quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Meu primeiro “ismo”

Rei Leão, Era do Gelo, episódio de despedida do Pikachu. Esses e outros momentos me marcaram como uma criança normal nascida nos anos 90. A questão que todos que me conhecem sabem, e quem não, basta ler um pouco do que escrevo, é que nunca fui lá o que se pode chamar de normal. Com oito anos de idade tive um trauma diferente, que me motivou a escrever aqui.
O ano era 2004, eleições americanas. A vitória era dada como certa por muitos a Al Gore, ao lado de Oliver Tsubasa, um dos meus grandes ídolos no momento. A questão é que o resultado não foi o especulado, e como todos sabem, Bush assumiu. Chorei bastante. Depois dos quatro anos do governo de Bush, cheguei a conclusão de que tinha chorado até pouco. Entrei na onda de que as eleições haviam sido manipuladas, tentei entender o sistema eleitoral norte-americano (tento até hoje), mas o fato é que minha tão louvável luta contra o aquecimento global sofria ali um grande baque.
Claro que não desisti. Militei ainda por alguns anos contra o desperdício, a favor dos três R’s( reduzir, reciclar e reutilizar) e por muito tempo acreditei que ao lado do Madin Boo, o aquecimento global era o maior mal existente. Os anos passaram, chegaram outros “ismos”, Karl Marx, declarações de que os problemas ambientais não eram tão problemáticos assim, e o Greenpeace acabou perdendo um grande membro.
A questão é que o “ismo” de defender o meio ambiente no final das contas estava apenas adormecido. Nestas eleições, nas quais não tenho intenções de convencer ninguém a votar em nenhum candidato, já que apesar de algumas concordâncias, não consigo ver em nenhum dos três com reais chances de ganhar, uma verdadeira esperança para o país, surgiu uma simpática figura.
Não ter que ganhar as eleições obviamente influenciou na espontaneidade de Eduardo Jorge, ainda assim as brilhantes participações nos debates, dotadas de um bom humor que só me recordo de ver com Plínio em 2010, fizeram com que eu olhasse de uma maneira diferente para o candidato do PV.
O que começou pelo bom humor acabou revelando-se uma semelhança de ideias impressionante. Com algumas discordâncias normais, o fato de no pouco espaço de tempo Eduardo Jorge ter colocado em pauta a situação da maconha e os malefícios dos discursos extremistas de “direita” e “esquerda” me surpreenderam por retratar ali dois temas que acho imprescindíveis.
Fui bastante cobrado ao longo desses meses uma posição quanto às eleições. Agora tenho uma. Podem dizer que vou votar no Eduardo Jorge pela “zoeira”. Não estarão errados. Pela paz e o amor propostos? Também é válido. Em tempos de uma universidade federal, em curso de humanas, fazer uma divagação freudiana sobre um trauma de infância? Justo. Mas vou resumir todos estes motivos naquele rapaz de oito anos de idade, cheio de esperança de mudar o mundo. A chance de ele acabar com o aquecimento global talvez até fosse maior do que a do Eduardo Jorge de vencer as eleições. Mas não vou trair meu primeiro “ismo”. Vou finalizar com a outra possibilidade de título, não escolhida pelo fato de ser muito clichê, amigos: "Salve Jorge".

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

“Oil save the queen”

A referência não tem como fugir ao hino, mas o foco é na música dos Sex Pistols. O contexto do movimento punk tem inúmeras relações com o que vimos na Escócia nas últimas semanas. A principal, e motivadora das outras, é uma crença da população, especialmente jovem, de que eles não são representados pelo governo.
Principalmente nos últimos 30 anos, a crença é extremamente embasada. O conservadorismo, em baixa na Escócia, tem o poder em Londres, ainda que dentre os 59 deputados originados do país do bom whisky, apenas um tenha uma postura conservadora. Postura essa do atual primeiro ministro, James Cameron, e da mais importante política do Reino Unido no período, Margaret Thatcher.
A insatisfação é absolutamente embasada, especialmente na Europa, aonde recentemente o descontentamento chegou até na Suécia e levou uma preocupante extrema direita a ter representação no poder. O ponto chave, é que assim como muitos no movimento punk, o sentimento de mudanças assumia grandes riscos caso estas acontecessem, e foi o que a expressiva votação do “sim” mostrou.
O risco que uma independência escocesa representava foi extremamente abordado, ainda assim a intenção de mudar mesmo que com um “tiro no escuro”, teve enorme apoio. Em meio a uma Europa em grave crise econômica, pareceu razoável para muitos fundar toda uma estrutura econômica, sem sequer uma moeda definida, e nem saber se teria uma entrada garantida na União Europeia.
O nacionalismo escocês não tem grande apelo, e inclusive ficou bem de fora das discussões no referendo, que focaram, sobretudo em questões políticas e econômicas. Não há grandes semelhanças no movimento escocês com o basco, por exemplo, já que gaitas de fole a parte, a identidade britânica é marcante no país.
Preocupa a ideia de que qualquer mudança é bem vinda em meio a situações adversas, e sem precisar citar as atrocidades do século passado, temos como exemplo as últimas eleições do parlamento europeu nas quais houve uma enorme adesão tanto de extrema esquerda quanto de direita, que coloca ainda mais em risco a estabilidade do bloco. Deixando claro que a autonomia escocesa poderia ser uma grande brecha para extremismos, ainda menos presentes no Reino Unido que em vizinhos como a França.
Uma das grandes apostas dos apoiadores de uma separação é uma teórica autossuficiência petrolífera da Escócia. Reforço “apostas”, já que não havia dados concretos de até quando o combustível duraria, e poderia a Escócia cair no grave exemplo grego em que reservas foram supervalorizadas e a real condição acabou contribuindo para a grave crise no país.
A incerteza quanto a essas reservas foi um dos grandes argumentos dos que eram contra a independência e ilustra bem o quanto era arriscado o plano dos escoceses. No fim das contas o “oil” acabou contribuindo para o lado racional, já que com um plano econômico definido, a Escócia aguarda concessões de Londres para tentar ao menos representar mais os escoceses. Em um Reino Unido com tantos problemas em relação a “God”, especialmente na Irlanda do Norte, vou terminar dizendo que o “oil” salvou a Escócia, o Reino Unido, e a Europa.

