sexta-feira, 28 de abril de 2017

Coreia do Norte: mais geopolítica do que pânico

A despeito do que é amplamente divulgado na imprensa, a principal questão da Física relacionada ao regime norte-coreano não é a nuclear, mas a “Lei da Inércia”. O atual status quo da complexa equação geopolítica na Coreia do Norte é favorável aos cinco principais atores envolvidos, e para isto, é vital a visão de que o regime é dominado por um lunático disposto a explodir o mundo a qualquer momento. Evidentemente, não é bem assim.

As fake news em relação ao regime norte-coreano são divulgadas há muito tempo, e com um potencial sem comparações, já que não há porta-vozes na comunidade internacional para defender o contraditório. Uma mentira é amplamente divulgada, o mundo acredita, e se por um acaso for falsa, há a sensação “ah, mas nada impede que fosse verdade”.

Alguns fatos: a Coreia do Norte possui embaixada no Brasil, retribuída com uma representação brasileira em Pyongyang. A capital norte-coreana vive um boom imobiliário, e bem nascidos no regime vão ampliando seu poder de compra. O principal destino de exportação da Coreia do Norte é a China, sua principal aliada, mas em segundo lugar vem a longínqua Argélia e em terceiro a Coreia do Sul, com quem, em tese, o norte continua em guerra, já que em 1953 apenas um armistício foi assinado. O país é membro da ONU.

As ameaças militares da Coreia do Norte são a maior justificativa para os EUA manterem cerca de 35 mil soldados na Península Coreana, região cada vez mais importante para o comércio global com o crescimento chinês. Com a onda recente de tensões, os norte-americanos estão instalando a estrutura antimísseis Thaat na Coreia do Sul, o que é criticado pela China, que teme um aumento do poder dos EUA na região. O Thaat é um dos principais assuntos da campanha eleitoral sul-coreana, antecipado por conta do impeachment da presidente conservadora Park Geun-Hye, favorável ao escudo. Na liderança das pesquisas para a eleição do próximo 9 de maio está um liberal, contrário ao Thaat, e seus adversários usam a ameaça do norte para criticá-lo.

A possibilidade de o Japão ser atacado é uma das poucas justificativas que o governo tem para um tom belicista. O país, que a exemplo da Alemanha adquiriu uma guinada pacifista após a derrota na Segunda Guerra, nos anos recentes sob o comando de Shinzo Abe vem sendo levado por um tom nacionalista, retomando algumas posturas históricas. Até a Segunda Guerra Mundial, o Japão ocupava a Península da Coreia e regiões da China.

Com o regime norte-coreano a China tem um importante contraponto em meio aos aliados norte-americanos no Pacífico. Fiel incondicionalmente aos chineses, a ditadura de Kim Jong-un serve como um tampão a quaisquer expansões dos EUA na região. Para a crescente economia chinesa, os subsídios dispendidos à pequena Coreia do Norte são mais em conta do que investiduras militares. Além do mais, um colapso da ditadura levaria milhões de refugiados a cruzarem a fronteira para o país que já é o mais populoso do mundo.

A Coreia do Norte quer ser um país com arsenais nucleares, e faz alusão às outras oito nações que possuem ogivas, que totalizam mais de 13 mil pelo mundo, para justificar as suas. Os EUA não reconhecem, fazem jogo duro e afirmam que somente a desistência de possuir armas nucleares pode levar ao fim das sanções, que castigam principalmente a população no interior. Por meio da filosofia “Juche” o governo controla seu povo para servir sua pátria contra a ameaça “imperialista” a todo custo. Os norte-coreanos acreditam durante toda vida estar a cargo do bem maior do “Rei Sol”, Kim Il-sung, avô do atual ditador, e que fundou a nação. Desta forma, todos os homens têm de servir ao exército, o quinto maior do mundo e, proporcionalmente, por sua população de cerca de 25 milhões de habitantes, a maior força armada global.

Kim Jong-un tem motivos para temer abandonar seu programa nuclear. Já no exercício do poder viu a OTAN invadir a Líbia para depor o ditador Muammar Khadafi, que sempre almejou armamentos nucleares, em 2011. Em 2003 viu os EUA invadirem sem o aval do Conselho de Segurança da ONU, ao qual a China tem poder de veto, o Iraque para dar fim à ditadura de Saddam Hussein. Não é impossível que Kim Jong-un aceite um acordo, bem mais difícil do que o alcançado com o Irã, para pôr fim a suas armas nucleares, mas será necessária muita diplomacia chinesa e concessões ao regime.

O ponto fora da curva neste momento é Trump. O inexperiente e midiático presidente é imprevisível, e pode, sim, colocar à prova esta verdadeira aula de pragmatismo geopolítico. À frente de seu Departamento de Estado está Rex Tillerson, mais contido, mas com pouca experiência diplomática. A expectativa pela prudência fica a cargo dos ex-militares, em especial o Secretário de Defesa, Jim Mattis, e o conselheiro de Segurança Nacional, general McMaster.

