domingo, 4 de janeiro de 2015

Promessas de Ano Novo

É só chegar o final do ano pra duas coisas se proliferarem na mesma velocidade: resoluções para o próximo ano e piadas sobre as resoluções para o próximo ano. Todos já fizeram ou pelo menos ouviram os mais mirabolantes planos sobre dietas, academia, beber menos, trabalhar mais e tudo aquilo que dura menos que a queima de fogos logo que janeiro se inicia.
Apesar de realmente se tratar de algo engraçado, minha intenção aqui fica bem longe do humor. O que me preocupa não são amigos com alguns quilos a mais, um pouco menos fortes ou bebendo mais do que gostariam. O que eu quero tratar é de uma promessa que se arrasta pelo ano inteiro, e que enquanto ficar só como resolução para o próximo ano, vai inundar países, alterar completamente o clima global, e se é assim que as coisas causam impacto: pode obrigar todos a racionar o banho depois da academia.
Avanços? Tivemos. Posso escrever este texto tranquilamente, apoiar boa parte das propostas do PV, ser fã do Al Gore, sem ser chamado de “ecochato”. Mas obviamente, como vemos na Cantareira, é pouco. Alguns estudos apontam que se iniciados hoje, projetos fariam com que o Brasil zerasse o desmatamento até 2025. No entanto é fim de ano, mudança no governo, podemos deixar pra começar no ano que vem mais uma vez. No lugar de mudanças, é só eleger um dos principais nomes da bancada ruralista para cuidar do nosso meio ambiente. Kátia Abreu, estamos com você!
Enquanto as ideias que mandarem nos países desenvolvidos forem as de conservadores que acreditam que tudo é absolutamente reversível mediante investimentos; e nos países em desenvolvimento as de progressistas de que se os ricos poluíram tanto, não temos que nos preocupar, realmente Kátias Abreus e Cantareiras não serão exceções. Ouço desde que consigo distinguir as palavras que o tempo está acabando e que só uma mudança radical pode nos salvar. E como para mim o Capitão Planeta é tão real quanto as preocupações ambientais de nossa nova ministra, realmente chegou a hora de agir sem deixar para o próximo ano.
Enquanto o discurso dos defensores do meio ambiente estiver pautado em reduções surreais de consumo que nos levariam aos patamares da Idade Média, e em ideias como a adoção imediata de uma dieta global baseada em insetos; no lugar de discussões como a proibição do financiamento privado de campanha por empresas com interesses contrários aos do bem estar geral, e a adoção de energias limpas, nossas chances de reverter os problemas serão iguais as de um frequentador de academia por três dias reverter seu peso.
Enquanto desenvolvimento sustentável for uma série de propostas vagas de algumas candidaturas e não uma pauta necessária a todos os governos; enquanto ecologicamente correto não for sinônimo de politicamente correto; enquanto não enxergamos a cotidiana falta d’água como resultado da destruição da longínqua Amazônia, vai continuar muito difícil desejar um feliz ano novo de verdade.
Mas vamos lá, vou encarnar Augusto Cury por algumas linhas: não deixe suas resoluções para depois, faça logo que puder. Largue tudo àquilo que não lhe faz bem, não importa o quanto isso pode ir contra o interesse dos outros. Não trace objetivos que pareçam impossíveis, separe-os em parte menores e aprecie o resultado em longo prazo. Estes são os votos da equipe do Vale do Paraibuna Connection a todos os governos, leitores e amigos. Um feliz 2015.

Obs: Não sei quais efeitos no clima tem a Ecobier, mas meu bolso vem agradecendo essa cerveja que não é ruim, e é Eco.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

O fim da Guerra Fria?

