quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

O amor na hora errada

Lembro bem, afinal de contas não faz tanto tempo assim, daqueles semideuses que vêm se despedindo dos gramados há alguns anos, ainda em ação. Zidane, Del Piero, Seedorf, Gattuso, Nedved, Davids, Makelélé, Giggs, e tantos outros que faziam aqueles dias regados a play 1 e Danoninho ainda mais especiais.  Dias que só não chegavam a serem tão encantadores quanto os dias de Champions League na TV. A oportunidade de realmente assistir ao Roberto Carlos do ataque, enfrentando o Del Piero mestre das faltas era algo especial. Mas não é de nenhum destes gênios que vou falar neste texto, e sim de outro amor, que aparecia no plano de fundo.
Quem me conhece sabe da minha relação de amor com a Heineken. Alguns amigos já me disseram que não é verdadeira, que ela só está interessada no dinheiro. Bobagem. Alguém nutrir paixão por uma cerveja é belo e justo, o problema é quando essa relação vem de tempos quando alguém não deveria ter grandes contatos com bebidas alcóolicas, cigarros e outros produtos que não são permitidos á menores de idade por razões também justas.
Uma criança pode querer um tênis ou uma bola simplesmente por seus jogadores preferidos fazerem propaganda destes. Quem dirá os tempos do começo do texto, quando os produtos “total 90” eram tão disputados quanto as figurinhas em época de Copa. Eu nunca tive os produtos da Nike, mas lembro do tormento que alguns dos meus amigos causavam até as mães comprarem a tal bola que normalmente era isolada depois de duas semanas. Acho que sou menos susceptível aos apelos comerciais, talvez pelo meu ódio prematuro ao imperialismo, mas não totalmente livre, tanto que resolvi escrever este meu humilde relato.
Quando me perguntam: “Kibe, você realmente gosta do gosto da cerveja?”, minha resposta normalmente é: “Sim, bastante.”. Acredito que pela família que tenho, e principalmente por gostar bastante de cerveja, eu viria a ser um grande consumidor de qualquer maneira. O ponto é: quando eu escolhi pela primeira vez tomar uma Heineken, e senti um gosto bem mais amargo do que já havia experimentado nas outras, era só uma opção de bebida, ou tinha toda a vinculação de uma marca global associada aos meus heróis de infância?
Infelizmente eu acho que a segunda resposta tem uma influência muito maior do que deveria. O impacto que vários jogos, intervalos comerciais e outros meios, nos quais a Heineken era vinculada aos meus jogadores preferidos, teve uma atuação em um amor que poderia até acontecer naturalmente, mas foi iniciado em anos que apesar de concepções, equilíbrio familiar, no fim das contas pra uma criança ainda são seus heróis, e do lado deles uma cerveja.
O meu foco na Heineken é por motivo absolutamente pessoal, claro. Tudo comigo aconteceu exatamente desse jeito, mas óbvio que Ambev, Marlboro, Budweiser (que veio na Copa com o comercial mais legal que já vi), e todas outras empresas que vinculam publicidade em meios de apelo infantil, também são representadas. Não acho que o que a Heineken faz é tão errado, afinal de contas não há legislação especifica sobre isso, e o espaço poderia ter sido comprado por grupos com interesses piores. O amor continua, só guardo magoas pelo Twitter da Heineken Brasil não me seguir.
Acho que discutir apenas a publicidade especifica pra crianças é um equivoco, já que o público infantil não vê apenas aquilo que é feito pra eles. No meu caso, o efeito foi criado, e hoje vivo uma relação de amor que não sei se começou na idade certa. O mesmo poderia ter acontecido com a Feiticeira, meu amor platônico dos seis anos de idade. Infelizmente não aconteceu, então termino com um lado positivo, o agradecimento dos meus pulmões á Rogério Ceni por nunca ter feito propaganda de cigarros.


quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Um Conto de Fadas

Pra felicidade dos meus pais, nunca fui um grande fã dos filmes com princesas. Acredito que nunca simpatizar muito com aquelas verdadeiras mulheres de vida fácil, me motivou a pesquisar algumas coisas e resolver compartilha-las. Só pra contextualizar, Isabel dos Santos, a “Princesa da África”, filha do presidente de Angola e mulher mais rica do continente, fez uma oferta para comprar ações, e consequentemente tomar conta, da Portugal Telecom (a oferta é de cerca de 3,8 bilhões de reais, e o negócio uma coisa bem complicada que envolve até a brasileira Oi).
Até ai tudo normal, afinal de contas empresárias adquirem empresas todos os dias. A questão começa a se complicar quando uma lista simples de líderes há mais tempo no poder é verificada. Depois da morte de Kadafi em 2011, o pai da nossa princesinha adquiriu o posto com folgas e completa em 2014, 35 anos no poder. Normal, ou não para os fãs da democracia, que parece não ser algo muito valorizado por uma série de líderes no continente.
Esse tempo no poder, quer dizer que o presidente que recebeu treinamento militar ainda na URSS, enfrentou a queda do regime soviético, e uma consequente debandada de seu país para o capitalismo. José Eduardo Santos, em uma posição ideológica que no Brasil se assemelha bastante a do PMDB, abraçou de uma maneira convincente o regime econômico, e fez a transição sem grandes problemas, principalmente para sua família.
A questão é que Angola não assumiu muito bem a transição, o país entrou em uma guerra civil que durou até 2004, e apesar de aproveitar o alto ritmo de crescimento econômico do continente, ainda tem cerca de 70% da população vivendo com menos de US$2 por dia. Liberdade de expressão é outro ponto alto do regime de Santos, e o jornalista Rafael Marques, que escreveu o livro Filhinha de Papai: Como uma ‘Princesa Africana’ Acumulou $3 Bilhões em um País que Vive com $2 por Dia” foi preso em 1999 por críticas ao regime.
Até agora Isabela poderia ser um exemplo de sucesso em meio a um país devastado, e como tão ressaltado por ela, sucesso sem grandes influências de seu pai. A questão foi a abertura pro capitalismo que eu me referi. Pegando como exemplo a Rússia, as demandas da população foram passadas a uma série de “camaradas” do governo, e a exploração de recursos naturais, telefonia, e tudo o que o novo país precisa foi distribuído, e levou Moscou a ser a cidade no mundo com o maior número de bilionários.
Segundo os jornalistas que ainda estão soltos no país, e analistas de fortunas, o império de Isabela foi construído a partir das influências que ela tem para empresas estrangeiras abrirem licitações em Angola. Ou por meio de concessões do próprio pai, para esta ser acionária das empresas abertas. Grande exemplo foi a Endiama, criada pelo presidente para a exploração de diamantes no país, e de 25% de posse de Isabela. Depois dos olhos do mundo voltados para a pedra, após o filme “Diamante de Sangue”, a mãe da princesa recebeu estas belas ações de presente.
O que parece é que sem meus gostos quanto a princesas ter grande influência, Isabela continuará como a mulher mais rica da África. Vai comprar a Portugal Telecom. Quem tentar provar algo contra ela tem grandes chances de acabar preso. Mas como eu queria que desta vez a princesa não tivesse final feliz.