Qualquer passo em falso seria trágico. Um ataque preventivo dos EUA levaria a Coreia do Norte a atacar o sul, com potencial de atingir Seul, a apenas 50  km da fronteira, no que pode ser a maior tragédia da história, na cidade com cerca de 10 milhões de habitantes. O regime norte-coreano não é suicida. Sobrevive no poder há 69 anos, se manteve após o fim da URSS, o que levou o país a uma das maiores fomes coletivas na história recente, quando inclusive teve de contar com ajuda da comunidade internacional. Perpassou pelas mudanças chinesas, país maoísta a principio, mas que gradualmente se integrou ao capital global com as reformas de Deng Xiaoping e a adesão à OMC. E do outro lado, Trump, que balança com 100 dias de mandato.

Palpitaço
Até aqui, análise. Mas neste caso acho justo não me eximir, e tentar traçar os possíveis panoramas. Em curto prazo, a situação deve aumentar em tensões, com um tom mais beligerante dos dois lados e cercado de ameaças. Mais sanções ao regime serão impostas pela ONU, mas sem grande impacto. Em médio, é possível que a Coreia do Norte tenha êxito em seu sexto teste nuclear, obrigando os EUA a uma reação mais significativa. Nada muito sério deve ocorrer, mas será preciso intensa diplomacia chinesa. Em longo, não acredito que o regime resista. Em um mundo extremamente conectado, cada vez menos norte-coreanos estarão dispostos a passar fome para manter uma ditadura com propósitos ultrapassados, enquanto a alguns quilômetros ao sul tem a sua disposição os benefícios da pujante economia sul-coreana. Não me arrisco além.

Boa parte do comércio global hoje passa por esta região

Obs: Para o mínimo de entendimento com isenção sobre a Coreia do Norte, o documentário “The Propaganda Game” é necessário. O filme perpassa o país sem juízo de valor. Tem no Netflix.

quinta-feira, 27 de abril de 2017

"O maior viral da história" é só isso

Crianças, uma narrativa simplista com o “grande vilão”, aparente proximidade com o público e muito espetáculo. Estes elementos ajudam a explicar como “Kony 2012”, um documentário de 30 minutos, conseguiu se tornar o chamado “maior viral da história”, apesar de mais longo que os vídeos de habitual sucesso, ultrapassando 100 milhões de visualizações (mesma marca que em 2015).

No vídeo, um pai norte-americano conta a seu filho as atrocidades que Joseph Kony, líder do movimento Lord Resistency Army (LRA), cometeu em Uganda, sobretudo a crianças da mesma idade do ouvinte. Comportamento utilizado por milícias em regiões pobres em todo o mundo, o LRA sequestrou milhares de jovens no centro da África, e cometeu as maiores atrocidades inimagináveis, com parte destes sendo obrigados a matarem seus próprios pais. Em 2005, a Corte Penal Internacional apresentou contra Kony as seguintes acusações: crimes contra humanidade, assassinato, violação, escravidão e escravidão sexual, crimes de guerra, trato cruel a civis, ataque a civis, pilhagem e recrutamento forçado de menores. Indefensável.

À época, celebridades que vão desde Justin Bieber e Lady Gaga as engajadas Oprah Winfrey e Angelina Jolie se manifestaram sobre o vídeo. O viral conclama uma ação da comunidade internacional, sobretudo Obama, para que Kony seja encontrado e receba a punição adequada. Ao fim do vídeo, têm se a impressão de que Hitler está solto e que nós não estamos fazendo nada, mas podemos ajudar. A questão é que em 2011, um ano antes, Obama já estava agindo ativamente contra o LRA.

O que a efemeridade de um viral não dá conta são as circunstâncias envolvidas na formação do LRA. O grupo surge no norte de Uganda, região devastada durante o governo de Idi Amin, o presidente do país em “O Último Rei da Escócia”. Durante o regime de Amin, que tinha como seu principal aliado Muammar Khadafi, por conta dos ideais de pan-africanismo do líbio, massacres eram comuns no norte de Uganda, inclusive com muitos sendo jogados a crocodilos. Neste cenário surge uma gama de milícias, em especial uma radical religiosa que quer instaurar um governo com base nos preceitos básicos de sua fé. No caso, não o Corão, mas os Dez Mandamentos. Seu líder não é Osama Bin Laden nem Abu Bakr Al-Baghdadi, mas Joseph Kony, que acredita ter várias almas e que ele e seus seguidores não podem ser atingidos por balas.