As duas Grandes Guerras arrasaram a Europa. As dividas da primeira são discutidas até hoje. Os reflexos da segunda são sentidos em praticamente todas as áreas, desde a política até a economia. Isso todos já sabemos. Mas e o que a guerra teoricamente fria que se arrastou pelo século XX causou?
Essa sim foi a mais mundial de todas as guerras travadas pela humanidade até hoje. Todas as regiões do globo sofreram com as invasões, financiamentos, envio direto de armas e tudo o que sabemos que os Estados Unidos e a URSS fizeram durante o período. O reflexo foram as ditaduras militares na América do Sul, as guerras civis na central, os sanguinários regimes como o de Pol Pot no sudeste da Ásia, dentre outras muitas guerras e regimes totalitários.
Enquanto isso, até 1962 Estados Unidos e URSS se preocupavam mais em assustar uns aos outros do que com guerras e fome em seu próprio território. Até uma crise dos misseis fazer com que os dois financiadores de um conflito global realmente sentissem os efeitos do que eles vinham criando.
Mas passada a crise, outro problema começou assolar americanos e soviéticos. As invasões tanto no Afeganistão quanto no Vietnã começaram a não matar apenas afegãos e “vietcongues” já que compatriotas voltavam em caixões destas guerras que boa parte da nação não entendia o porquê de serem travadas.
Nos Estados Unidos isso levou a uma série de apelos populares pelo fim da invasão no Vietnã. Na URSS que não era tão adepta de apelos populares, o fim das invasões foi por conta do colapso do regime. O desfecho disso já é conhecido: 1989 cai o Muro de Berlim, 1991 tem fim a União Soviética. Mas o que muita gente não sabe é que, por exemplo, em Angola a desastrosa guerra civil iniciada no período, durou até 2004.
E no Afeganistão, um dos países mais promissores da Ásia na década de 70? Os financiados pelos EUA para lutar contra a URSS deram inicio a um dos governos mais radicais do final do século XX, além da Al Qaeda, o 11 de setembro, a invasão do país que dura até hoje e que começou com a intenção de tirar do poder aqueles que foram armados durante a Guerra Fria. Este é só talvez o exemplo mais caótico e irônico dos reflexos do período. Camboja, Vietnã, Nicarágua dentre outros países não se recuperaram das guerras causadas pela disputa entre as duas potências até hoje.
Apesar dos problemas, a tendência é de esperança. Hoje teve sim um ponto final em um desastroso legado da Guerra Fria: o fim do embargo dos EUA a Cuba. Como ficou bem claro, ainda é muito pouco pra declarar o fim do conflito, mas é algo importante. Outros avanços são os da nossa Comissão Nacional da Verdade com o objetivo de expor os horrores do período. Vamos pouco a pouco derrubando os Muros de Berlim que as duas potências deixaram.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

O amor na hora errada

Lembro bem, afinal de contas não faz tanto tempo assim, daqueles semideuses que vêm se despedindo dos gramados há alguns anos, ainda em ação. Zidane, Del Piero, Seedorf, Gattuso, Nedved, Davids, Makelélé, Giggs, e tantos outros que faziam aqueles dias regados a play 1 e Danoninho ainda mais especiais.  Dias que só não chegavam a serem tão encantadores quanto os dias de Champions League na TV. A oportunidade de realmente assistir ao Roberto Carlos do ataque, enfrentando o Del Piero mestre das faltas era algo especial. Mas não é de nenhum destes gênios que vou falar neste texto, e sim de outro amor, que aparecia no plano de fundo.
Quem me conhece sabe da minha relação de amor com a Heineken. Alguns amigos já me disseram que não é verdadeira, que ela só está interessada no dinheiro. Bobagem. Alguém nutrir paixão por uma cerveja é belo e justo, o problema é quando essa relação vem de tempos quando alguém não deveria ter grandes contatos com bebidas alcóolicas, cigarros e outros produtos que não são permitidos á menores de idade por razões também justas.
Uma criança pode querer um tênis ou uma bola simplesmente por seus jogadores preferidos fazerem propaganda destes. Quem dirá os tempos do começo do texto, quando os produtos “total 90” eram tão disputados quanto as figurinhas em época de Copa. Eu nunca tive os produtos da Nike, mas lembro do tormento que alguns dos meus amigos causavam até as mães comprarem a tal bola que normalmente era isolada depois de duas semanas. Acho que sou menos susceptível aos apelos comerciais, talvez pelo meu ódio prematuro ao imperialismo, mas não totalmente livre, tanto que resolvi escrever este meu humilde relato.
Quando me perguntam: “Kibe, você realmente gosta do gosto da cerveja?”, minha resposta normalmente é: “Sim, bastante.”. Acredito que pela família que tenho, e principalmente por gostar bastante de cerveja, eu viria a ser um grande consumidor de qualquer maneira. O ponto é: quando eu escolhi pela primeira vez tomar uma Heineken, e senti um gosto bem mais amargo do que já havia experimentado nas outras, era só uma opção de bebida, ou tinha toda a vinculação de uma marca global associada aos meus heróis de infância?
Infelizmente eu acho que a segunda resposta tem uma influência muito maior do que deveria. O impacto que vários jogos, intervalos comerciais e outros meios, nos quais a Heineken era vinculada aos meus jogadores preferidos, teve uma atuação em um amor que poderia até acontecer naturalmente, mas foi iniciado em anos que apesar de concepções, equilíbrio familiar, no fim das contas pra uma criança ainda são seus heróis, e do lado deles uma cerveja.
O meu foco na Heineken é por motivo absolutamente pessoal, claro. Tudo comigo aconteceu exatamente desse jeito, mas óbvio que Ambev, Marlboro, Budweiser (que veio na Copa com o comercial mais legal que já vi), e todas outras empresas que vinculam publicidade em meios de apelo infantil, também são representadas. Não acho que o que a Heineken faz é tão errado, afinal de contas não há legislação especifica sobre isso, e o espaço poderia ter sido comprado por grupos com interesses piores. O amor continua, só guardo magoas pelo Twitter da Heineken Brasil não me seguir.
Acho que discutir apenas a publicidade especifica pra crianças é um equivoco, já que o público infantil não vê apenas aquilo que é feito pra eles. No meu caso, o efeito foi criado, e hoje vivo uma relação de amor que não sei se começou na idade certa. O mesmo poderia ter acontecido com a Feiticeira, meu amor platônico dos seis anos de idade. Infelizmente não aconteceu, então termino com um lado positivo, o agradecimento dos meus pulmões á Rogério Ceni por nunca ter feito propaganda de cigarros.


quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Um Conto de Fadas

Pra felicidade dos meus pais, nunca fui um grande fã dos filmes com princesas. Acredito que nunca simpatizar muito com aquelas verdadeiras mulheres de vida fácil, me motivou a pesquisar algumas coisas e resolver compartilha-las. Só pra contextualizar, Isabel dos Santos, a “Princesa da África”, filha do presidente de Angola e mulher mais rica do continente, fez uma oferta para comprar ações, e consequentemente tomar conta, da Portugal Telecom (a oferta é de cerca de 3,8 bilhões de reais, e o negócio uma coisa bem complicada que envolve até a brasileira Oi).
Até ai tudo normal, afinal de contas empresárias adquirem empresas todos os dias. A questão começa a se complicar quando uma lista simples de líderes há mais tempo no poder é verificada. Depois da morte de Kadafi em 2011, o pai da nossa princesinha adquiriu o posto com folgas e completa em 2014, 35 anos no poder. Normal, ou não para os fãs da democracia, que parece não ser algo muito valorizado por uma série de líderes no continente.
Esse tempo no poder, quer dizer que o presidente que recebeu treinamento militar ainda na URSS, enfrentou a queda do regime soviético, e uma consequente debandada de seu país para o capitalismo. José Eduardo Santos, em uma posição ideológica que no Brasil se assemelha bastante a do PMDB, abraçou de uma maneira convincente o regime econômico, e fez a transição sem grandes problemas, principalmente para sua família.
A questão é que Angola não assumiu muito bem a transição, o país entrou em uma guerra civil que durou até 2004, e apesar de aproveitar o alto ritmo de crescimento econômico do continente, ainda tem cerca de 70% da população vivendo com menos de US$2 por dia. Liberdade de expressão é outro ponto alto do regime de Santos, e o jornalista Rafael Marques, que escreveu o livro Filhinha de Papai: Como uma ‘Princesa Africana’ Acumulou $3 Bilhões em um País que Vive com $2 por Dia” foi preso em 1999 por críticas ao regime.
Até agora Isabela poderia ser um exemplo de sucesso em meio a um país devastado, e como tão ressaltado por ela, sucesso sem grandes influências de seu pai. A questão foi a abertura pro capitalismo que eu me referi. Pegando como exemplo a Rússia, as demandas da população foram passadas a uma série de “camaradas” do governo, e a exploração de recursos naturais, telefonia, e tudo o que o novo país precisa foi distribuído, e levou Moscou a ser a cidade no mundo com o maior número de bilionários.
Segundo os jornalistas que ainda estão soltos no país, e analistas de fortunas, o império de Isabela foi construído a partir das influências que ela tem para empresas estrangeiras abrirem licitações em Angola. Ou por meio de concessões do próprio pai, para esta ser acionária das empresas abertas. Grande exemplo foi a Endiama, criada pelo presidente para a exploração de diamantes no país, e de 25% de posse de Isabela. Depois dos olhos do mundo voltados para a pedra, após o filme “Diamante de Sangue”, a mãe da princesa recebeu estas belas ações de presente.
O que parece é que sem meus gostos quanto a princesas ter grande influência, Isabela continuará como a mulher mais rica da África. Vai comprar a Portugal Telecom. Quem tentar provar algo contra ela tem grandes chances de acabar preso. Mas como eu queria que desta vez a princesa não tivesse final feliz.