domingo, 26 de outubro de 2014

Ele Merece

Vou fazer algo, que infelizmente estou muito pouco acostumado: um elogio. Digo infelizmente, pois ainda mais em nossos tempos, o número de pessoas dignas de receberem uma homenagem como esta é bastante limitado. Exemplo disso é que o personagem do meu logo foi comparado com o talvez último merecedor de um, e com semelhanças bem questionáveis, José Mujica  foi chamado de “Nelson Mandela da América do Sul”.
Tentei votar no uruguaio, que terá seu sucessor definido hoje, mas as opções continuaram sendo Dilma e Aécio. Não deve ter jeito, e parece que vamos ter que pagar salários ao nosso futuro presidente por mais quatro anos. Além de abrir mão do seu ordenado, Mujica fez questão de ir votar com seu tradicional, e nem tão conservado, Fusca azul. A austeridade quase franciscana do presidente, em meio a um continente no qual há praticamente uma disputa entre países para ver quem tem o melhor avião para seu comandante, chega a comover. No entanto, no mundo em que vivemos, analistas pouco entusiasmados sugerem que os ganhos da economia são poucos, e que colocam enorme pressão em futuros políticos para que não recebam um direito legítimo, seus salários.
Particularmente o momento no poder de Mujica que mais me envolveu foi em uma declaração sobre a Síria. O que parecia um discurso leviano, no qual haveria apenas uma contrariedade à violência, sem nenhuma proposta concreta, tornou-se um apelo emocionante pelos órfãos. O uruguaio ofereceu seu país como destino pras milhares de crianças indefesas e inocentes, e foi praticamente ignorado pela ONU, que provou mais uma vez que a burocracia supera de longe fatores humanitários na instituição. Não acompanhei muitas análises sobre a postura do uruguaio, mas espero que ninguém tenha feito como a ONU e colocado política e burocracia acima de órfãos.
A fama do Uruguai, que chegou a ser eleito em importantes publicações como o país do ano, em 2013, evidentemente se deve a maconha. Em um ato de extrema coragem, Mujica se posicionou em um continente absolutamente conservador, contra o tráfico. Dificilmente os avanços em legislações para questões fundamentais e urgentes, como o uso medicinal da maconha, serão dissociados do uruguaio, que sem sombras de dúvidas, já entrou para a história.
Claramente, o conservadorismo está contra Mujica. Friamente analisada, a regulamentação da maconha no Uruguai tem uma série de equívocos, e não deve permanecer da maneira que está no próximo governo. Os anos de mandato do homem do Fusca azul tiveram vários pontos passíveis de crítica, como por exemplo, a tão prezada educação, que ficou bem longe das melhoras prometidas. A questão é que as vezes não precisamos de apenas análises frias, e Mujica provou isso ao dizer que a FIFA era comandada por "velhos e filhos da puta", em uma das falas de personalidades mais interessastes dos últimos tempos.
Óbvio que a declaração foi amplamente criticada, e o presidente foi questionado inclusive se serviria de exemplo para as crianças. Eu acho que serve, e inclusive serve para mim. E deveria servir para todos os chatos e burocratas. Obrigado Pepe.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Meu primeiro “ismo”

