domingo, 22 de março de 2015

Precisamos falar sobre o Iêmen

O Oriente Médio tem todos seus conflitos e complicações em meio aos petrodólares que guiam a região. Agora, imagine conflitos religiosos, governos corruptos, separatismo e grupos terroristas em um dos países mais pobres do mundo. É o Iêmen, um dos lugares mais afetados e o menos favorecido nesta região tão complexa.
Ouvimos falar muito no famoso “valor notícia” e até entendemos bem a importância de suprimir algumas informações em detrimento de outras. Até que um dia você se depara com o maior ataque terrorista do ano, que mata mais de 130 pessoas e, com raras exceções, como a Al Jazeera, vê que morrer no Iêmen é menos importante do que as picuinhas políticas em Israel. Isso pra não levar em conta os noticiários brasileiros que nos informam bastante sobre os últimos ocorridos no Big Brother.
Os mortos se encontravam em mesquitas xiitas, vertente islâmica de cerca de 35% da população do país. Uma minoria desta parcela se organiza em milícias, principalmente no interior, chamadas Houthis. Há algum tempo, o presidente em exercício, Hadi, passou a ser bastante questionado, o que levou as ruas uma parte da população. O cenário foi perfeito para os Houthis tomarem a capital Sanaa e Hadi ter de fugir para a segunda principal cidade do país, Aden.
Nesse clima de instabilidade, fica muito difícil acreditar plenamente que o ataque às mesquitas foi realmente obra do Estado Islâmico, como o grupo afirma, e os EUA duvidam. Talvez seja o início de um momento ainda mais tenso no país, que tem boa parte do território dominado pela Al Qaeda da Península Arábica, responsável pelo ataque ao Charlie Hebdo. O governo de Hadi possuía suporte dos EUA para lutar contra o grupo, e foram inclusive ações americanas desastradas, matando diversos civis, uma das principais motivações para os protestos.
Outro país que tem grandes interesses nos Houthis fora do poder é a Arábia Saudita, já que o grupo xiita é financiado pelo Irã, que vive uma guerra fria contra os sauditas por domínio no Oriente Médio. O antigo presidente do Iêmen, Saleh, teve que fugir para a Arábia Saudita após forte pressão interna e externa. Estima-se que ele tenha acumulado 20 bilhões de dólares, em um país com um PIB de 80 bilhões.
Saleh chegou ao poder após o fim da guerra civil no começo dos anos 90, entre Iêmen do Norte, capitalista, e o Iêmen do Sul, único país comunista do Oriente Médio. Após a unificação, o país passou a ter sua capital em Sanaa, no entanto muitos residentes de Aden e de localidades próximas ainda querem um país separado.
Pronto, isso é um pouco do Iêmen. Complicado para todos, imprescindível para quem se interessa pelo Oriente Médio, e praticamente esquecido pela imprensa internacional. 

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

O Dia D em Israel

Mesmo com toda a neve que cobre o país há dias, a preocupação dos israelenses é total com o próximo dia 17. Em uma jogada política, o Likud, partido do poder, antecipou as eleições para o parlamento, ou Knesset, e o resultado pode mudar drasticamente as negociações de paz com os palestinos.
Como mostrou um recente levantamento, o governo de Benjamin Netanyahu pouco fez pelo diálogo com os árabes, e ano após ano o número de assentamentos em território considerado palestino pela comunidade internacional que foram autorizados, só cresceu, chegando a um recorde em 2014. O resultado foi um país ainda mais distante de uma solução, e a escalada da violência de radicais palestinos.
A preocupação de Netanyahu com o Irã é muito maior do que a intenção de resolver os problemas em seu país, e o líder do Likud não esconde isso. Caso seu partido consiga uma coalizão com maioria das 120 cadeiras do Knesset, o resultado deve ser mais quatro anos de intervenções em Gaza, assentamentos ilegais e pouca evolução nas conversas, exatamente o que estamos presenciando.
Por outro lado há a oposição de centro-esquerda, liderada pelo Partido Trabalhista e que teria como líderes Herzog e Livni. Os dois adotam há algum tempo um discurso focado na importância das negociações de paz e tem relações muito melhores com a Autoridade Palestina do que o atual governo, incluindo uma visita de Herzog á sede do governo da AP em Ramalá.
As relações de Netanyahu com o Ocidente vão de mal a pior, sendo criticado inclusive por veículos pró-Israel como o Le Figaro. Com Obama, as coisas só pioraram depois que o governante, apoiado pelos republicanos, fez um discurso no congresso americano contra o programa nuclear iraniano.
Os israelenses tem no dia 17 a opção de escolher o que querem para seu futuro. Pena que do outro lado do conflito, jovens como Jihad al-Jaafari de 19 anos, que segundo a agência Ma’an, foi morto ontem pelo exército israelense, não tenham tantas opções. 