Um grupo extremista religioso não consegue financiamento e AK’s47 em uma das regiões mais isoladas do mundo só com a ajuda divina. O governo do Sudão viu no LRA uma oportunidade de expandir sua influência geopolítica, em meio a uma instável Uganda. À frente deste, Omar Al-Bashir, também conhecido nos Tribunais Internacionais. Neste caso, por conta do genocídio cometido no Sudão, especialmente em Darfur, outra causa que chegou a aparecer no noticiário internacional e que reuniu de Jolie a George Clooney. Em Uganda, Amin deixava o poder para o retorno de Obote, seu antecessor. Obote fica no poder até 85, quando é substituído por Museveni, há 32 anos à frente do país. Nenhuma das trocas sem derramamento de sangue.

Na relativa estabilidade de governo atingida com Museveni, a prioridade passou a ser derrotar o LRA. Em Uganda, a missão foi relativamente atingida. O problema é que nas redondezas, o grupo encontrou terreno fértil. O Congo é marcado há anos por sua instabilidade, e em 2012 e 2013, a República Centro-Africana (RCA) e o Sudão do Sul, respectivamente, foram tomados por conflitos civis, étnicos e religiosos, que não se solucionaram até hoje. Qualquer semelhança com a ida do Estado Islâmico para a Síria não é mera semelhança. Em linhas gerais o conflito na RCA se dá por cristãos contra muçulmanos e contou recentemente com a mediação do Papa Francisco em uma visita à capital do país, Bangui.

Analistas e militares não convergem sobre onde está Joseph Kony hoje. Provavelmente não estará em Uganda, mas pode estar no Sudão do Sul, na RCA ou no Congo. Quem sabe já tenha até mesmo padecido, e, a mensagem, por termos estratégicos, não tenha sido divulgada, assim como o Mulá Omar, líder do Talibã, supostamente morto em 2013, com informação divulgada em 2015, mas analistas acreditando que o fato tenha ocorrido antes disso. A questão é que, com pragmatismo e o deslocamento correto de tropas, os esforços em conjunto de Obama com o governo de Uganda e alguns aliados locais fizeram o LRA cair de 2000 membros para cerca de 100 atualmente.

As estimativas são de que a “caça a Kony” no centro da África tenha custado até US$ 800 milhões aos EUA. O valor é próximo a 10% do PIB do Sudão do Sul, orçado em US$ 9bi em 2015. O país mais novo do mundo é o mais provável refúgio hoje de Kony, e vive uma intensa guerra civil com mais de 200 mil mortos, com um grande número de cidadãos em risco alimentar. Pra mim já basta. Mas dá outro viral...

O problema e o espetáculo. Basta escolher (a trilha sonora é sensacional)




quinta-feira, 13 de abril de 2017

"Sim" ou "não" ao "Sultão" na Turquia

Itália e Reino Unido provaram em 2016 que os efeitos de um referendo vão muito além da consulta que é feita diretamente à população. Nos dois casos, a pergunta central era a aprovação ou não de uma série de reformas constitucionais, e a saída ou não da União Europeia, respectivamente. No entanto, a derrota de Matteo Renzi e David Cameron, que haviam proposto os referendos, causou ingovernabilidade e ambos foram obrigados a renunciar. Na Turquia, que Erdogan governa desde 2002 junto a seu AKP, não será diferente.

Os elementos centrais do referendo turco do próximo domingo, 16, dizem respeito ao aumento do poder do presidente, na prática eliminando a figura do primeiro-ministro, e a possibilidade da prorrogação do mandato, o que permitiria Erdogan permanecer no poder até 2029. O governo que propõe as mudanças argumenta que estas tornariam a governança turca mais sólida, já que não sujeitaria o executivo à instabilidade do parlamento. Além disso, o AKP afirma que o novo modelo dará mais independência ao legislativo, que poderia investigar o presidente. Ao lado do AKP estão os nacionalistas do MHP, desde a tentativa de golpe em julho de 2016 favoráveis ao governo.

Para grande parte da Turquia o voto no “sim” representa um voto em Erdogan e no AKP. Desde quando foi prefeito em Istambul na década de 90, o atual presidente se postou como alguém ligado aos mais pobres, e que atende aos anseios destes. Nas regiões menos favorecidas do país, o voto no AKP é visto como uma retribuição ao desenvolvimento levado pelo partido que tem em sua sigla uma referência ao desenvolvimento e justiça, e mesmo em uma consulta referente a termos de governabilidade, esta população não deve distinguir o voto de estradas e hospitais criados por Erdogan.

Na Anatólia, mais distante da Europa e que conta com importante apoio à islamização crescente no governo de Erdogan, o “sim” ganha com folga nas pesquisas. Nas últimas eleições legislativas, 87% da Anatólia Oriental votou no AKP. A principal oposição vem do Oeste da Turquia, banhado pelo mar Egeu e tradicionalmente mais voltado à Europa. Esta região conta com respaldo do CHP, partido dos kemalistas, responsáveis pela laicização do Estado Turco desde sua constituição em 1923. Ao CHP soma-se o HDP, sigla composta pelos curdos, grupo étnico que vem em constantes conflitos com Erdogan nos últimos anos, e que teve seu líder preso após a tentativa de golpe do ano passado.