Rei Leão, Era do Gelo, episódio de despedida do Pikachu. Esses e outros momentos me marcaram como uma criança normal nascida nos anos 90. A questão que todos que me conhecem sabem, e quem não, basta ler um pouco do que escrevo, é que nunca fui lá o que se pode chamar de normal. Com oito anos de idade tive um trauma diferente, que me motivou a escrever aqui.
O ano era 2004, eleições americanas. A vitória era dada como certa por muitos a Al Gore, ao lado de Oliver Tsubasa, um dos meus grandes ídolos no momento. A questão é que o resultado não foi o especulado, e como todos sabem, Bush assumiu. Chorei bastante. Depois dos quatro anos do governo de Bush, cheguei a conclusão de que tinha chorado até pouco. Entrei na onda de que as eleições haviam sido manipuladas, tentei entender o sistema eleitoral norte-americano (tento até hoje), mas o fato é que minha tão louvável luta contra o aquecimento global sofria ali um grande baque.
Claro que não desisti. Militei ainda por alguns anos contra o desperdício, a favor dos três R’s( reduzir, reciclar e reutilizar) e por muito tempo acreditei que ao lado do Madin Boo, o aquecimento global era o maior mal existente. Os anos passaram, chegaram outros “ismos”, Karl Marx, declarações de que os problemas ambientais não eram tão problemáticos assim, e o Greenpeace acabou perdendo um grande membro.
A questão é que o “ismo” de defender o meio ambiente no final das contas estava apenas adormecido. Nestas eleições, nas quais não tenho intenções de convencer ninguém a votar em nenhum candidato, já que apesar de algumas concordâncias, não consigo ver em nenhum dos três com reais chances de ganhar, uma verdadeira esperança para o país, surgiu uma simpática figura.
Não ter que ganhar as eleições obviamente influenciou na espontaneidade de Eduardo Jorge, ainda assim as brilhantes participações nos debates, dotadas de um bom humor que só me recordo de ver com Plínio em 2010, fizeram com que eu olhasse de uma maneira diferente para o candidato do PV.
O que começou pelo bom humor acabou revelando-se uma semelhança de ideias impressionante. Com algumas discordâncias normais, o fato de no pouco espaço de tempo Eduardo Jorge ter colocado em pauta a situação da maconha e os malefícios dos discursos extremistas de “direita” e “esquerda” me surpreenderam por retratar ali dois temas que acho imprescindíveis.
Fui bastante cobrado ao longo desses meses uma posição quanto às eleições. Agora tenho uma. Podem dizer que vou votar no Eduardo Jorge pela “zoeira”. Não estarão errados. Pela paz e o amor propostos? Também é válido. Em tempos de uma universidade federal, em curso de humanas, fazer uma divagação freudiana sobre um trauma de infância? Justo. Mas vou resumir todos estes motivos naquele rapaz de oito anos de idade, cheio de esperança de mudar o mundo. A chance de ele acabar com o aquecimento global talvez até fosse maior do que a do Eduardo Jorge de vencer as eleições. Mas não vou trair meu primeiro “ismo”. Vou finalizar com a outra possibilidade de título, não escolhida pelo fato de ser muito clichê, amigos: "Salve Jorge".

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

“Oil save the queen”

A referência não tem como fugir ao hino, mas o foco é na música dos Sex Pistols. O contexto do movimento punk tem inúmeras relações com o que vimos na Escócia nas últimas semanas. A principal, e motivadora das outras, é uma crença da população, especialmente jovem, de que eles não são representados pelo governo.
Principalmente nos últimos 30 anos, a crença é extremamente embasada. O conservadorismo, em baixa na Escócia, tem o poder em Londres, ainda que dentre os 59 deputados originados do país do bom whisky, apenas um tenha uma postura conservadora. Postura essa do atual primeiro ministro, James Cameron, e da mais importante política do Reino Unido no período, Margaret Thatcher.
A insatisfação é absolutamente embasada, especialmente na Europa, aonde recentemente o descontentamento chegou até na Suécia e levou uma preocupante extrema direita a ter representação no poder. O ponto chave, é que assim como muitos no movimento punk, o sentimento de mudanças assumia grandes riscos caso estas acontecessem, e foi o que a expressiva votação do “sim” mostrou.
O risco que uma independência escocesa representava foi extremamente abordado, ainda assim a intenção de mudar mesmo que com um “tiro no escuro”, teve enorme apoio. Em meio a uma Europa em grave crise econômica, pareceu razoável para muitos fundar toda uma estrutura econômica, sem sequer uma moeda definida, e nem saber se teria uma entrada garantida na União Europeia.
O nacionalismo escocês não tem grande apelo, e inclusive ficou bem de fora das discussões no referendo, que focaram, sobretudo em questões políticas e econômicas. Não há grandes semelhanças no movimento escocês com o basco, por exemplo, já que gaitas de fole a parte, a identidade britânica é marcante no país.
Preocupa a ideia de que qualquer mudança é bem vinda em meio a situações adversas, e sem precisar citar as atrocidades do século passado, temos como exemplo as últimas eleições do parlamento europeu nas quais houve uma enorme adesão tanto de extrema esquerda quanto de direita, que coloca ainda mais em risco a estabilidade do bloco. Deixando claro que a autonomia escocesa poderia ser uma grande brecha para extremismos, ainda menos presentes no Reino Unido que em vizinhos como a França.
Uma das grandes apostas dos apoiadores de uma separação é uma teórica autossuficiência petrolífera da Escócia. Reforço “apostas”, já que não havia dados concretos de até quando o combustível duraria, e poderia a Escócia cair no grave exemplo grego em que reservas foram supervalorizadas e a real condição acabou contribuindo para a grave crise no país.
A incerteza quanto a essas reservas foi um dos grandes argumentos dos que eram contra a independência e ilustra bem o quanto era arriscado o plano dos escoceses. No fim das contas o “oil” acabou contribuindo para o lado racional, já que com um plano econômico definido, a Escócia aguarda concessões de Londres para tentar ao menos representar mais os escoceses. Em um Reino Unido com tantos problemas em relação a “God”, especialmente na Irlanda do Norte, vou terminar dizendo que o “oil” salvou a Escócia, o Reino Unido, e a Europa.