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Obrigado contravenção

"Se hoje temos o maior espetáculo audiovisual do planeta, agradeça à contravenção." É isso que declarou em entrevista o campeão do carnaval, Neguinho da Beija-Flor. Todo mundo sabe que o título pra mim tem a mesma importância de um estudo que define se ratos são destros ou canhotos, mas a polêmica desse ano não pode ser ignorada.
Futebol e carnaval queiram ou não, são as grandes expressões culturais do Brasil no mundo. A festa ganhou o destaque de sempre, mas desta vez com um agravante: foi financiada pela ditadura que é a mais corrupta do planeta, segundo relatórios da CIA.
O presidente da Guiné Equatorial é aquele ditador clássico africano: com uma fortuna inimaginável declarada na Forbes, e uma maior ainda sem ser investigada. Acusado de lavagem de dinheiro, repressão, tortura, assassinato de opositores, procurado no mundo inteiro e outros desvios. E mais, financiador do carnaval no Brasil.
Vi alguns dizendo: qual é a importância de um resultado do desfile das escolas de samba, que há anos é sabidamente palco de lavagem de dinheiro para bicheiros, construtores mal intencionas, e todos os outros tipos de bandidos, em meio ao maior escândalo de corrupção da nossa história? Pra mim a relação é clara.
Vamos falar da outra expressão cultural: o futebol brasileiro é administrando por uma das confederações mais corruptas do mundo, com indícios de venda de jogos de maneira ilegal, venda de votos de maneira ilegal, venda de licenças trabalhistas de maneira, pasme ilegal, e de tudo mais que o futebol pode render dinheiro de maneira ilícita.
A soma das dividas dos clubes brasileiros ultrapassa o PIB de mais de 30 países e não há indícios de que ela será quitada da maneira devida tão cedo. Até agora só falei o que é sabido de qualquer um, e temos questões como o “Campeonato Brasileiro de 2005” que se um dia vier à tona, provavelmente aquele clichê de que ficaríamos enojados, seria a única reação.
O maior escândalo da nossa história é mais relevante do que problemas nos nossos dois “circos”? Claro. A questão é que um povo precisa de sua cultura. E quando suas duas maiores manifestações são absolutamente corrompidas e indignas de confiança, acreditar na capacidade de mobilização fica cada vez mais complicado.
Enquanto com o objetivo de ser campeão do carnaval for normal aceitar dinheiro de milicianos, ditadores e seja lá de quem mais for, como não será normal aceitar os lobbys das empreiteiras para se fazer política? Na medida em que se endividar com os cofres públicos, sem perspectivas de pagamento para montar times campeões for aceitável, como reclamar de trocas de cargo entre os governantes para alcançarem seus objetivos?
A ideia de que “vale tudo” está dentro das mais importantes bases da nossa sociedade. E dificilmente vai ser um diretor de empresa ou um político que passou a vida toda aceitando qualquer meio para vencer que vai mudar isso. O importante não é questionar o título de quem quer que seja. O vital para o futuro do Brasil é mostrar para nos mesmos e para o mundo que Petrobrás e carnaval a parte, Charles de Gaulle estava errado e que somos sim um país muito sério. E se reconhecer os problemas no carnaval for o meio para começar isso, muito obrigado contravenção.


quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Devaneios de Férias

Em uma das coisas mais ridículas e contraditórias dos últimos tempos, o primeiro ministro de Israel aparece em uma propaganda para as eleições como uma babá.  Benjamin Netanyahu convence um casal de que seu Likud é a melhor opção nas eleições para cuidar de seus filhos (que não são árabes, claro). Pior do que alguém que recusa o diálogo com palestinos, e apoia a construção de assentamentos em territórios não israelenses aparecendo como babá, só o trocadilho “Bibisitter”, já que Bibi é um apelido para Benjamin. 
Depois de um minuto de mediocridade no vídeo, resolvemos tirar proveito. E imaginamos como seriam alguns dos líderes mundiais tomando conta de creches.
Bibisitter: Olha que belo castelo de Lego esse palestino fez, seria uma pena se eu mandasse um israelense construir em cima dele...
Barack Obama:
-Vamos brincar de pique pega.
-Não dá, a maioria republicana não quer.
-Vamos lanchar.
-Eles querem dormir.
-Vamos dormir.
-Eles falaram que só se você acabar com o Obama Care.
-Certo, vamos esperar 2016.
Peña Nieto:
-Tio, os traficantes de chiclete fizeram uma milícia e comandam a sala toda. Batem, roubam e cobram uma mesada de cada um.
-Isso é responsabilidade de cada setor da sala. Eu modernizei os vídeo games. Investi na infraestrutura do parquinho...
-Mas tio, os próprios chefes dos setores recebem comissões dos traficantes.
-Infelizmente fico de mãos atadas...
-Já me cansei!
-Eu, como presidente da creche, declaro que o problema está resolvido: hora da soneca.
Rei Salman:
-Majestade, tem uma menina que só reclama, fala uns absurdos sobre direitos.
-O que o Abdullah faria?
-De 50 a 100 chibatadas, dependia do humor dele.
-Mas e a comunidade internacional? Não reclamam das nossas leis?
-Reclamar reclamam. Mas sanção é só para o Irã. Somos fundamentalistas democráticos e chamaram o Abdullah até de progressista quando ele morreu.
-Ocidentais...
Al-Sisi:
 -Tio quero biscoito.
-Você é da Irmandade Muçulmana?
-Não.
-Planejou algum golpe contra o governo nos últimos quatro anos?
-Não, só quero um biscoito.
-Alguém da sua família é da Irmandade Muçulmana?
-Não.
-Certo, mas a mesada dos EUA atrasou e não tem biscoito.
Nicolás Maduro:
-Eu, assim como Chávez e Bolívar, amo vocês crianças. Bastaram 20 fraldas e vocês não ficam reclamando de falta de papel higiênico como os adultos. Ingratos.
-Tio, a gente tá com fome.
-Isso é o que o imperialismo quer que vocês pensem. A fome é uma invenção ianque para tentar desestabilizar a paz na nossa próspera Venezuela.
-Mas tio, todo mundo tá chorando de fome.
-Ok, vamos no Mc Donald’s.
Vladmir Putin: Como assim não tem leite, biscoito e brinquedos? Vocês não estão satisfeitos? Então vejam o que essa amiga vodka não faz... (Ele fez isso http://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,russia-baixa-o-preco-da-vodca-enquanto-sobe-o-de-produtos-basicos,1628427 )
Na Chechênia: Como assim não tem leite, biscoito e brinquedos? Vocês não estão satisfeitos? Então vejam o que esse amigo sarin não faz...
Kristina Kischner: A brincadeira hoje é Detetive.
Alberto, você resolveu muito rápido esse caso. Seria uma pena se acontecesse um acidente...
Dilma Rousseff: 19:00 Lula diz que ela é incapaz de cuidar sozinha de uma criança.
19:30 Gracinha Foster e Cerveró chegam para ajudar.
19:31 Aterrorizada, a criança não para de chorar.
21:00 Apagão. Com medo do escuro e com as imagens na cabeça, o choro é insuportável.
21:30 O choro para após um discurso de Dilma sobre a crise hídrica e desperdício.
21:35 Com a pressão por conta do desvio de biscoitos, Gracinha pede as contas.
22:00 Dilma vê que a tarefa é mais difícil do que parecia e resolve criar o Ministério do Cuidado com a Criança. Inspirada na nomeação de Kátia Abreu para a Agricultura, Nardoni assume o cargo.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