Vantagem grande do "sim" na Anatólia


O governo de Erdogan deu uma guinada radical após a tentativa de golpe de 2016. Jornalistas e a imprensa como um todo passaram a ser perseguidos, com a Turquia ostentando o número de país com mais membros da profissão presos no mundo. Somam-se a estes professores, juízes, militares e funcionários públicos, que compõe o número de 41 mil presos em menos de um ano. As acusações são da relação destes com o gulenismo, movimento liderado pelo clérigo Fethullah Gulen, e que é responsabilizado pelo governo pela tentativa de golpe. Gulen nega as acusações, e suas ramificações, que vão de áreas como universidades a jornais, padecem na Turquia.

O cenário fez com que a Turquia passasse da pontuação de 53 em 2016 para 38 em 2017 no relatório Freedom House, que avalia de 0 a 100 as liberdades em cada país, a segunda maior queda no mundo. As restrições fizeram com que a Europa aumentasse suas críticas ao país, que é candidato desde 2004 a entrar na União Europeia. A tensão ficou ainda maior quando Holanda e Alemanha não permitiram que ministros do governo turco fizessem comícios a favor do “sim” em seus territórios, que contam com uma grande comunidade apta a votar no referendo. Em contrapartida Erdogan fez alusão às práticas nazistas, o que criou uma crise diplomática e afastou a Turquia do bloco.

As pesquisas demonstram um empate técnico no resultado do referendo. Em caso de derrota, Erdogan continuará no poder, e tem a possibilidade de dissolver o parlamento para buscar mais força e legitimidade. No entanto, desde a repressão a tentativa de golpe do ano passado a Turquia já não representa os ideais kemalistas e gulenistas. O país que no começo do século aparentava ser um modelo para os em desenvolvimento, assim como o Brasil, hoje caminha mais para uma ditadura como outras no Oriente Médio, ou mesmo para o modelo russo de Putin, que vem cada vez mais se aproximando de Erdogan.

Ainda assim, como nos casos citados no começo, um referendo nunca é só um referendo. A vitória do “não” pode colocar limites aos expurgos de Erdogan, e mostrar que a população não deve aceitar eternamente quaisquer abusos de seus políticos, em troca do que estes deram a esta, o que não é favor, e sim obrigação. O presidente que vem sendo chamado de “Sultão do Bósforo” teria assim uma aula de democracia, aceitando ou não. No relatório Freedom House, com seus 38 pontos, a Turquia ainda é considerada “parcialmente livre”. A vitória do “sim” pode mudar isto.

"Sim" ou "não" ao "Sultão"? FOTO: Chris McGrath / Getty Images

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Brasil não virou uma Venezuela, mas criou algumas

Durante o governo Dilma, não era incomum acusações de que os petistas estivessem tentando transformar o Brasil em “uma Venezuela”. A crise no país vizinho já se arrastava há algum tempo nesta época, e determinados setores temiam que esta pudesse se repetir aqui. E em partes, se repetiu como nos mostram as tensões no Espírito Santo e no Rio de Janeiro envolvendo, sobretudo, a segurança pública.

A Venezuela conta com as maiores reservas de petróleo do mundo. Os hidrocarbonetos representam 95% das exportações do país, e correspondem a cerca de 25% de seu PIB. Quando o barril de petróleo chegou próximo aos 150 dólares, o governo chavista aumentou exponencialmente os gastos públicos. Com a queda no valor da commoditie, que chegou a custar menos de 30 dólares em 2016, os venezuelanos passaram a conviver com uma crise que se alastra até hoje. Índices como a ausência de 70% dos produtos em supermercados e a maior inflação do mundo marcaram a gravidade da situação. A violência se alastrou, levando Caracas ao posto de cidade mais violenta da Terra, com 119 homicídios a cada 100 mil habitantes em 2015.

Em 2017, o posto de município mais perigoso poderia ser tomado por alguma cidade do Espírito Santo, em caso de prolongamento da crise da segurança pública. Em uma semana no Estado, 121 pessoas foram mortas, número que supera mais de 90 países em um ano inteiro. Estima-se que o Espirito Santo, segundo maior beneficiário dos royalties do petróleo, tenha sofrido uma queda recente no PIB de 19%, situação que se agravou por conta da tragédia envolvendo a Samarco.

