suprimir algumas informações em detrimento de outras. Até que um dia você se depara com o maior ataque terrorista do ano, que mata mais de 130 pessoas e, com raras exceções, como a Al Jazeera, vê que morrer no Iêmen é menos importante do que as picuinhas políticas em Israel. Isso pra não levar em conta os noticiários brasileiros que nos informam bastante sobre os últimos ocorridos no Big Brother.
Os mortos se encontravam em mesquitas xiitas, vertente islâmica de cerca de 35% da população do país. Uma minoria desta parcela se organiza em milícias, principalmente no interior, chamadas Houthis. Há algum tempo, o presidente em exercício, Hadi, passou a ser bastante questionado, o que levou as ruas uma parte da população. O cenário foi perfeito para os Houthis tomarem a capital Sanaa e Hadi ter de fugir para a segunda principal cidade do país, Aden.
Nesse clima de instabilidade, fica muito difícil acreditar plenamente que o ataque às mesquitas foi realmente obra do Estado Islâmico, como o grupo afirma, e os EUA duvidam. Talvez seja o início de um momento ainda mais tenso no país, que tem boa parte do território dominado pela Al Qaeda da Península Arábica, responsável pelo ataque ao Charlie Hebdo. O governo de Hadi possuía suporte dos EUA para lutar contra o grupo, e foram inclusive ações americanas desastradas, matando diversos civis, uma das principais motivações para os protestos.
Outro país que tem grandes interesses nos Houthis fora do poder é a Arábia Saudita, já que o grupo xiita é financiado pelo Irã, que vive uma guerra fria contra os sauditas por domínio no Oriente Médio. O antigo presidente do Iêmen, Saleh, teve que fugir para a Arábia Saudita após forte pressão interna e externa. Estima-se que ele tenha acumulado 20 bilhões de dólares, em um país com um PIB de 80 bilhões.
Saleh chegou ao poder após o fim da guerra civil no começo dos anos 90, entre Iêmen do Norte, capitalista, e o Iêmen do Sul, único país comunista do Oriente Médio. Após a unificação, o país passou a ter sua capital em Sanaa, no entanto muitos residentes de Aden e de localidades próximas ainda querem um país separado.
Pronto, isso é um pouco do Iêmen. Complicado para todos, imprescindível para quem se interessa pelo Oriente Médio, e praticamente esquecido pela imprensa internacional. 

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

O Dia D em Israel

Mesmo com toda a neve que cobre o país há dias, a preocupação dos israelenses é total com o próximo dia 17. Em uma jogada política, o Likud, partido do poder, antecipou as eleições para o parlamento, ou Knesset, e o resultado pode mudar drasticamente as negociações de paz com os palestinos.
Como mostrou um recente levantamento, o governo de Benjamin Netanyahu pouco fez pelo diálogo com os árabes, e ano após ano o número de assentamentos em território considerado palestino pela comunidade internacional que foram autorizados, só cresceu, chegando a um recorde em 2014. O resultado foi um país ainda mais distante de uma solução, e a escalada da violência de radicais palestinos.
A preocupação de Netanyahu com o Irã é muito maior do que a intenção de resolver os problemas em seu país, e o líder do Likud não esconde isso. Caso seu partido consiga uma coalizão com maioria das 120 cadeiras do Knesset, o resultado deve ser mais quatro anos de intervenções em Gaza, assentamentos ilegais e pouca evolução nas conversas, exatamente o que estamos presenciando.
Por outro lado há a oposição de centro-esquerda, liderada pelo Partido Trabalhista e que teria como líderes Herzog e Livni. Os dois adotam há algum tempo um discurso focado na importância das negociações de paz e tem relações muito melhores com a Autoridade Palestina do que o atual governo, incluindo uma visita de Herzog á sede do governo da AP em Ramalá.
As relações de Netanyahu com o Ocidente vão de mal a pior, sendo criticado inclusive por veículos pró-Israel como o Le Figaro. Com Obama, as coisas só pioraram depois que o governante, apoiado pelos republicanos, fez um discurso no congresso americano contra o programa nuclear iraniano.
Os israelenses tem no dia 17 a opção de escolher o que querem para seu futuro. Pena que do outro lado do conflito, jovens como Jihad al-Jaafari de 19 anos, que segundo a agência Ma’an, foi morto ontem pelo exército israelense, não tenham tantas opções. 