#YoSoyLatino

Não tem como ver as imagens dos assassinatos com AK-47 em Paris e não sentir que uma parte da humanidade também morreu em cada tiro. A questão é: como foi comentado sobre as atrocidades na Nigéria nas últimas semanas, não devemos jogar as barbáries que não são filmadas para segundo plano. Iguala, como brilhantemente trouxe a última edição da Piauí, demonstrou que o ser humano sempre pode se superar quando o quesito é aterrorizar a vida alheia.
Iguala não só mostrou o quão cruel pode ser a humanidade, como mostrou que enquanto os olhos do mundo, incluindo os de boa parte da América Latina, estão voltados para execuções que parecem brigar pelo Oscar de melhor produção, o continente que abriga 9% da população mundial, tem 30% dos homicídios de todo o mundo. Enquanto o Estado Islâmico coloca um menino de aproximadamente 10 anos para realizar suas execuções e aparecer o máximo possível, o México é sede do Zetas, o grupo que ostenta a marca de mais decapitações no planeta.
Pouco antes dos ataques ao Charlie, eu conversava com uma senhora simpática e educada que me confessou: “Eu tenho medo do terrorismo islâmico.” Eu respondi: “Eu também tenho, acho que os grupos estão ficando cada vez mais violentos, mas tenho mais medo do que tá acontecendo na América Latina.”“ Como assim?” “O que aconteceu no México, o que acontece sempre no Brasil, a quantidade de gente que ouvimos que morreu por conta do tráfico de drogas.” Falei algumas estatísticas, e ela parece ter entendido a questão. Mas ainda acho que depois do Charlie ela deve estar com problemas para dormir.
A Al Qaeda busca os alvos em que o terror causado por seus ataques será o maior possível. O Estado Islâmico utiliza dos maiores requintes de crueldade possíveis em suas execuções que são reproduzidas no mundo todo. Em Iguala, os narcotraficantes incineraram por horas os corpos (o processo começou com alguns estudantes ainda vivos) na tentativa de esconder ao máximo as atrocidades.
A guerra do terror jihadista é por propaganda. A da América Latina é contra o narcotráfico. A questão levantada em Iguala é: quem luta de qual lado? Quando um prefeito ordena um massacre, movimentando a polícia, o tráfico local, a mídia, fica bem mais difícil entender os lados do conflito. Quando o Capitão Nascimento mostra em Tropa de Elite 2 que o inimigo é quem deveria estar protegendo a população, e que milicianos podem ser até piores que traficantes, fica evidente que nossa luta é mais complicada do que a contra jihadistas ensandecidos.
Isso por que até agora só foi falado sobre os dois países mais ricos em que o problema é latente. Em Honduras (maior taxa de homicídios do mundo), El Salvador, Belize, Nicarágua, são comuns casos em que os conflitos pelo comando do tráfico são mais relevantes para a população do que o governo central. Fica até complicado de chamar de narcoestado, já que o "narco" é mais relevante que o próprio estado.
Enquanto Peña Nieto foi eleito no México pelas propostas apresentadas para modernizações econômicas, as eleições na Colômbia se basearam mais na relação do futuro governo com as FARC do que nas políticas públicas que viriam a ser adotadas por quem fosse eleito. Santos venceu as eleições e aparece nos noticiários internacionais apenas por conta das complicadas negociações com o grupo. Pelo menos não fez como o mexicano que vêm aparecendo por conta de escândalos.
Talvez as propostas liberais para as drogas se mostrem um grande equivoco com o passar dos anos. O fato é que Mujica, FHC e outros líderes menos influentes ao trazerem o tema à tona, fazem um enorme favor a todo o continente. Após o procurador encarregado de responder sobre Iguala declarar: “ya me cansé” sobre a série de dúvidas sobre o caso, os mexicanos passaram a usar a expressão, mas no sentido em que realmente é válido: “ya me cansé” da matança generalizada que ocorre embaixo dos nossos narizes, “ya me cansé” de não saber se devo confiar mais em um traficante ou em uma autoridade. Só depois de protestos dessa grandeza que os maiores afetados ganharam voz e o tema ganhou a devida importância.
Em 2015, teremos reunião da Organização dos Estados Americanos (OEA), com a histórica participação de Cuba após o fim do embargo. A oportunidade de discutir de verdade os problemas do continente se aproxima, resta saber se o discurso vai ficar em uma série de propostas vagas, sem efeito prático mais uma vez, e se Iguala se tornará apenas estatística.
Eu, como todo defensor da democracia liberal, senti que perdemos muito no 7 de janeiro. Mas diferente do que muitos enxergam, acho que perdemos todos os dias quando democracias passam a ser comandadas pelo narcotráfico e matam ferozmente os jovens latinos, sem câmeras ou grandes produções.  #JeSuisCharlie , mas antes, sou apenas um rapaz latino americano.