No Rio de Janeiro, grande receptor dos fundos oriundos do petróleo, a queda estimada no PIB foi de 7%, mas em determinadas cidades a situação é bem mais grave. Em 2012, com o barril ainda em alta, a “Capital Nacional do Petróleo”, Macaé (RJ), recebeu repasses do governo federal de cerca de 605 milhões de reais, destes quase 90% relativos aos royalties. Em 2016, os recursos ficaram entorno de 266 milhões, menos da metade do recebido quatro anos atrás. Campos dos Goytacazes (RJ), que conta com cerca de 500 mil habitantes, mas graças aos royalties é um dos principais beneficiários de recursos da União, recebeu desta cerca de 1,625 bilhão em 2012, com 82% oriundos dos royalties. Em 2016 os royalties representaram aproximadamente 352 milhões para a cidade, pouco mais de 20% de quatro anos atrás.

Apesar de ter parte importante de sua economia centrada no turismo, Cabo Frio (RJ) sentiu o impacto da queda acentuada no preço do barril. Em 2012, 80% dos recursos federais provinham dos royalties, uma quantia de aproximadamente 318 milhões de reais. Em 2016, o governo repassou entorno de 82 milhões pela commoditie. Mesmo que a participações dos royalties nas transferências para o município tenha caído substancialmente no período, certamente a queda teve grande impacto no orçamento da cidade com menos de 200 mil habitantes.

A grave crise levou ao desemprego. Cerca de 20% dos postos de trabalho fechados no Brasil foram no Rio de Janeiro. A capital do Estado registrou o maior número de novos desempregados em 2016. Além da situação quantitativa, um percurso ao redor do Rio de Janeiro apresenta cenas dignas do Cinturão da Ferrugem nos Estados Unidos, por exemplo, em Itaboraí (RJ), que seria uma das grandes beneficiadas com os royalties, mas que conta hoje com uma “manada de elefantes brancos”, como um grande shopping sem movimento e prédios abandonados.

Assim como na Venezuela, o componente de crise econômica e desemprego gerou um aumento na violência. Em média, em todo o estado do Rio de Janeiro 16 pessoas são assassinadas por dia. No ranking mundial encabeçado por Caracas, que leva em conta homicídios em cidades com mais de 300 mil habitantes, figuram Vitória (ES) na 31º posição e Campos dos Goytacazes (RJ) na 39º, com 42 e 36 homicídios a cada 100 mil habitantes respectivamente.


A lista de países produtores de petróleo no mundo abrange situações bem distintas para continuar sendo reproduzida a ideia de “maldição do ouro negro”. Em nações como Venezuela e Angola, a corrupção e a incompetência generalizaram por todo território a crise oriunda pela queda do preço do barril. No Brasil, país que depende muito menos de um preço alto da commoditie para equilibrar as contas, a má distribuição do pacto federativo gerou um colapso para dois estados, que se veem em falência, e sem garantir sequer a segurança da população. No caso do Espírito Santo, a falta de reajuste salarial deixou os policiais militares com um dos menores salários do país, enquanto no Rio de Janeiro, que não figura entre os melhores ordenados para a categoria, a falta de pagamentos há meses gerou a crise. A propósito, os maiores salários para estes profissionais estão no Distrito Federal, onde o “efeito dominó” da greve não ameaça chegar. Ali, nada de Venezuela. Nem mesmo para se pronunciar sobre a crise no país vizinho.

Situação em Vitória (ES) se descontrolou com greve, mas já não era tranquila /FOTO: (Paulo Whitaker/Reuters)

sábado, 4 de fevereiro de 2017

A "Recessão Geopolítica" na África será uma "marolinha"?

“Recessão geopolítica” foi o termo utilizado pela agência de classificação de risco político Eurasia para definir 2017. Assim como os ciclos econômicos apresentam recessões, a geopolítica a partir desta ideia não seria sempre progressiva, e estaríamos em um momento de retrocesso, não visto desde o fim da Segunda Guerra. Os princípios que moldaram a atual Ordem Mundial, como o livre-comércio, as alianças multilaterais, as organizações internacionais, e a expansão da democracia e dos direitos humanos, não estiveram tão em tanto risco desde 1945.

Dois fenômenos são em grande parte os responsáveis pela ideia de “geopolítica em recessão”: Trump e Brexit. Com o segundo, a União Europeia perdeu sua segunda maior economia, viu movimentos eurocéticos se proliferarem por seus países, e experimenta o momento de maior risco do projeto europeu, principal caso de sucesso de uma aliança multilateral. Com Trump, o livre-comércio se vê cada vez mais ameaçado, simbolizado com a rejeição à Parceria do Pacífico e as provocações ao NAFTA. A ONU sofreu ameaças de corte de financiamentos, e a OTAN, chamada de obsoleta pelo presidente, corre mais riscos do que nunca. O conceito de “American First” e os primeiros dias de mandato são boas mostras de que Trump não focará na expansão da democracia e dos direitos humanos.

Outra organização internacional que vem passando por maus momentos é o Tribunal Penal Internacional (TPI). A fragilidade da instituição se dá por conta das ameaças de boicote e até mesmo abandono da Corte por parte de países africanos, que acreditam sofrer perseguição do órgão. A grande maioria dos condenados até hoje pelo TPI são de origem africana, enquanto crimes de guerra em variados países, que vão desde a Colômbia até à Palestina estão sem veredictos.

