Existem
diversas visões simplistas sobre o continente que mais oferece
possibilidades hoje, possui 54 países, uma infinidade de culturas diferentes e a
população que mais cresce no mundo. É consenso atualmente que quem souber se adequar
melhor a esta região do mundo com tamanho potencial, se dará bem politicamente,
enquanto aquele que só pensar na fome e nos grandes mamíferos terrestres africanos, ficará para trás. A China há anos vem expandindo sua influência na África, seja por meio de parcerias maiores, por exemplo, a África do Sul no
BRICS, ou em investimentos em infraestrutura, como os recentes na Etiópia e no
Quênia. Estes dois, parceiros vitais de um dos governos que nos últimos tempos parece ter melhor
entendido a nova tônica mundial, o de Israel, com seu primeiro-ministro
Netanyahu.
Depois
de mais de 30 anos, um chefe do governo israelense visitou a África
Subsaariana. Mais especificamente, Etiópia, Quênia, Ruanda e Uganda receberam a
visita de Bibi. A visita à Ruanda ganhou uma conotação especial, por ter
reunido Netanyahu e Paul Kagame no memorial do Genocídio de Ruanda, termo
utilizado na matança no país africano, mas cunhado especialmente por conta do
Holocausto sofrido pelos judeus. Em Uganda houve uma aproximação com os
evangélicos, cada vez mais presentes no país, e que tem grande influência da
igreja norte-americana, base central de apoio para o estado judeu. O Quênia foi
uma visita mais pontual, já que os quenianos vêm se destacando economicamente e
são uma potência no Leste do continente, a região visitada por Netanyahu.
Já a
relação com a Etiópia é mais estreita. Cerca de 2% da população de Israel tem
origem etíope, mas muitos destes enfrentam situações delicadas no país, como o
dobro da taxa de desemprego da média geral, e regiões em que os índices
de encarceramento chegam a 40%. A difícil situação levou etíopes no ano passado
a participarem de manifestações, que tiveram destaque especial em Tel Aviv. O
clima político ficou tenso, já que o partido de Netanyahu, Likud, conta
inclusive com um deputado de origem etíope.
Além
disso, Adis Abeba, capital da Etiópia, é sede da União Africana, órgão no qual
Israel foi membro como observador até 2002. Logo após a visita de Netanyahu ao
Leste da África, os etíopes fizeram o pedido para que israelenses voltassem a
fazer parte da organização, que têm, por exemplo, Palestina e Turquia na
situação de observadores. O apoio dos países da África Subsaariana é visto como
vital para Netanyahu, que enfrenta oposição de tradicionais
adversários árabes, e de uma comunidade internacional que isola cada vez mais
Israel, inclusive seus dois principais parceiros, a União Europeia e os EUA.
Em
contrapartida, israelenses têm muito que oferecer a estes países. O Quênia, por
exemplo, foi vítima recente de dois grandes ataques terroristas do grupo Al
Shabab, que atua na Somália, vizinha do país, e tem cada vez mais medidas contra
terroristas como principais pautas de governo. Apesar de não terem sofrido com
estes tipos de ataque, os outros países têm bastante o que se preocupar,
levando em conta que grupos como o Boko Haram e a Al Qaeda do Magreb Islâmico
se proliferaram na África. O know-how
israelense para lidar com o terrorismo, senão o melhor do mundo, um destes, é de
grande utilidade para estes países.
Outro ponto em que Israel se destaca é como um polo tecnológico, e se tratando de
regiões que costumam ter uma infraestrutura defasada, os avanços do país em
áreas como agricultura, sistemas de irrigação e cyber-segurança são de grande interesse. O “produto”
oferecido teve um impacto tão positivo, que segundo o Times of Israel logo após a visita, a Tanzânia anunciou sua intenção
de abrir sua primeira embaixada em Israel, e o chefe de um estado muçulmano no
continente (não divulgado) teria ligado para Netanyahu buscando estabelecer
relações bilaterais entre os dois países, até agora inexistentes.
“Lion
King Bibi”, como foi apelidado o primeiro-ministro israelense na visita, em uma alusão ao
seu apelido e ao Rei Leão, soube se aproximar em um momento delicado para sua imagem de países que desejam o que Israel pode oferecer. Boa tacada do líder israelense, que vai ter que enfrentar uma
verdadeira batalha da opinião internacional contra ele com a chegada dos 50
anos da ocupação israelense em 2017, que já começou (e com gente grande). Fora
as acusações de lavagem de dinheiro, que prometem dificultar suas intenções de
se tornar o homem há mais tempo no cargo máximo de Israel, ultrapassando Ben Gurion, o político mais marcante da história do país.
Netanyahu na Etiópia - "Quem não tem cão, caça com leão" (Kobi Gideon/GPO)
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