domingo, 4 de janeiro de 2015

Promessas de Ano Novo

É só chegar o final do ano pra duas coisas se proliferarem na mesma velocidade: resoluções para o próximo ano e piadas sobre as resoluções para o próximo ano. Todos já fizeram ou pelo menos ouviram os mais mirabolantes planos sobre dietas, academia, beber menos, trabalhar mais e tudo aquilo que dura menos que a queima de fogos logo que janeiro se inicia.
Apesar de realmente se tratar de algo engraçado, minha intenção aqui fica bem longe do humor. O que me preocupa não são amigos com alguns quilos a mais, um pouco menos fortes ou bebendo mais do que gostariam. O que eu quero tratar é de uma promessa que se arrasta pelo ano inteiro, e que enquanto ficar só como resolução para o próximo ano, vai inundar países, alterar completamente o clima global, e se é assim que as coisas causam impacto: pode obrigar todos a racionar o banho depois da academia.
Avanços? Tivemos. Posso escrever este texto tranquilamente, apoiar boa parte das propostas do PV, ser fã do Al Gore, sem ser chamado de “ecochato”. Mas obviamente, como vemos na Cantareira, é pouco. Alguns estudos apontam que se iniciados hoje, projetos fariam com que o Brasil zerasse o desmatamento até 2025. No entanto é fim de ano, mudança no governo, podemos deixar pra começar no ano que vem mais uma vez. No lugar de mudanças, é só eleger um dos principais nomes da bancada ruralista para cuidar do nosso meio ambiente. Kátia Abreu, estamos com você!
Enquanto as ideias que mandarem nos países desenvolvidos forem as de conservadores que acreditam que tudo é absolutamente reversível mediante investimentos; e nos países em desenvolvimento as de progressistas de que se os ricos poluíram tanto, não temos que nos preocupar, realmente Kátias Abreus e Cantareiras não serão exceções. Ouço desde que consigo distinguir as palavras que o tempo está acabando e que só uma mudança radical pode nos salvar. E como para mim o Capitão Planeta é tão real quanto as preocupações ambientais de nossa nova ministra, realmente chegou a hora de agir sem deixar para o próximo ano.
Enquanto o discurso dos defensores do meio ambiente estiver pautado em reduções surreais de consumo que nos levariam aos patamares da Idade Média, e em ideias como a adoção imediata de uma dieta global baseada em insetos; no lugar de discussões como a proibição do financiamento privado de campanha por empresas com interesses contrários aos do bem estar geral, e a adoção de energias limpas, nossas chances de reverter os problemas serão iguais as de um frequentador de academia por três dias reverter seu peso.
Enquanto desenvolvimento sustentável for uma série de propostas vagas de algumas candidaturas e não uma pauta necessária a todos os governos; enquanto ecologicamente correto não for sinônimo de politicamente correto; enquanto não enxergamos a cotidiana falta d’água como resultado da destruição da longínqua Amazônia, vai continuar muito difícil desejar um feliz ano novo de verdade.
Mas vamos lá, vou encarnar Augusto Cury por algumas linhas: não deixe suas resoluções para depois, faça logo que puder. Largue tudo àquilo que não lhe faz bem, não importa o quanto isso pode ir contra o interesse dos outros. Não trace objetivos que pareçam impossíveis, separe-os em parte menores e aprecie o resultado em longo prazo. Estes são os votos da equipe do Vale do Paraibuna Connection a todos os governos, leitores e amigos. Um feliz 2015.