A perseguição que os países da África acreditam sofrer por parte do TPI é uma das razões que explicam a relevância que teve a condenação de Hissène Habré, ex-presidente do Chade, em maio de 2016. A prisão perpétua decretada ao ditador foi o primeiro caso de um chefe de Estado condenado em outro país dentro do continente africano, no caso, Senegal. A sentença foi expedida pelo tribunal africano extraordinário, criado pela União Africana (UA), e é vista como uma contraposição do continente ao passado colonial e ao paternalismo, além de estabelecer precedentes para que outros líderes possam ser julgados na própria África.

A própria UA é outra prova da força que os órgãos internacionais vêm conseguindo estabelecer no continente. Nesta semana, o Marrocos, único país do continente que não fazia parte da União, anunciou que voltará a ingressar o grupo. Os marroquinos ficaram de fora por 33 anos da UA, por conta da presença da região separatista do Saara Ocidental no órgão, que é o único organismo internacional a reconhecer a independência do território. Outro importante fator foi a sucessão no cargo de presidente da UA, até então ocupado por Robert Mugabe, o ditador zimbabuano desde 1980, e que tenta a reeleição com seus 93 anos.

A UA teve papel importante no imbróglio que envolveu Gâmbia nas últimas semanas. O órgão defendeu a saída do poder de Yahya Jammeh, presidente do país havia 22 anos e que fora derrotado por Adama Barrow nas eleições em dezembro. Logo após o pleito, Jammeh aceitou o resultado, no entanto, uma semana depois, afirmou que não entregaria a presidência. A situação obrigou Barrow a se exilar no Senegal, um dos países membros da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEEAO), da qual Gâmbia também faz parte. A ausência de Barrow o impediu, por exemplo, de acompanhar o funeral de seu filho de sete anos, morto por uma mordida de cachorro no período.

O cenário que se desenhava para Gâmbia era de uma sangrenta guerra civil. Os turistas estrangeiros foram evacuados do país, que via suas ruas desertas cercadas de apreensão. A comunidade internacional, focada com as repercussões da vitória de Trump, pouco fez além de condenar a insistência de Jammeh. Neste cenário, e com respaldo da UA, a CEEAO mobilizou tropas dispostas a invadir Gâmbia caso o presidente não abandonasse o cargo. Cerca de 6 mil soldados da organização estiveram a postos para a intervenção. Mil senegaleses adentraram em território gambiano, enquanto Jammeh aceitava a pressão da comunidade e deixava o cargo. Barrow tomou posse na embaixada de Gâmbia em Dakar, e foi poucos dias depois para Banjul, levando ao festejo uma multidão que o aguardava no aeroporto.

A transição democrática em Gâmbia, sem nenhuma gota de sangue derramado, é uma das grandes histórias deste 2017 que já começou tão turbulento. Em meio à “recessão geopolítica”, uma organização de países africanos desconhecida de grande parte do mundo conseguiu evitar uma trágica guerra civil. É claro que a África, como diria Thomas Friedman, ainda conta com problemas e desafios “que poderiam acabar com o jantar de qualquer família”. Mas enquanto as antigas metrópoles estão se voltando cada vez mais para dentro, os africanos entenderam o significado de “juntos somos mais fortes”.
                                         Países da CEEAO. De pouco conhecida a vital para a paz

Excelente fonte de informação sobre o que acontece de bom na região (espanhol): http://elpais.com/agr/africa_no_es_un_pais/a/

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

O novo-velho best-seller Orwell e o mundo de hoje

Nesta semana foi notícia que o clássico “1984”, de George Orwell, voltou a figurar na lista de livros mais vendidos, grande parte por conta das relações possíveis de se estabelecer da obra com o começo do governo Trump. A mais latente foi feita após a declaração de uma porta-voz de que as mentiras disparadas, ou a negação das verdades, seriam “fatos alternativos”. Em “1984”, dentro da chamada novilíngua, uma das atribuições do Ministério da Verdade era justamente a fabricação de novos fatos, o que é representado na famosa frase “guerra é paz”.

Quando escrito, pouco após a Segunda Guerra Mundial, o livro foi visto como um ataque aos regimes totalitários, sobretudo ao stalinismo. Em 2013, o clássico ganhou grande destaque com o escândalo envolvendo a espionagem da NSA, divulgado por Edward Snowden. Traçou-se um paralelo entre o governo americano e o controle estabelecido pelo Big Brother em Oceania, simbolizado pelas onipresentes teletelas. A ocasião demonstrou que o controle dos cidadãos por meio do estado é algo mais sútil e presente do que a população em geral costuma crer, e é uma prática difundida mundo a fora.