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Teoria da relatividade

Tudo é relativo. O sucesso de alguns é determinado muitas vezes pelo quanto a pessoa consegue assimilar este fato. Parece que Obama conseguirá salvar sua imagem em relação à política externa por ter entendido bem a relatividade no mundo. Seu antecessor, Bush filho, deve grande parte do seu insucesso a uma ideia medieval de classificar o mundo entre bem e mal.
E não bastou para Bush classificar mentalmente. Criou o “eixo do mal” e enfraqueceu bastante as relações com aqueles que não se enquadravam nos ideais do republicano. O resultado foi o fracasso no Iraque, que reflete na atual crise, o relativo insucesso no Afeganistão, e uma das piores avaliações de um presidente norte-americano na história.
Os erros causados pela infantilidade de Bush em classificar o mundo em bem e mal, refletiram diretamente nas opressões xiitas do governo iraquiano, e como consequência no sentimento de revolta sunita que levou a criação do ISIS. O grupo surgiu em meio a um Iraque em colapso, no qual a região em melhores condições era o Curdistão, que deteve enorme autonomia do governo de Bagdá.
A revolta ignorada gerou uma das maiores barbaridades do século XXI, não suficientemente retratada por conta das dificuldades envolvendo coberturas jornalísticas, que costumam acabar em sequestros e cenas lamentáveis. Cristãos, curdos e xiitas são também vítimas de atrocidades da mesma intensidade dos jornalistas, ainda que pouco noticiadas.
Sem intervenção nada disso acaba, e quem sabe quais serão os estágios atingidos pelo grupo, que se auto intitulou Estado Islâmico justamente pelas limitações que a sigla ISIS, referência à Síria e Iraque causam. Uma expansão para o Afeganistão é cogitada e segundo alguns, já foi concluída. A questão, e ai que entra a grande diferença de Obama, é que os EUA nunca conseguiram atingir seus objetivos no Oriente Médio sem uma coalizão, a única que vez que o fizeram, foi com o pai de George Bush, na Guerra do Golfo.
Provavelmente a investida na Síria para tirar Assad do poder teria sido mais um desses fracassos, e com a irônica consequência de que o grupo mais cotado para assumir seria justamente o ISIS. Assad é péssimo, atenta contra os direitos humanos, usou armas químicas, mas consegue ser mais estável e confiável do que o ISIS. Obama usou a relatividade, ou o bom senso, e usará Assad enquanto for conveniente, e o Goleiro Bruno Sírio faz justamente o que lhe convém, se mantém no poder a todo custo.
Um dos principais aliados de Obama será o regime xiita do Irã. Neste momento a relatividade do democrata se faz ainda mais presente. Os EUA, ainda que com imensa cautela quanto ao anúncio oficial, irão se unir contra um inimigo comum com um integrante do “eixo do mal” de Bush. O que muitos podem ver como ironia, para mim é mero bom senso.
“O Estado Islâmico não é um estado” e “O Estado Islâmico não é islâmico”, gostei do discurso de Obama. Evidentemente, gostei da coalizão. A grande questão é o que se dará a seguir no imprevisível Oriente Médio, já que há um ano, me faltava capacidade de relativizar, e, portanto eu não via opções muito piores do que Assad. A questão é que mais uma vez tenho de criticar o extremismo, por conta de ouvir frases como: “A Al Qaeda perto do EI é um grupo de escoteiros” ai, ainda mais em um  “11 de setembro”, fica bem complicado de relativizar. 