Obs: Não sei quais efeitos no clima tem a Ecobier, mas meu bolso vem agradecendo essa cerveja que não é ruim, e é Eco.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

O fim da Guerra Fria?

As duas Grandes Guerras arrasaram a Europa. As dividas da primeira são discutidas até hoje. Os reflexos da segunda são sentidos em praticamente todas as áreas, desde a política até a economia. Isso todos já sabemos. Mas e o que a guerra teoricamente fria que se arrastou pelo século XX causou?
Essa sim foi a mais mundial de todas as guerras travadas pela humanidade até hoje. Todas as regiões do globo sofreram com as invasões, financiamentos, envio direto de armas e tudo o que sabemos que os Estados Unidos e a URSS fizeram durante o período. O reflexo foram as ditaduras militares na América do Sul, as guerras civis na central, os sanguinários regimes como o de Pol Pot no sudeste da Ásia, dentre outras muitas guerras e regimes totalitários.
Enquanto isso, até 1962 Estados Unidos e URSS se preocupavam mais em assustar uns aos outros do que com guerras e fome em seu próprio território. Até uma crise dos misseis fazer com que os dois financiadores de um conflito global realmente sentissem os efeitos do que eles vinham criando.
Mas passada a crise, outro problema começou assolar americanos e soviéticos. As invasões tanto no Afeganistão quanto no Vietnã começaram a não matar apenas afegãos e “vietcongues” já que compatriotas voltavam em caixões destas guerras que boa parte da nação não entendia o porquê de serem travadas.
Nos Estados Unidos isso levou a uma série de apelos populares pelo fim da invasão no Vietnã. Na URSS que não era tão adepta de apelos populares, o fim das invasões foi por conta do colapso do regime. O desfecho disso já é conhecido: 1989 cai o Muro de Berlim, 1991 tem fim a União Soviética. Mas o que muita gente não sabe é que, por exemplo, em Angola a desastrosa guerra civil iniciada no período, durou até 2004.
E no Afeganistão, um dos países mais promissores da Ásia na década de 70? Os financiados pelos EUA para lutar contra a URSS deram inicio a um dos governos mais radicais do final do século XX, além da Al Qaeda, o 11 de setembro, a invasão do país que dura até hoje e que começou com a intenção de tirar do poder aqueles que foram armados durante a Guerra Fria. Este é só talvez o exemplo mais caótico e irônico dos reflexos do período. Camboja, Vietnã, Nicarágua dentre outros países não se recuperaram das guerras causadas pela disputa entre as duas potências até hoje.
Apesar dos problemas, a tendência é de esperança. Hoje teve sim um ponto final em um desastroso legado da Guerra Fria: o fim do embargo dos EUA a Cuba. Como ficou bem claro, ainda é muito pouco pra declarar o fim do conflito, mas é algo importante. Outros avanços são os da nossa Comissão Nacional da Verdade com o objetivo de expor os horrores do período. Vamos pouco a pouco derrubando os Muros de Berlim que as duas potências deixaram.