A prática da novilíngua, ou “alternative facts”, também não é nenhuma novidade por parte de governos. Nos EUA, espalhar mentiras foi fundamental para conseguir o apoio da população para invadir o Iraque, o que dificilmente teria sido possível sem as supostas ligações de Saddam Hussein com a Al Qaeda, e sua posse de armas químicas, ambas não comprovadas até hoje. A guerra contra o Iraque representaria paz. O resultado foi o Grupo Estado Islâmico e um Oriente Médio esfacelado, que é considerado para alguns como pré-vestfaliano nos dias de hoje. “Guerra é paz.”

As táticas demonstradas em “1984” são, em maior ou menor grau, comuns a todos os tipos de governantes. Estes são só alguns dos muitos exemplos possíveis que justificam colocar a obra no hall de outros clássicos atemporais da política, como “O Príncipe” de Nicolau Maquiavel. Mas enquanto “1984” ganha as manchetes, outra obra de Orwell pouco a pouco vem subindo na lista de livros mais vendidos: “A Revolução dos Bichos”. E esta sim pode indicar fenômenos específicos da atualidade, e preocupantes.

“A Revolução dos Bichos” é uma fábula que consegue, com um número relativamente pequeno de páginas, destruir o autoritarismo. A mensagem do livro na época foi vista como uma crítica explicita ao stalinismo, e sua reprodução foi cerceada na URSS. Na história, os animais de uma fazenda julgando-se injustiçados e explorados, tomam o controle do lugar. Os bichos são liderados por dois porcos, Napoleão e Bola de Neve, e, contam com o incansável cavalo Sansão, que está sempre disposto a sacrifícios em prol do projeto.

Ao longo da história, Napoleão vai acumulando poder e sendo cada vez mais autoritário, enquanto Bola de Neve se afasta das decisões. Em determinado momento, após montar um aparato repressor com os cachorros da fazenda, Napoleão obriga Bola de Neve a fugir. Em seguida, todos os problemas enfrentados são creditados a Bola de Neve, que viria à fazenda somente para boicotar o projeto dos animais. Agora troque Napoleão e Bola de Neve pelos turcos, e antigos aliados, Recep Erdogan e Fethullah Gullen.

Quando assumiu o poder como primeiro-ministro Erdogan via no clérigo Gullen um bom parceiro para conseguir implementar seu projeto de poder na Turquia. No entanto, Erdogan, no comando desde 2002, foi cada vez centralizando mais as decisões em sua figura, até romper com Gullen, hoje exilado nos EUA. Após a tentativa frustrada de golpe de estado na Turquia em julho do ano passado, o hoje presidente, Erdogan, culpou o clérigo, e vem prendendo ou demitindo aqueles que tenham relação com o movimento gulenista, que é enorme e difundido em uma série de países. Além disso, o presidente culpa o clérigo por muitos problemas na Turquia, inclusive atentados terroristas. Erdogan conseguiu passar reformas na constituição que ampliam o poder do presidente pelo congresso em janeiro, e estas vão a referendo neste ano.

Pelo mundo proliferam-se casos de autoritarismo daqueles que se agarram ao poder. Na Hungria, Viktor Orban faz pouco caso da constituição tendo em vista seu projeto de restringir a entrada de refugiados no país. Na Nicarágua, Daniel Ortega dissipou a oposição, e colocou sua mulher como vice-presidente, além de estender seu mandato. Prolongar-se é o que também almeja Evo Morales na Bolívia, e deve desafiar sua derrota em referendo para buscar seu quarto mandato. Estes são fenômenos relativamente novos, sem citar os infindáveis ditadores africanos como Mugabe no Zimbábue, perto de completar 93 anos e de disputar mais uma eleição.

O fortalecimento do autoritarismo em países que há tempos haviam estabelecido regimes democráticos sólidos é uma grande ameaça. “A Revolução dos Bichos” traz de forma simples como a demagogia e o populismo são armadilhas fáceis de cair, das quais nenhum grupo está imune, além de como o poder costuma ser traiçoeiro.

Outra obra, esta menos lembrada, de Orwell que segue bastante atual é “O caminho para Wigan Pier”. Neste livro, o autor traz grandes reflexões sobre a vida dos trabalhadores de minas de carvão no norte da Inglaterra, região conhecida por ser a menos desenvolvida do país. Os relatos chocaram a dita intelectualidade da época, já que poucas vezes alguém acostumado à elite londrina havia explorado tanto a visão de mundo destes trabalhadores.

