Tirando
alguns casos extremos de conspiração, como as do nível de que o juiz Sérgio Moro
seria um agente treinado pela CIA servindo aos interesses norte-americanos
para tomar o pré-sal, esta pergunta não deveria ser muito difícil de se responder. Já quando se pensa nos complicados casos de biopirataria e no tráfico
internacional de animais silvestres, realmente a questão fica mais complicada.
Mas, em termos gerais, a Amazônia no território brasileiro, sim, pertence ao
Brasil.
No entanto, o
quanto os brasileiros conhecem da maior floresta do mundo? A excelente reportagem de Simon Romero, correspondente do NYT no Brasil, é uma boa provocação para a
pergunta. Romero traz um grave problema que não pode ser chamado de esquecido,
já que sequer um dia foi abordado de maneira massiva: a pirataria no rio
Amazonas. Os relatos apresentam casos semelhantes aos famosos de pirataria moderna
na Somália, exemplificados no filme indicado ao Oscar, Capitão Philips, com
atuação de Tom Hanks. Por aqui, descaso no “mar de água doce” e
sequestros acontecem em regiões em que é possível ficar dias sem avistar outra
embarcação.
O
principal alvo dos piratas brasileiros são os combustíveis. Além de abastecerem
seus próprios barcos, a mercadoria é traficada para outras atividades ilegais,
como as madeireiras. Em uma das regiões mais pobres do Brasil, os negócios ilícitos
aparecem como alternativas interessantes para diversas pessoas, que veem ali
uma possibilidade de ganhar a vida. No caso da pirataria ainda há mais uma
implicação, já que os bandidos também atacam trabalhadores que tentam levar uma
vida honesta, sobretudo com a pesca. Segundo os relatos de Romero, estas
comunidades vivem em um clima de terror constante com medo dos piratas.
Outra
boa fonte de informação sobre a Amazônia é a coluna “Pé na Praia” da DW, assinada
pelo correspondente do Die Zeit no Brasil, Thomas
Fischermann. O colunista afirma que a Amazônia é seu lugar preferido no país, e
as interessantes histórias sobre as pessoas que vivem de maneira paralela ao restante do Brasil justificam o interesse. Fischermann conta sobre cidadãos isoladas das decisões tomadas em Brasília, alheias aos acontecimentos
no eixo Rio-São Paulo e que compõe um universo fascinante em meio ao “pulmão do
mundo”.
Quando
não se tratam de questões que sofrem por interesses políticos, é inegável o bom
trabalho jornalístico realizado pela rede catarí Al Jazeera. No Brasil, o exercício tem um foco na Amazônia, trazendo
histórias de povoados isolados, dificuldades e principalmente das riquezas da
região. A cobertura política e econômica fica em segundo plano, salvo em casos
extremos como o impeachment de Dilma Rousseff, ou de grande relevância, o que
nos últimos tempos já não vem sendo exceção.
Um dos
grandes destaques nacionais para a cobertura da floresta é a escritora e
jornalista Eliane Brum, que consegue aliar as duas vocações contando histórias
de grandes personagens da Amazônia em verdadeiras obras-primas. A autora vem se
destacando nos últimos tempos ao falar do drama dos afetados pela construção da
usina de Belo Monte, projeto que afetou diversas comunidades no entorno da
bacia do Xingu, fazendo de alguns “refugiados em seu próprio país”, como Eliane
costuma chamar. Muitos, além de mostrarem como suas vidas foram afetadas, relatam até mesmo estar passando fome.
No texto“O ritmo da fome não é o da burocracia” Eliane Brum contou sobre o descompasso
que os ribeirinhos desalojados por Belo Monte sofrem em meios às discussões com
os tecnocratas responsáveis pelo processo. Enquanto os locais não têm as mais
básicas necessidades atendidas, os burocratas dos grandes centros do país se valem de
promessas que não vem sendo cumpridas e que, em tese, seriam a reparação por conta dos danos causados pela usina. Na prática os moradores seguem sofrendo a duras
penas, enquanto Belo Monte deixou de ser assunto nas maiores capitais do Brasil
há certo tempo. As colunas de Eliane são publicadas em sua maioria na versão brasileira do espanhol El País.
Piratas
e refugiados poderiam sim serem problemas distantes do Brasil, mas como estas exceções de bom exercício jornalístico para a Amazônia provam, na verdade são problemas
distantes de um dos Brasis. Já que, enquanto se discute no centro das decisões a crise
política, ética, econômica, a vida no pulmão do mundo segue seu rumo. E para responder a pergunta do texto, nos
últimos tempos, no que se refere a transmitir os anseios da floresta, assim
como seus bons personagens, “os gringos tão levando tudo”.
Boa imagem trazida na matéria de Romero para o NYT. / FOTO: Dado Galdieri (New York Times)
Boa imagem trazida na matéria de Romero para o NYT. / FOTO: Dado Galdieri (New York Times)