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Teoria da relatividade

Tudo é relativo. O sucesso de alguns é determinado muitas vezes pelo quanto a pessoa consegue assimilar este fato. Parece que Obama conseguirá salvar sua imagem em relação à política externa por ter entendido bem a relatividade no mundo. Seu antecessor, Bush filho, deve grande parte do seu insucesso a uma ideia medieval de classificar o mundo entre bem e mal.
E não bastou para Bush classificar mentalmente. Criou o “eixo do mal” e enfraqueceu bastante as relações com aqueles que não se enquadravam nos ideais do republicano. O resultado foi o fracasso no Iraque, que reflete na atual crise, o relativo insucesso no Afeganistão, e uma das piores avaliações de um presidente norte-americano na história.
Os erros causados pela infantilidade de Bush em classificar o mundo em bem e mal, refletiram diretamente nas opressões xiitas do governo iraquiano, e como consequência no sentimento de revolta sunita que levou a criação do ISIS. O grupo surgiu em meio a um Iraque em colapso, no qual a região em melhores condições era o Curdistão, que deteve enorme autonomia do governo de Bagdá.
A revolta ignorada gerou uma das maiores barbaridades do século XXI, não suficientemente retratada por conta das dificuldades envolvendo coberturas jornalísticas, que costumam acabar em sequestros e cenas lamentáveis. Cristãos, curdos e xiitas são também vítimas de atrocidades da mesma intensidade dos jornalistas, ainda que pouco noticiadas.
Sem intervenção nada disso acaba, e quem sabe quais serão os estágios atingidos pelo grupo, que se auto intitulou Estado Islâmico justamente pelas limitações que a sigla ISIS, referência à Síria e Iraque causam. Uma expansão para o Afeganistão é cogitada e segundo alguns, já foi concluída. A questão, e ai que entra a grande diferença de Obama, é que os EUA nunca conseguiram atingir seus objetivos no Oriente Médio sem uma coalizão, a única que vez que o fizeram, foi com o pai de George Bush, na Guerra do Golfo.
Provavelmente a investida na Síria para tirar Assad do poder teria sido mais um desses fracassos, e com a irônica consequência de que o grupo mais cotado para assumir seria justamente o ISIS. Assad é péssimo, atenta contra os direitos humanos, usou armas químicas, mas consegue ser mais estável e confiável do que o ISIS. Obama usou a relatividade, ou o bom senso, e usará Assad enquanto for conveniente, e o Goleiro Bruno Sírio faz justamente o que lhe convém, se mantém no poder a todo custo.
Um dos principais aliados de Obama será o regime xiita do Irã. Neste momento a relatividade do democrata se faz ainda mais presente. Os EUA, ainda que com imensa cautela quanto ao anúncio oficial, irão se unir contra um inimigo comum com um integrante do “eixo do mal” de Bush. O que muitos podem ver como ironia, para mim é mero bom senso.
“O Estado Islâmico não é um estado” e “O Estado Islâmico não é islâmico”, gostei do discurso de Obama. Evidentemente, gostei da coalizão. A grande questão é o que se dará a seguir no imprevisível Oriente Médio, já que há um ano, me faltava capacidade de relativizar, e, portanto eu não via opções muito piores do que Assad. A questão é que mais uma vez tenho de criticar o extremismo, por conta de ouvir frases como: “A Al Qaeda perto do EI é um grupo de escoteiros” ai, ainda mais em um  “11 de setembro”, fica bem complicado de relativizar.