Os habitantes do norte da Inglaterra apresentados por Orwell compuseram boa parte da base de votação pelo Brexit, e exibem semelhanças com os eleitores de Trump, considerados por alguns das elites intelectuais costeiras como “white trash”. São os homens brancos, com poucas perspectivas, ressentidos, e que se julgam injustiçados pelas mudanças dos últimos tempos. Como demonstrado pelo cavalo Sansão de “A Revolução dos Bichos”, quando surge algum projeto pelo qual os que se consideravam injustiçados passam a acreditar, este costumam estar dispostos a abrir mão de muito em prol deste. O que isto vai representar nos EUA, e o quanto Trump vai se aproveitar desta situação no poder, são perguntas necessárias, mas que só tempo responderá. Talvez Orwell pudesse adiantar algumas respostas, mas infelizmente há 67 anos o máximo que temos são dicas. Maldita tuberculose! E que venda muito mais.



                                                                    Ao menos nos resta a BBC

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Com um Trump, sem meias palavras

O que representa, de verdade, um aumento médio de 2 graus na temperatura global? Não sei, e, na prática, ninguém sabe. O que muda nas nossas vidas com o aumento de 50 cm no nível dos oceanos? Tampouco faço ideia. A única resposta que temos a estas questões são projeções, que são apenas projetos de possibilidades que podem, ou não, acontecer. Muita gente se dá bem com o risco, e paga para ver. Mas, para as mudanças climáticas, acabou o tempo para falarmos de 2030, 2050, 2100. Temos que falar de 2016, o ano mais quente da história, batendo o recorde do ano anterior, e sucedido pelo que provavelmente lhe tomará o posto.

Pensei em falar sobre o clima citando a eleição de Trump e suas escolhas de Scott Pruitt para a E.P.A. e Rex Tillerson para secretário de Estado, todas desastrosas no âmbito ambiental. Citaria também Blairo Maggi, nosso ministro da agricultura. Para não criar uma tonalidade apocalíptica sobre 2016, queria trazer alguma história positiva para o meio-ambiente, dando esperança. Mas com Trump, tudo muda.

Cheguei a esta conclusão depois de ler o relato de uma mãe em Madagascar, que desesperada, fica sabendo que há um homem (do qual ela nunca ouviu falar), que lidera um país, (que ela tampouco conhece), e que pode ajudar seus filhos. A família praticamente não consegue comer e nem beber, em virtude da crise de alimentos gerada pelo fenômeno El Niño, que altera a temperatura das águas no Pacífico, e que em 2016 causou graves transtornos no Sudeste Africano. O homem é Trump, presidente eleito dos EUA, a quem o autor endereça o relato, e que pode, sim, transformar esta situação.

Em 2014, analistas estudaram 28 desastres ambientais, constatando que metade deles foi causada por alguma alteração do homem. O mais recente El Niño foi um dos mais fortes de todos os tempos, trazendo inundações, tornados e outros transtornos mais fortes no Pacífico, além de alterar o clima global como um todo, o que é visto nas secas enfrentadas na África Oriental. O Haiti é um bom exemplo de como o fenômeno pode ser destruidor, tendo passado por secas por conta deste recentemente, e pelo furacão Matthew em 2016.

Até o momento, é verdade que os países ricos e grandes responsáveis pelas emissões sofram menos que os pobres por conta das alterações no clima. Mas é difícil prever uma estabilidade diante de alterações nunca imaginadas. Por certo tempo, os norte-americanos ficaram aflitos com a possibilidade do furacão Matthew chegar à Costa Leste, no que cogitou-se ser um fenômeno mais destruidor que o Katrina, que arrasou New Orleans em 2005.

Outro ponto que certamente afetará os países mais ricos é a migração, inclusive com refugiados. O colunista Thomas Friedman vem alertando que em áreas de desertificação, o número de conflitos armados tende a aumentar exponencialmente, somando ainda mais aos cerca de 60 milhões de refugiados no mundo. Se a Europa não conseguiu lidar com a crise gerada pela Guerra da Síria, quem dirá com todo o Norte Africano disposto a atravessar o Mediterrâneo.

Os problemas e as vítimas já são muito reais para o homem mais poderoso do mundo lidar com as mudanças climáticas como mero exercício de fé. Há algum tempo esta deixou de ser uma questão com a qual nossos filhos e netos “talvez tenham de lidar”, para ser algo real e prioritário. A China, a quem o presidente eleito chegou a culpar por ter inventado as mudanças climáticas, já se alarmou sobre o problema, afinal de contas, não tem como fazer vista grossa quando se tem camadas enormes de poluição impedindo olhar a poucos metros de distância.

Com Trump, o homem que governa pelo Twitter antes mesmo de ser empossado, não há espaço para projeções e longos relatórios. É verdade que países inteiros podem desaparecer se nada for feito, milhares de espécies podem ser extintas com repercussões imprevisíveis, assim como as catástrofes criadas pela mudança nos regimes climáticos. Mas como vimos na eleição, para ele a verdade não basta. Ainda assim, se milhares de mães desesperadas com seus filhos passando fome não servirem, podemos ter votado em nosso próprio meteoro.

                   "Arpocalipse" convenceu os chineses/ FOTO: (Jason Lee/Reuters/VEJA)