domingo, 26 de outubro de 2014

Ele Merece

Vou fazer algo, que infelizmente estou muito pouco acostumado: um elogio. Digo infelizmente, pois ainda mais em nossos tempos, o número de pessoas dignas de receberem uma homenagem como esta é bastante limitado. Exemplo disso é que o personagem do meu logo foi comparado com o talvez último merecedor de um, e com semelhanças bem questionáveis, José Mujica  foi chamado de “Nelson Mandela da América do Sul”.
Tentei votar no uruguaio, que terá seu sucessor definido hoje, mas as opções continuaram sendo Dilma e Aécio. Não deve ter jeito, e parece que vamos ter que pagar salários ao nosso futuro presidente por mais quatro anos. Além de abrir mão do seu ordenado, Mujica fez questão de ir votar com seu tradicional, e nem tão conservado, Fusca azul. A austeridade quase franciscana do presidente, em meio a um continente no qual há praticamente uma disputa entre países para ver quem tem o melhor avião para seu comandante, chega a comover. No entanto, no mundo em que vivemos, analistas pouco entusiasmados sugerem que os ganhos da economia são poucos, e que colocam enorme pressão em futuros políticos para que não recebam um direito legítimo, seus salários.
Particularmente o momento no poder de Mujica que mais me envolveu foi em uma declaração sobre a Síria. O que parecia um discurso leviano, no qual haveria apenas uma contrariedade à violência, sem nenhuma proposta concreta, tornou-se um apelo emocionante pelos órfãos. O uruguaio ofereceu seu país como destino pras milhares de crianças indefesas e inocentes, e foi praticamente ignorado pela ONU, que provou mais uma vez que a burocracia supera de longe fatores humanitários na instituição. Não acompanhei muitas análises sobre a postura do uruguaio, mas espero que ninguém tenha feito como a ONU e colocado política e burocracia acima de órfãos.
A fama do Uruguai, que chegou a ser eleito em importantes publicações como o país do ano, em 2013, evidentemente se deve a maconha. Em um ato de extrema coragem, Mujica se posicionou em um continente absolutamente conservador, contra o tráfico. Dificilmente os avanços em legislações para questões fundamentais e urgentes, como o uso medicinal da maconha, serão dissociados do uruguaio, que sem sombras de dúvidas, já entrou para a história.
Claramente, o conservadorismo está contra Mujica. Friamente analisada, a regulamentação da maconha no Uruguai tem uma série de equívocos, e não deve permanecer da maneira que está no próximo governo. Os anos de mandato do homem do Fusca azul tiveram vários pontos passíveis de crítica, como por exemplo, a tão prezada educação, que ficou bem longe das melhoras prometidas. A questão é que as vezes não precisamos de apenas análises frias, e Mujica provou isso ao dizer que a FIFA era comandada por "velhos e filhos da puta", em uma das falas de personalidades mais interessastes dos últimos tempos.
Óbvio que a declaração foi amplamente criticada, e o presidente foi questionado inclusive se serviria de exemplo para as crianças. Eu acho que serve, e inclusive serve para mim. E deveria servir para todos os chatos e burocratas. Obrigado Pepe.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Meu primeiro “ismo”

Rei Leão, Era do Gelo, episódio de despedida do Pikachu. Esses e outros momentos me marcaram como uma criança normal nascida nos anos 90. A questão que todos que me conhecem sabem, e quem não, basta ler um pouco do que escrevo, é que nunca fui lá o que se pode chamar de normal. Com oito anos de idade tive um trauma diferente, que me motivou a escrever aqui.
O ano era 2004, eleições americanas. A vitória era dada como certa por muitos a Al Gore, ao lado de Oliver Tsubasa, um dos meus grandes ídolos no momento. A questão é que o resultado não foi o especulado, e como todos sabem, Bush assumiu. Chorei bastante. Depois dos quatro anos do governo de Bush, cheguei a conclusão de que tinha chorado até pouco. Entrei na onda de que as eleições haviam sido manipuladas, tentei entender o sistema eleitoral norte-americano (tento até hoje), mas o fato é que minha tão louvável luta contra o aquecimento global sofria ali um grande baque.
Claro que não desisti. Militei ainda por alguns anos contra o desperdício, a favor dos três R’s( reduzir, reciclar e reutilizar) e por muito tempo acreditei que ao lado do Madin Boo, o aquecimento global era o maior mal existente. Os anos passaram, chegaram outros “ismos”, Karl Marx, declarações de que os problemas ambientais não eram tão problemáticos assim, e o Greenpeace acabou perdendo um grande membro.
A questão é que o “ismo” de defender o meio ambiente no final das contas estava apenas adormecido. Nestas eleições, nas quais não tenho intenções de convencer ninguém a votar em nenhum candidato, já que apesar de algumas concordâncias, não consigo ver em nenhum dos três com reais chances de ganhar, uma verdadeira esperança para o país, surgiu uma simpática figura.
Não ter que ganhar as eleições obviamente influenciou na espontaneidade de Eduardo Jorge, ainda assim as brilhantes participações nos debates, dotadas de um bom humor que só me recordo de ver com Plínio em 2010, fizeram com que eu olhasse de uma maneira diferente para o candidato do PV.
O que começou pelo bom humor acabou revelando-se uma semelhança de ideias impressionante. Com algumas discordâncias normais, o fato de no pouco espaço de tempo Eduardo Jorge ter colocado em pauta a situação da maconha e os malefícios dos discursos extremistas de “direita” e “esquerda” me surpreenderam por retratar ali dois temas que acho imprescindíveis.
Fui bastante cobrado ao longo desses meses uma posição quanto às eleições. Agora tenho uma. Podem dizer que vou votar no Eduardo Jorge pela “zoeira”. Não estarão errados. Pela paz e o amor propostos? Também é válido. Em tempos de uma universidade federal, em curso de humanas, fazer uma divagação freudiana sobre um trauma de infância? Justo. Mas vou resumir todos estes motivos naquele rapaz de oito anos de idade, cheio de esperança de mudar o mundo. A chance de ele acabar com o aquecimento global talvez até fosse maior do que a do Eduardo Jorge de vencer as eleições. Mas não vou trair meu primeiro “ismo”. Vou finalizar com a outra possibilidade de título, não escolhida pelo fato de ser muito clichê, amigos: "Salve Jorge".