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Um bom motivo


Acho que enfim eu consegui um bom motivo para gostar tanto de política internacional. Ainda não é definitivo para explicar como alguém consegue se interessar pelas eleições no Afeganistão, mas é um começo. É possível enxergar a geopolítica como um universo infantil extremamente interessante, vou explicar nas próximas linhas.
Começando pela última instância de qualquer problema internacional, a guerra. A guerra não é nada mais do que a “Lei do Mais Forte” que todos nós vivenciamos quando somos menores, na qual qualquer problema é resolvido com força. Logo nos primeiros anos de vida isso se resume a algumas dentadas. Algumas pessoas parecem não entender que dentadas em quem se tem problemas se resume a estes momentos, mas enfim, não vamos perder o foco.
Eu como sempre tive um biótipo que rendia apelidos com “chassi de grilo” e “frango da Sadia”, costumava buscar soluções mais estratégicas do que a briga. Levando isso para o contexto internacional, seria como o México, que nunca teve grande força militar, mas compensou isso com alianças com o valentão Estados Unidos.
O outro extremo é daquele que têm os músculos. Evidentemente ele vai querer usar sua força para resolver seus problemas, e a manifestação mais clara disso é a Rússia atual. No caso do país de Putin, centímetros a mais e um pouco de força física são substituídos pelo segundo maior arsenal bélico do mundo, detalhe. O ponto é que a crise na Ucrânia deixou claro que os argumentos da Rússia são bem semelhantes aos do nosso valentão, que na maioria das vezes não era um cara muito esperto.
Outra analogia que eu acho interessante é a do bem que movimenta todas as relações. No caso da política internacional é o petróleo. Já na infância ele varia, e fica bastante evidente nas figurinhas da Copa (que devem ser derivadas do ouro negro). Para consegui-los vale tudo, e atire a primeira pedra quem nunca trapaceou no bafinho, surrupiou uma figurinha faltante ou invadiu o Iraque em busca dos seus objetivos.
Rivalidades tolas muitas vezes ditam as regras na infância e não é diferente quando adultos estão se relacionando internacionalmente. Perón tinha problemas com o Brasil e não fazia nenhuma questão de negar isso, o que afetou as relações diplomáticas de Argentina e Brasil por muito tempo. Inclusive a ausência da Argentina na Copa de 50 foi por conta do país ter tentado sediar a competição e perdido para seu rival. Muitos devem o veto do Brasil ao Conselho de Segurança da ONU á oposição Argentina, que claramente seria motivada pelo interesse de estar lá ao invés do povo tupiniquim.
Alguns mais exaltados quanto às teses imperialistas podem dizer que o neoliberalismo não é nada mais do que os mais fortes indo até os mais fracos para tomar o dinheiro do lanche. Acho que este argumento se expresso sem grande extremismo tem valor, mas não vou me ater a ele.

E evidentemente posso estar completamente enganado em tudo isso que escrevi. Mas eu queria terminar ressaltando duas coisas: tem muito cara de melão falando de geopolítica. E que bom seria se palestinos, costa marfinenses e tantos outros pudessem simplesmente chegar a suas casas e saber que a mãe ONU vai resolver seus problemas.