Vejo
sintomas na personalidade de Dilma que podem ter ajudado a colocar o Brasil na
profunda crise atual. O motivo é que apesar de discordar em quase tudo da
presidente, vejo grandes semelhanças no modo de agir dela com o meu.
Dilma é
economista formada na Unicamp, graduação famosa no Brasil pelo viés de esquerda
keynesiana. Eu me recuso a acreditar que durante seu primeiro mandato, Dilma
não foi avisada das grandes implicações que a manutenção da política econômica
brasileira em meio a uma projeção de dificuldades no cenário internacional,
faziam com que a continuidade de elevados gastos sociais sem reinvestimento em
infraestrutura pudesse colocar o Brasil onde está. Acredito que a presidente deva
ter ouvido os avisos, agradecido por estes, no entanto dito que havia sido
eleita com as propostas de não cortar benefícios sociais, e que daria a última
palavra, por conta de seu cargo. Deu no que deu.
Se Dilma
fosse uma ministra da Fazenda que tivesse dado os avisos e estes tivessem sido
dispensados pelo presidente, acredito que ela teria simplesmente feito um
ultimato, dizendo que não colocaria seu nome em risco por conta de uma política
que não era aquela com a qual ela concordava. A postura se repetiu na
articulação política, com a enxurrada de ministros que foram demitidos por
Dilma no começo do seu primeiro mandato, o que certamente estremeceu sua relação com a
base aliada que hoje em dia é sua maior inimiga. Sem dúvida, houve aviso.
Dilma
fez seu mandato de 2011 até as eleições de 2014. Com o país em crise e sua
popularidade em baixa, a presidente viu que para manter o poder deveria
começar a compor um governo, e óbvio, não gostou disso. Para uma economista ver
sua política econômica aplicada durante quatro anos levar o país à ruína, e
depois ter que chamar um liberal com uma visão completamente diferente da sua
para dar uma guinada totalmente oposta no país, não é fácil.
O mesmo
vale para a articulação política, que ficou com o vice Michel Temer,
praticamente decretando a soberania do PMDB no poder. A presidente de certa forma terceirizou seu mandato, delegando a economia e a composição do governo a duas visões diferentes da sua e parece que dificilmente vai mudar isso. O resultado é a
apatia de Dilma, que parece simplesmente querer a chegada de janeiro de 2019
logo, com o menor número possível de bobagens ditas em seus discursos, e
finalmente descansar tranquila deixando picuinhas e ofensas de lado. A lista de
interessados pela posição é grande e não quer de forma alguma esperar até as
eleições de 2018.
Em uma
comparação esdrúxula, mas acho que motivada pelo mesmo fim, acredito que Dilma,
assim como eu, detestava trabalho em grupo na escola ou na faculdade. Ela só
devia aceitar duas maneiras para fazer tal: ou escolhia e mandava em tudo,
independente do que qualquer colega falasse, como seu primeiro mandato; ou
simplesmente ficava de lado, sem participar de nada, apenas ouvindo e torcendo
para tudo aquilo acabar logo e enfim ela poder tomar uma cerveja no Sebá, assim
como seu segundo governo. Talvez a parte do Sebá não seja coisa exatamente da
Dilma, mas dá no mesmo.
A
questão é a seguinte: há um governo. Ele é composto por deputados, senadores,
ministros e boa parte das pessoas mais competentes de um país para fazê-lo funcionar da melhor maneira possível. O líder disso tudo deve saber
ouvir e tomar a melhor decisão possível, depois de intensas discussões para
saber qual é esta. Eu quero ser um jornalista, não um político, exatamente por
saber que eu não sei fazer isso. Se cinco anos atrás alguém também tivesse
tomado essa decisão, provavelmente estaríamos bem melhores.