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

“Oil save the queen”

A referência não tem como fugir ao hino, mas o foco é na música dos Sex Pistols. O contexto do movimento punk tem inúmeras relações com o que vimos na Escócia nas últimas semanas. A principal, e motivadora das outras, é uma crença da população, especialmente jovem, de que eles não são representados pelo governo.
Principalmente nos últimos 30 anos, a crença é extremamente embasada. O conservadorismo, em baixa na Escócia, tem o poder em Londres, ainda que dentre os 59 deputados originados do país do bom whisky, apenas um tenha uma postura conservadora. Postura essa do atual primeiro ministro, James Cameron, e da mais importante política do Reino Unido no período, Margaret Thatcher.
A insatisfação é absolutamente embasada, especialmente na Europa, aonde recentemente o descontentamento chegou até na Suécia e levou uma preocupante extrema direita a ter representação no poder. O ponto chave, é que assim como muitos no movimento punk, o sentimento de mudanças assumia grandes riscos caso estas acontecessem, e foi o que a expressiva votação do “sim” mostrou.
O risco que uma independência escocesa representava foi extremamente abordado, ainda assim a intenção de mudar mesmo que com um “tiro no escuro”, teve enorme apoio. Em meio a uma Europa em grave crise econômica, pareceu razoável para muitos fundar toda uma estrutura econômica, sem sequer uma moeda definida, e nem saber se teria uma entrada garantida na União Europeia.
O nacionalismo escocês não tem grande apelo, e inclusive ficou bem de fora das discussões no referendo, que focaram, sobretudo em questões políticas e econômicas. Não há grandes semelhanças no movimento escocês com o basco, por exemplo, já que gaitas de fole a parte, a identidade britânica é marcante no país.
Preocupa a ideia de que qualquer mudança é bem vinda em meio a situações adversas, e sem precisar citar as atrocidades do século passado, temos como exemplo as últimas eleições do parlamento europeu nas quais houve uma enorme adesão tanto de extrema esquerda quanto de direita, que coloca ainda mais em risco a estabilidade do bloco. Deixando claro que a autonomia escocesa poderia ser uma grande brecha para extremismos, ainda menos presentes no Reino Unido que em vizinhos como a França.
Uma das grandes apostas dos apoiadores de uma separação é uma teórica autossuficiência petrolífera da Escócia. Reforço “apostas”, já que não havia dados concretos de até quando o combustível duraria, e poderia a Escócia cair no grave exemplo grego em que reservas foram supervalorizadas e a real condição acabou contribuindo para a grave crise no país.
A incerteza quanto a essas reservas foi um dos grandes argumentos dos que eram contra a independência e ilustra bem o quanto era arriscado o plano dos escoceses. No fim das contas o “oil” acabou contribuindo para o lado racional, já que com um plano econômico definido, a Escócia aguarda concessões de Londres para tentar ao menos representar mais os escoceses. Em um Reino Unido com tantos problemas em relação a “God”, especialmente na Irlanda do Norte, vou terminar dizendo que o “oil” salvou a Escócia, o Reino Unido, e a Europa.