O Oriente Médio tem todos seus conflitos e
complicações em meio aos petrodólares que guiam a região. Agora, imagine
conflitos religiosos, governos corruptos, separatismo e grupos terroristas em
um dos países mais pobres do mundo. É o Iêmen, um dos lugares mais afetados e o menos favorecido nesta região tão complexa.
Ouvimos falar muito no famoso “valor notícia” e
até entendemos bem a importância de suprimir algumas informações em detrimento de
outras. Até que um dia você se depara com o maior ataque terrorista do ano, que
mata mais de 130 pessoas e, com raras exceções, como a Al Jazeera, vê que morrer
no Iêmen é menos importante do que as picuinhas políticas em Israel. Isso pra
não levar em conta os noticiários brasileiros que nos informam bastante sobre
os últimos ocorridos no Big Brother.
Os mortos se encontravam em mesquitas xiitas,
vertente islâmica de cerca de 35% da população do país. Uma minoria desta parcela se
organiza em milícias, principalmente no interior, chamadas Houthis. Há algum tempo, o presidente em exercício, Hadi, passou a ser bastante questionado, o que levou as ruas
uma parte da população. O cenário foi perfeito para os Houthis tomarem a
capital Sanaa e Hadi ter de fugir para a segunda principal cidade do país,
Aden.
Nesse clima de instabilidade, fica muito difícil
acreditar plenamente que o ataque às mesquitas foi realmente obra do Estado
Islâmico, como o grupo afirma, e os EUA duvidam. Talvez seja o início de um momento ainda mais
tenso no país, que tem boa parte do território dominado pela Al Qaeda da
Península Arábica, responsável pelo ataque ao Charlie Hebdo. O governo de
Hadi possuía suporte dos EUA para lutar contra o grupo, e foram inclusive ações
americanas desastradas, matando diversos civis, uma das principais motivações para os
protestos.
Outro país que tem grandes interesses nos Houthis
fora do poder é a Arábia Saudita, já que o grupo xiita é financiado pelo Irã, que vive uma guerra fria contra os sauditas por domínio no Oriente Médio. O
antigo presidente do Iêmen, Saleh, teve que fugir para a Arábia Saudita após
forte pressão interna e externa. Estima-se que ele tenha acumulado 20 bilhões
de dólares, em um país com um PIB de 80 bilhões.
Saleh chegou ao poder após o fim da guerra civil no
começo dos anos 90, entre Iêmen do Norte, capitalista, e o Iêmen do Sul, único
país comunista do Oriente Médio. Após a unificação, o país passou a ter sua
capital em Sanaa, no entanto muitos residentes de Aden e de localidades
próximas ainda querem um país separado.
Pronto, isso é um pouco do Iêmen. Complicado para todos,
imprescindível para quem se interessa pelo Oriente Médio, e praticamente esquecido pela
imprensa internacional.