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Obrigado contravenção

"Se hoje temos o maior espetáculo audiovisual do planeta, agradeça à contravenção." É isso que declarou em entrevista o campeão do carnaval, Neguinho da Beija-Flor. Todo mundo sabe que o título pra mim tem a mesma importância de um estudo que define se ratos são destros ou canhotos, mas a polêmica desse ano não pode ser ignorada.
Futebol e carnaval queiram ou não, são as grandes expressões culturais do Brasil no mundo. A festa ganhou o destaque de sempre, mas desta vez com um agravante: foi financiada pela ditadura que é a mais corrupta do planeta, segundo relatórios da CIA.
O presidente da Guiné Equatorial é aquele ditador clássico africano: com uma fortuna inimaginável declarada na Forbes, e uma maior ainda sem ser investigada. Acusado de lavagem de dinheiro, repressão, tortura, assassinato de opositores, procurado no mundo inteiro e outros desvios. E mais, financiador do carnaval no Brasil.
Vi alguns dizendo: qual é a importância de um resultado do desfile das escolas de samba, que há anos é sabidamente palco de lavagem de dinheiro para bicheiros, construtores mal intencionas, e todos os outros tipos de bandidos, em meio ao maior escândalo de corrupção da nossa história? Pra mim a relação é clara.
Vamos falar da outra expressão cultural: o futebol brasileiro é administrando por uma das confederações mais corruptas do mundo, com indícios de venda de jogos de maneira ilegal, venda de votos de maneira ilegal, venda de licenças trabalhistas de maneira, pasme ilegal, e de tudo mais que o futebol pode render dinheiro de maneira ilícita.
A soma das dividas dos clubes brasileiros ultrapassa o PIB de mais de 30 países e não há indícios de que ela será quitada da maneira devida tão cedo. Até agora só falei o que é sabido de qualquer um, e temos questões como o “Campeonato Brasileiro de 2005” que se um dia vier à tona, provavelmente aquele clichê de que ficaríamos enojados, seria a única reação.
O maior escândalo da nossa história é mais relevante do que problemas nos nossos dois “circos”? Claro. A questão é que um povo precisa de sua cultura. E quando suas duas maiores manifestações são absolutamente corrompidas e indignas de confiança, acreditar na capacidade de mobilização fica cada vez mais complicado.
Enquanto com o objetivo de ser campeão do carnaval for normal aceitar dinheiro de milicianos, ditadores e seja lá de quem mais for, como não será normal aceitar os lobbys das empreiteiras para se fazer política? Na medida em que se endividar com os cofres públicos, sem perspectivas de pagamento para montar times campeões for aceitável, como reclamar de trocas de cargo entre os governantes para alcançarem seus objetivos?
A ideia de que “vale tudo” está dentro das mais importantes bases da nossa sociedade. E dificilmente vai ser um diretor de empresa ou um político que passou a vida toda aceitando qualquer meio para vencer que vai mudar isso. O importante não é questionar o título de quem quer que seja. O vital para o futuro do Brasil é mostrar para nos mesmos e para o mundo que Petrobrás e carnaval a parte, Charles de Gaulle estava errado e que somos sim um país muito sério. E se reconhecer os problemas no carnaval for o meio para começar isso, muito obrigado contravenção.


quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Devaneios de Férias

Em uma das coisas mais ridículas e contraditórias dos últimos tempos, o primeiro ministro de Israel aparece em uma propaganda para as eleições como uma babá.  Benjamin Netanyahu convence um casal de que seu Likud é a melhor opção nas eleições para cuidar de seus filhos (que não são árabes, claro). Pior do que alguém que recusa o diálogo com palestinos, e apoia a construção de assentamentos em territórios não israelenses aparecendo como babá, só o trocadilho “Bibisitter”, já que Bibi é um apelido para Benjamin. 
Depois de um minuto de mediocridade no vídeo, resolvemos tirar proveito. E imaginamos como seriam alguns dos líderes mundiais tomando conta de creches.
Bibisitter: Olha que belo castelo de Lego esse palestino fez, seria uma pena se eu mandasse um israelense construir em cima dele...
Barack Obama:
-Vamos brincar de pique pega.
-Não dá, a maioria republicana não quer.
-Vamos lanchar.
-Eles querem dormir.
-Vamos dormir.
-Eles falaram que só se você acabar com o Obama Care.
-Certo, vamos esperar 2016.
Peña Nieto:
-Tio, os traficantes de chiclete fizeram uma milícia e comandam a sala toda. Batem, roubam e cobram uma mesada de cada um.
-Isso é responsabilidade de cada setor da sala. Eu modernizei os vídeo games. Investi na infraestrutura do parquinho...
-Mas tio, os próprios chefes dos setores recebem comissões dos traficantes.
-Infelizmente fico de mãos atadas...
-Já me cansei!
-Eu, como presidente da creche, declaro que o problema está resolvido: hora da soneca.
Rei Salman:
-Majestade, tem uma menina que só reclama, fala uns absurdos sobre direitos.
-O que o Abdullah faria?
-De 50 a 100 chibatadas, dependia do humor dele.
-Mas e a comunidade internacional? Não reclamam das nossas leis?
-Reclamar reclamam. Mas sanção é só para o Irã. Somos fundamentalistas democráticos e chamaram o Abdullah até de progressista quando ele morreu.
-Ocidentais...
Al-Sisi:
 -Tio quero biscoito.
-Você é da Irmandade Muçulmana?
-Não.
-Planejou algum golpe contra o governo nos últimos quatro anos?
-Não, só quero um biscoito.
-Alguém da sua família é da Irmandade Muçulmana?
-Não.
-Certo, mas a mesada dos EUA atrasou e não tem biscoito.
Nicolás Maduro:
-Eu, assim como Chávez e Bolívar, amo vocês crianças. Bastaram 20 fraldas e vocês não ficam reclamando de falta de papel higiênico como os adultos. Ingratos.
-Tio, a gente tá com fome.
-Isso é o que o imperialismo quer que vocês pensem. A fome é uma invenção ianque para tentar desestabilizar a paz na nossa próspera Venezuela.
-Mas tio, todo mundo tá chorando de fome.
-Ok, vamos no Mc Donald’s.
Vladmir Putin: Como assim não tem leite, biscoito e brinquedos? Vocês não estão satisfeitos? Então vejam o que essa amiga vodka não faz... (Ele fez isso http://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,russia-baixa-o-preco-da-vodca-enquanto-sobe-o-de-produtos-basicos,1628427 )
Na Chechênia: Como assim não tem leite, biscoito e brinquedos? Vocês não estão satisfeitos? Então vejam o que esse amigo sarin não faz...
Kristina Kischner: A brincadeira hoje é Detetive.
Alberto, você resolveu muito rápido esse caso. Seria uma pena se acontecesse um acidente...
Dilma Rousseff: 19:00 Lula diz que ela é incapaz de cuidar sozinha de uma criança.
19:30 Gracinha Foster e Cerveró chegam para ajudar.
19:31 Aterrorizada, a criança não para de chorar.
21:00 Apagão. Com medo do escuro e com as imagens na cabeça, o choro é insuportável.
21:30 O choro para após um discurso de Dilma sobre a crise hídrica e desperdício.
21:35 Com a pressão por conta do desvio de biscoitos, Gracinha pede as contas.
22:00 Dilma vê que a tarefa é mais difícil do que parecia e resolve criar o Ministério do Cuidado com a Criança. Inspirada na nomeação de Kátia Abreu para a Agricultura, Nardoni assume o cargo.