As
Colinas de Golã se localizam no nordeste do que hoje é controlado pelo Estado
de Israel, e é uma das regiões ocupadas pelos israelenses após a vitória na
Guerra dos Seis Dias em 1967. O território passou ao domínio sírio após a criação
de Israel no fim da década de 40 e ficou sobre a tutela destes até a guerra de
67. Assim como no caso dos outros territórios, a ONU diz que é ilegal a
ocupação israelense, e como na situação envolvendo a Península do Sinai,
integrada ao Egito que sofreu intervenção militar dos israelenses após a guerra,
Israel negociou a devolução do território, em troca da aceitação da existência
do estado. No caso egípcio, deu certo e a solução ganhou um Nobel, no sírio,
líderes no poder até hoje, como Netanyahu e os Assad chegaram bem perto de se
entenderem, mas o entrave continua.
O
parlamento israelense votou favorável em 81 uma resolução que determinava o domínio
de Israel sobre as Colinas de Golã, o que foi prontamente rechaçado pela
comunidade internacional. Aos olhos do restante do mundo, a ocupação israelense
dos territórios após 67 é ilegal, e Israel deve buscar uma solução, assim como
ocorreu com os egípcios, para seus problemas na
região. No entanto, a Síria, devastada por uma guerra civil, não vê a questão como uma prioridade, além de haver um senso comum de que atualmente a devolução
do território colocaria ainda mais em risco a segurança da região. Na Síria
lutam três dos maiores inimigos de Israel hoje: Irã, Hezbollah e o Grupo Estado
Islâmico. A anexação de Golã ao território sírio seria uma grande oportunidade
para os três, declaradamente contra Israel, atacarem os israelenses. É de
consenso que a questão seja resolvida após a tragédia síria, menos para
Netanyahu e seu Likud.
Após
escancarar algo que muitos já desconfiavam: que Israel havia atacado o
Hezbollah em território sírio durante a guerra, criando um desgaste com o
regime de Assad, que tem no grupo um de seus maiores aliados, o governo de
Netanyahu realizou um ato visto como uma afronta, a primeira reunião
oficial israelense em Golã desde 1967. Em declarações, Netanyahu indicou
que Israel nunca devolverá o território aos sírios, além de citar um plano de
colonização, assim como em territórios palestinos, que segundo o
primeiro-ministro, já conta com “50 mil judeus e drusos e só vai aumentar”.
Claro
que o caso faz parte da estratégia nacionalista do Likud, que segue construindo
assentamentos ilegais e se isolando da opinião pública internacional. No entanto,
dessa vez, como não poderia deixar de ser, até aliados se manifestaram contra o
israelense. A Liga Árabe, que hoje faz uma oposição bem velada a Israel, já que
tem como um dos principais membros a Arábia Saudita, parceira pontual dos
israelenses, fez uma representação contra o ato. O Egito, desde os anos 80 um
dos principais aliados de Israel, também se pronunciou contrário. E é claro, o
maior parceiro do Estado de Israel, os EUA, ficaram mais uma vez em uma saia
justa, já que apesar de ser contrário ao atual governo sírio, teria enorme
desgaste junto á comunidade internacional apoiando uma ação ilegal do ponto de
vista da ONU. Preferiu a omissão.
Além dos
infinitos inimigos tradicionais dentre os árabes e muçulmanos, hoje Israel tem
um inimigo interno que é muito mais perigoso que boa parte destes: seu próprio
governo. A opinião pública cada vez se volta mais contra Israel, e a União
Europeia, por exemplo, aliada histórica, hoje já acena com movimentos pró-palestinos
como o BDS. Defender o Estado de Israel hoje em boa parte das universidades do
mundo pode ser quase um atestado de suicídio junto à dita intelectualidade,
cada vez mais tomada pelo antissemitismo, refletido de maneira ainda mais forte
na comunidade em geral. Os EUA nunca estiveram tão longe dos israelenses, chegando
ao ponto de Netanyahu ter melhores relações pessoais com Putin do que com
Obama. O governante e seu Likud parecem não ter entendido que as certezas na
região mais complexa do mundo tem prazo de validade, o que foi refletido em sua
insana campanha contra o acordo nuclear com o Irã, que para eles seria um
eterno inimigo norte-americano.
Falando
em Putin, o nacionalismo expansionista é uma das principais características que
ligam Netanyahu ao russo. No entanto, parece que o israelense não tem a
consciência de que não comanda um antigo vasto império que pode agir de acordo
com suas intenções e esquecer a comunidade internacional. Netanyahu lidera um
país que precisou de amplo apoio global na sua fundação, e
principalmente para se sustentar contra os inimigos durante os 67 anos de sua
história. E é fundamental entender isso para continuar existindo.